8 de março de 2020 10:40 por Thania Valença
O Centro de Maceió já foi glamouroso, com vitrines iluminadas e calçadas bem conservadas. As melhores lojas da cidade estavam localizadas nas ruas centrais. Durante décadas, os cafés foram pontos de encontro das famílias e de intelectuais.
Hoje, quem anda pelas ruas do Centro, a sensação é de contemplar um amplo cemitério de prédios, públicos e privados, todos destruídos. Um cenário de abandono cuja responsabilidade cabe às três instâncias do poder público: a União, o Estado de Alagoas e a Prefeitura de Maceió.
Os cidadãos que transitam ou trabalham no Centro lamentam o descaso e cobram providências. Os comerciantes e lojistas, obrigados a conviver com a degradação, perdendo cada vez mais com redução dos consumidores que se afastam pela insegurança, pela sujeira, anseiam pela revitalização da área.
Prédios do governo federal
Dezenas de prédios públicos e privados estão abandonados, alguns em ruínas, no Centro de Maceió. Três deles, todos de propriedade do governo federal, estão na Praça dos Palmares, uma das mais tradicionais da capital.
O edifício onde antes funcionou o extinto INPS, depois o INAMPS, é o maior, tem 13 andares, três elevadores. Antes de ser abandonados havia abrigado a Superintendência do IBGE e da sede da Agência Brasileira de Informação (ABIN).
Há mais dois edifícios na mesma praça, ambos construídos nos anos 1940, do século XX, e que durante décadas sediaram os extintos Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC) e Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE). Estes também estão abandonados, sendo inclusive depredados.
Na Rua Joaquim Távora, esquina com o Beco São José, a antiga sede do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passa pelo mesmo processo de abandono, estando hoje com todas as dependências internas destruídas.
O edifício onde funcionou o Tribunal de Contas da União (TCU), na praia do Sobral, também foi abandonado. Do projeto do renomado arquiteto brasileiro João da Gama Filgueiras Lima, resta apenas a estrutura metálica. A ironia neste caso de abandono do patrimônio público é que, enquanto órgão federal que tem a finalidade de zelar pelas contas públicas, o TCU vê sua antiga sede em Maceió ser completamente destruída.
A cultura e a história abandonadas
Já houve um tempo em que todas as redações de jornais e rádios funcionavam no Centro, onde também estava um polo de cultura e educação, integrado à paisagem constituída pela Academia Alagoana de Letras (AAL), na Praça Deodoro; o Instituto Histórico e Geográfico (IHGAL), na Ladeira do Brito; o Tribunal do Júri, onde antes funcionou o Lyceu Alagoano, na Rua do Livramento, e a Faculdade de Direito de Alagoas, cujas lembranças remetem ainda à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na Praça Montepio dos Artistas.
As principais praças da cidade ou pelos menos três delas, praças Deodoro, dos Martírios e Dom Pedro II, estão no Centro. É no Centro que está o mais significativo conjunto de obras modernas projetadas pelo arquiteto italiano Luiz Luccarini (1842-1907), na primeira década do século XX: o Teatro Deodoro (1910), o Tribunal de Justiça (1912), o Palácio do Governo (1902) e a Intendência Municipal (1910).
A Intendência Municipal, um edifício projetado pelo famoso arquiteto italiano Luiz Luccarini, prédio localizado na Praça dos Martírios, foi restaurado na administração da prefeita Kátia Born. Já o prefeito Cícero Almeida, manteve por pouco tempo o gabinete do prefeito na Intendência Municipal. Almeida optou por transferir o gabinete para o bairro de Jaraguá.
No belo prédio da Intendência passou a funcionar a Secretaria Municipal de Assistência Social (SEAS). Quando a SEAS se mudou, o prédio ficou abandonado e logo foi invadido. Todas as suas instalações internas e externas foram depredadas com o furto de portas, janelas e outros materiais, restando somente o portão central.
Na Praça dos Martírios e seu entorno estão prédio públicos conhecidos da população. Num deles funcionaram as secretarias de Segurança Pública, Gabinete do Vice-Governador e de Comunicação. A vizinhança tem mais duas edificações que estão em ruínas.
Naquela área está o prédio onde funcionou o Instituto de Educação, construído na década de 1940 pelo governador Osman Loureiro. O imóvel sediou posteriormente o Colégio Estadual e depois a Secretaria Estadual de Educação.
Na gestão do então secretário Adriano Soares, a sede da SEE foi transferida para o Centro de Ensino e Pesquisas Aplicadas (CEPA). O motivo anunciado seria a realização de uma reforma no prédio. Com a mudança o prédio foi abandonado, passando a servir como ponto de convivência de dependentes químicos, e depósito de lixo, em pleno Centro de Maceió.
O fato é que as referências históricas, arquitetônicas e paisagística de Maceió estão sendo encobertas pela sujeira, pelo abandono, depredação, fruto do descaso com o patrimônio público que atinge frontalmente a memória da cidade.
3 Comentários
É lamentável que em Maceió o nosso patrimônio arquitetônico seja tão largado, prédios belíssimos, monumentos históricos tudo se perdendo, sem cuidado, toda uma história se perdendo… Muito triste!
É de cortar o coração… Mas, de novo, aponto o dedo para nós mesmos, uma sociedade egoísta individualista, desalmada. Indiferente a sua metade largada na indigência, a seu patrimônio arquitetônico e a seus recursos naturais – vide poluição do mar e das lagoas.
Maria José, a nossa cidade vem sendo desconstruída. O Centro de Maceió é um caso de calamidade, é criminoso o que vem sendo feito em nossa cidade.