12 de agosto de 2022 2:47 por Mácleim Carneiro
Resisto aos reclames da mídia para os dias comemorativos de apelos sentimentais, que só se concretizam, de fato, por meio da prenda. O Dia dos Pais é um deles. Aliás, resisto, mas acabo caindo na arapuca e fazendo igualzinho a todo mundo. É claro que eu sempre tive um ótimo motivo para ficar vulnerável aos tais apelos, para o segundo domingo de agosto. E era por causa dele que, desde que me dei conta da minha frágil autossuficiência, eu desfrutava a possibilidade de, ano após ano, ter o privilégio da dialética criada pela dúvida e seu conceito antagônico.
A batalha era desencadeada dias antes do dia D, e sempre acabava com a derrota do raciocínio pragmático para o apelo comércio-sentimental, desembocando sistematicamente na seguinte questão: o que comprar de presente para o meu pai? A dificuldade não residia apenas na escolha do objeto. Tudo começava quando eu dava o pontapé inicial, no que parecia ser um processo investigatório, e tentava saber da minha mãe e da minha irmã o que é que ele gostaria de receber de presente. Elas nunca sabiam! Isso me deixava perplexo e ainda mais confuso, pois não sei de onde tirei a idéia de que elas tinham que saber disso.
Fiel da Balança
Talvez, por sorte ou ironia, não sou pai biológico. Portanto, tenho uma visão unilateral dessa data. Partindo do ponto de vista de ser apenas filho, clichês tipo: “para mim, dia dos pais são todos os dias”, faziam sentido e reforçavam a minha rejeição à questão comercial, que explora o sentimentalismo sugerido nessas efemérides. O jogo do toma-lá-dá-cá, imposto pelo consumismo, transforma datas como estas em focos mercadológicos que, ao menos, de quebra, proporcionam dividendos afetivos, os quais sempre foram suficientes para determinar o fiel da balança para mim.
Do ponto de vista do pai homenageado, pela ótica da experiência, não sou a pessoa mais indicada para arriscar qualquer comentário. Porém, pela intromissão do palpite, imagino que deve ser um bom momento para refletir sobre a dádiva recebida, se merecida ou não. Embora nossa estrutura social, apesar das mudanças, ainda tenha bases sólidas no patriarcado bíblico, se eu fosse pai, me perceberia apenas como um apêndice, com toda ou nenhuma complexidade que resume tal conceito.
Compreensão do Óbvio
E antes que a revolta paterna caia sobre mim, quero deixar bem claro que um apêndice, embora apêndice, é de importância fundamental e não secundária, como citam os dicionários. Um apêndice atua como facilitador e auxiliar das possibilidades, é acréscimo e instrumento que podemos contar com ele todas às vezes que necessário for, atua como gancho forte o suficiente para suportar e cumprir sua missão e, numa visão mecânico-sociológica, uma vez externo, é apoio e ponto de orientação.
Quem nunca se viu diante de uma xícara fumegante e percebeu o quanto é fundamental contar com a asa? Portanto, resumo minha reflexão na compreensão do óbvio: fui um sujeito de sorte! Tive um Pai que possibilitou o conteúdo ser sorvido pela importância do que, apenas aos olhos, aparentava ser exterior. Já são 5 anos sem a sua presença física, portanto, partilho este sentimento com todos que, assim como eu, tiveram ou têm a felicidade de ter o porquê para comemorar esse dia.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!!
1 Comentário
Um olhar distante, próximo e amoroso ao mesmo tempo confere ao texto uma visão singular do amor paterno.