10 de julho de 2020 8:17 por Redação
Maria de Fátima de Sá*
À primeira vista, economia e ecologia são antitéticas[1], mas, se olharmos melhor, veremos que o que é antiecológico é também antieconômico. A antítese anterior resulta de que, em nossa sociedade, as opções econômicas são escolhas parciais, setoriais, a curto prazo, enquanto a ecologia envolve uma visão global (Laura CONTI).
A frase destacada acima pode soar palatável hoje. Quando foi lançada, na Itália, em 1977, a primeira edição do livro Che cos’è l’ecologia. Capitale, lavoro e ambiente [No Brasil, a 1ª edição saiu em 1986, recebendo o título Ecologia: capital, trabalho e ambiente], e até muitas décadas após, parecia uma heresia para muitos defensores do desenvolvimento predatório. A autora, conforme informações da Wikipedia, foi “uma antifascista italiana, médica, ambientalista, política socialista, feminista e romancista, considerada uma das figuras de vanguarda do ambientalismo italiano”, que nasceu em 1921 e veio a falecer em 1993.
Nos anos 70, 80 e 90, do século passado, falar em ecologia era coisa de quem não queria o “progresso”. Isto era visto aqui em Maceió, quando ambientalistas se posicionaram contra a instalação, em uma das mais belas praias, em pleno bairro residencial da zona sul da cidade, de uma fábrica que trazia riscos potenciais à população que ali habitava e à comunidade tradicional residente em bairro próximo.
Recorro à esta frase de Laura Conti sempre que o debate se inclina para este modo arcaico de pensar e que voltou a ser tão atual nestes tempos em que a ciência se depara mais uma vez com o criacionismo, a negação do aquecimento global e até o terraplanismo, e que o pensamento Malthusiano voltou ao discurso oficial.
Passadas algumas décadas, legisladore(a)s e gestore(a)s de Alagoas assumiram, em seus discursos, conceitos antes ignorados e restritos ao grupo dos considerados antiprogressistas: ecologia, conservação dos recursos naturais, meio ambiente, sustentabilidade, e tantos outros. Às vezes, os termos são utilizados de forma incorreta, mas, fazem-nos parecer modernos, ainda que, na prática, as belas e encantadoras praias e lagunas, por exemplo, continuem recebendo esgotos que as enfeiam e contaminam, representando uma antítese à proposta de turismo sustentável – importante setor para a economia do Estado.
*É docente aposentada da Ufal. Doutora em Ecologia pela UFSCar.
[1] Antitética: que constitui ou encerra antítese, antagonismo, contrário. (HOUAISS, A. e VILLAR, M.S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009).
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8 Comentários
Parabéns Fátima!! Você é realmente uma grande lutadora das causas ambientais.
Parabéns, Fátima! Você é um exemplo de mulher: inteligente, culta, bem articulada e “antenada” com as causas sociais e ambientais.
Orgulho d’ocê!
Luciana, estamos juntas. Ninguém solta a mão de ninguém, principalmente, nestes tempos. Grata.
Noêmia, esta é uma luta que beneficia a todos e todas, mas a cegueira e o egoísmo têm sido aliados da forma irresponsável com que tem sido tratado o meio ambiente. Temos de nos engajar e lutarmos junto(a)s.
Parabéns pelo excelente texto. ?????
Grata pela leitura. Novas publicações virão, e conto com tua leitura crítica. Abraço
Excelente texto! ??????
O cenário político tá precisando de gente assim que é apropriada do que fala, que tem o discurso e também a prática. Já tem meu voto!
Grata pelas observações. Contamos com o retorno de leitores como vc.