19 de dezembro de 2022 6:03 por Mácleim Carneiro
Do meu ponto de vista, dar título a uma nova canção é uma das tarefas mais complicadas no exercício de compor. E olhe que a letra de uma música, normalmente, não ultrapassa uma lauda. Imagine então dar título a um livro, com centenas de páginas. Por isso, quando vi ‘A Elegância do Ouriço’, achei esse título fantástico, completamente inusitado e instigante à leitura do conteúdo sugerido por ele. Depois, vi que a primeira edição desse livro, no Brasil, foi em 2008 e de lá pra cá já teve 26 reimpressões. Isso, também é um detalhe que me atrai, quando decido comprar livros de autores até então desconhecidos por mim.
No caso específico, Muriel Barbery é uma escritora que nasceu no Marrocos, tem 53 anos, formou-se pela École Supérieur, em Paris, e lecionava filosofia na Normandia. Antes desse belíssimo livro, seu romance de estreia foi ‘A Morte do Gourmet’, lançado em 2000. Porém, foi ‘A Elegância do Ouriço’ que já vendeu mais de 6 milhões de exemplares. Ela tem um terceiro, também publicado pela Companhia das Letras, em 2015, que se chama ‘A Vida dos Elfos’, para quem, assim como eu, tiver interesse em ler a sua obra.
As Vozes da Voz
Dito isso, pegue o coração de Paris, como pano de fundo, e feche o foco num luxuoso edifício residencial de gente rica e tradicional. Sintetize o foco ainda um pouco mais, sobre alguns moradores desse prédio, sobretudo, uma zeladora ranzinza, devota à arte e à literatura, com inquietação intelectual e gosto refinado, que os patrões ricaços jamais imaginariam, de tanto que a ignoram. É a voz dela que se alterna com a de uma jovenzinha rica, moradora de um dos apartamentos do prédio, que planeja o suicídio para o dia do seu aniversário de 13 anos, ao mesmo tempo em que escreve um “diário do movimento do mundo”. São elas que dão voz à narrativa da autora que, por meio delas, demonstra sua aptidão e conhecimentos filosóficos, políticos e culturais, o que torna a leitura de ‘A Elegância do Ouriço’ uma espécie de aprendizado deliciosamente confortável e natural.
Um pouco mais adiante, é apresentado ao leitor um sofisticado e misterioso senhor japonês, que passa a habitar um dos apartamentos do prédio e nos brinda com um tanto da cultura japonesa (a autora atualmente mora no Japão), principalmente gastronômica, provocando uma reviravolta na vida das personagens narradoras, sobretudo, na concierge, que tem um fim inesperado e trágico. Particularmente, gosto quando um livro acaba assim: “É como se as notas de música fizessem uma espécie de parênteses no tempo, de suspensão, um alhures aqui mesmo, um sempre no nunca.”
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!!