sexta-feira 22 de novembro de 2024

A vida e a arte

5 de março de 2022 11:14 por Mácleim Carneiro

Reprodução

Quando dei os primeiros passos nessa seara da música, que nos enreda para sempre, ele já era um nome conhecido e respeitado no aquário, pelo seu violão e pela trajetória, pois havia estudado com o mestre Turíbio Santos, ensinado no Clam Zimbo Trio e tal…

Depois, alguns anos depois, o reencontrei algumas vezes nos ônibus da Expresso Brasileiro, entre idas e vindas do Rio para São Paulo e vice versa, correndo trecho, como ele costuma dizer, posto que a vida já era a música. Nessas ocasiões, só aumentava a minha admiração e respeito pelo batalhador incansável, filho da terra de Calabar, um nordestino sambista de nome e sobrenome Valmiro Pedro da Costa, conhecido por todos como Ibys Maceioh. Ao completar 70 anos de idade e 48 de carreira, já que está na lida desde 1974, esse artista símbolo da resiliência humana lança o EP “Ibys Maceioh – 70 Anos”, com 5 faixas de sua autoria, em parceria com alguns letristas mais constantes em sua carreira.  

O grande Ibys, como costumo me referir a ele, é um compositor versátil, que trafega por diversos gêneros. Porém, é no samba e no chorinho que a sua verve criativa ganha maior expressão! Tenho a impressão de que isso fica bem claro até pela forma com que ele costuma se trajar, sempre boêmicamente elegante, com um indefectível chapéu de palhinha ou boné estiloso e, quase sempre, de sapatos brancos.

Aliás, com o passar do tempo, ele vai ganhando aquela aura característica dos mestres do samba e ficando cada vez mais parecido com o saudoso Nelson Cavaquinho, sem nenhum resquício de estereótipo, nem mesmo pelo modo como toca seu violão. Se o samba é muitas vezes um gênero que desconhece e omite seus autores, Ibys Maceioh é inconfundível, porque tem identidade própria, sobretudo, com a cultura alagoana.

Discografia

Por todos esses requisitos e pela longevidade da carreira, sua discografia é relativamente pequena. Ibys gravou seu primeiro compacto em 1984, com arranjos do pianista Fernando Mota. De lá até o lançamento do EP ‘Ibys Maceioh – 70 Anos’, só mais dois álbuns foram lançados: em 2000 o álbum ‘Suave’ e em 2002 foi a vez do ‘Cabelo de Milho’. Portanto, para quem tem uma vasta obra composta, em 48 anos de carreira, ter apenas quatro discos é bastante revelador das imensas dificuldades pelas quais passam os artistas que são comprometidos com a pureza de sua arte, sem apelos mercadológicos ou maquiagens enganosas, a serviço de uma modernidade oca. Revela, ainda, como não é nada fácil, para alguns artistas pré-internet, fazer a transição e se amoldarem aos processos produtivos e mercadológicos contemporâneos, como, por exemplo, o streaming e suas conexões. Só recentemente, o grande Ibys falou sobre essa questão: “Aprendi a ter acesso à internet e me aproximar dela, e hoje percebo como isso pode acrescentar no meu trabalho.”

Pois bem, o lançamento de um EP, de alguma maneira, é o resultado dessa aproximação com as novas tendências mercadológicas. Nele, a primeira faixa é o samba ‘Papel de Bala’ (Ibys Maceioh e Renato Fialho), com a participação especial de Wanderley Monteiro. Acho que podemos dizer que se trata de um samba de raiz, embora já não saibamos ao certo o significado desse termo, de tanto que ele tem sido empregado, até como classificação de certos tipos de eleitores. Porém, o fato é que os três elementos básicos, que compõem um verdadeiro samba, estão presentes muitíssimo bem elaborados e construídos, nessa afortunada composição. Na sequência, ‘Malandro Aposentado’ (Ibys Maceioh e Marcos Farias Costa) é quase um samba-de-breque com um pé no chorinho, o que faz dessa mistura indefectível um artifício rítmico muito interessante, além da letra engenhosa e bem-humorada. O tempo todo uma cuíca é executada com maestria, em contrapontos pelo samba inteiro. Aqui, eu gostaria de fazer uma pequena ressalva, pertinente à produção gráfica do EP. É certo que os nomes de todos os músicos, que participam desse trabalho, estão creditados na contracapa. O problema, é que, não especifica o instrumento que cada um deles tocou. Daí, citar apenas a cuíca, por exemplo, sem o nome do músico que lhe deu vida, parece-me estranho e não é justo ao resenhar um álbum de música.

Créditos em Falta

‘Tributo a Pixinguinha’ (Ibys Maceioh e Marcos Farias Costa) não deixa nenhuma dúvida de que temos um chorinho e dos bons! Nele, um clarinete maravilhoso flana docemente pela canção e reforça a impressão de estarmos numa roda de chorinho, num daqueles botecos tradicionais, em qualquer ponto desse país, para não ser exclusivista com o Rio de Janeiro e a Lapa. Novamente, a questão dos créditos me impossibilita fazer jus ao clarinetista em questão, pois são muitos os nomes de músicos na contracapa, alguns até conhecidos por mim, como Zé Barbeiro, Wellington Pinheiro, Everaldo Borges, Antonio Carmo, Carlinhos 7 cordas, Wilbert Fialho, porém, impossível saber em quais faixas tocam e, aos demais, quais são os seus instrumentos. A penúltima faixa é uma bela toada, onde o grande Ibys mostra sua versatilidade criativa, saindo do samba para nos apresentar ‘A Noite’ (Ibys Maceioh e Marília Abduani), bordada pelo acordeon de Thadeu Romano, o único que tem o instrumento relacionado ao nome! Aliás, essa toada nos remete facilmente ao saudoso Dominguinhos, de tantas nuances que o mestre também tinha.

Para finalizar o EP, com a mesma maestria do começo, ‘Choro Desvalido’ (Ibys Maceioh e Mário Mammana) tem uma das introduções e interlúdio mais pungentes e belos do cancioneiro brasileiro! É uma das canções mais conhecidas do grande Ibys Maceioh e, sem dúvida, uma assinatura definitiva para o significado de sua obra. Certamente, o cavaquinho que se destaca nesse elegante choro, deve ser do Wellington Pinheiro, até que me provem o contrário. E, como diz a letra, “A tristeza vem de bonde / O remédio vem a pé”, como que para ratificar esses tempos tão macambúzios de guerras, vírus e intolerância. Pois que o remédio chegue a pé ou de bonde, mas que venha antes tarde do que nunca, em feitio de amor, pois, como prossegue os versos do chorinho, “O amor não é batalha / Com vencido e vencedor.”

SERVIÇO

Ibys Maceioh – 70 Anos, Ibys Maceioh

Pode ser adquirido nas redes socias de Ibys Maceioh

Preço: 20,00

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