10 de março de 2020 10:47 por Geraldo de Majella
José Paulo da Silva Ferreira, poeta, ex-funcionário público, nasceu em Pão de Açúcar (AL), no dia 29 de junho de 1962, filho de Otacílio Ferreira e Ubaldina Bezerra da Silva. Estudou sempre em escolas públicas em sua cidade natal e foi lá que iniciou as suas atividades como poeta e publicista, escrevendo poemas e também contribuindo na imprensa sindical com textos políticos, sendo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pão de Açúcar o seu bunker.
Os jornais mimeografados eram produzidos e distribuídos para os estudantes no Colégio São Vicente. No final da década de 1970, tem início a reorganização da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA), em Maceió, mas logo o trabalho foi ampliado para algumas cidades do interior onde havia contatos e estudantes com disposição para participar da luta estudantil. Foi o seu caso.
Como já havia um desejo, mais que um desejo, um trabalho de divulgação poética e político na cidade, principalmente entre os estudantes secundaristas, logo esse contato se materializou por intermédio dos estudantes de Pão de Açúcar que já moravam em Maceió e tinham participação no movimento estudantil. Não demorou muito tempo para que viesse morar em Maceió, numa das tantas residências alugadas por estudantes de Pão de Açúcar.
Descortina-se um novo horizonte na vida do poeta. Participa ativamente do movimento estudantil. Novos contatos são feitos, quando então passa a escrever em jornais de estudantes, tanto secundaristas como universitários, e se transforma num colaborador permanente dessas publicações alternativas.
O movimento estudantil cresce e assume papel cada vez de maior destaque, gerando um ambiente cultural novo para a Maceió da década de 1980 e para Alagoas.
O trabalho intelectual, antes publicado em mimeógrafo, toma um novo rumo, passa a ser editado em off set, uma nova tecnologia. Agora, já não são mais os livros artesanais, mas publicações modernas e em série.
A vida de estudante ficou para trás. Uma nova perspectiva é traçada. Era chegada a vez da poesia em sua plenitude: saraus em bares, encontros estudantis, participação em festivais de música. Em decorrência do seu engajamento é convidado para o seu primeiro trabalho formal, como servidor público, na Fundação Teatro Deodoro (Funted).
As enormes tarefas que se apresentam, como reorganizar e repensar uma instituição quase centenária como o Teatro Deodoro, foram um dos desafios naquele momento da vida cultural alagoana, mas não era evidentemente um trabalho individual em que um jovem poeta e outros tantos artistas e profissionais das artes cênicas se apresentaram como gestores públicos da área cultural, nem o momento concebia o mundo a partir da ótica de militante político, pois mantinha então vínculos com o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
O jornal Boca de Estudante, órgão oficial do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), certamente foi o jornal que mais publicou poemas de Zé Paulo (como ficou conhecido e como assinava, também), mas foi na antologia Oficina de Poesia Opus-5, editada pelo DCE−UFAL, em 1986, que se revelou com maior destaque, ao lado de vários outros poetas, todos envolvidos com o movimento de renovação cultural em Alagoas e que tinham − pelo menos naquele momento histórico, a década de 1980 − o movimento estudantil como propulsor de ações artístico-culturais diferenciadas, recebendo influências do PC do B.
O Oficina de Poesia Opus-5 conta com poemas e textos de Cláudio Manoel, Deyves, Edvaldo Damião, Jorge Barbosa, José Duarte, Zé Paulo e Sidney Wanderley, numa edição com 76 páginas, pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal).
Os seus poemas vão sendo publicados sempre em antologias ou ainda nos jornais do DCE e dos Centros Acadêmicos. Em 1987, a Secretaria de Cultura de Alagoas, pela sua editora, a Ediculte, lança a Coletânea Caeté do Poema Alagoano, com a colaboração de 43 poetas, entre eles, Zé Paulo.
A Fundação Cultural Cidade de Maceió (FCCM) seleciona centenas de poemas de dezenas de poetas alagoanos ou que em Alagoas vivem, e publica a Antologia dos Poetas Alagoanos. Mais uma vez poemas da autoria de Zé Paulo são publicados. Mas um fato persiste: o poeta não tem um livro autoral que reúna os seus poemas. Permaneceu por alguns anos em movimento pela cidade de Maceió, recitando nos bares, nos logradouros públicos, nos salões, nas manifestações estudantis e políticas.
O poeta, certo dia, encontra uma musa e se muda de mala e bagagem, em 1988, para Curitiba (PR), onde permanece até 1991. Continua publicando os seus trabalhos em obras coletivas; uma dessas foi o programa da coreografia Brasil, um país de cores, do Ballet Morozowicz. Expõe ainda no Sesc e no espaço Cultural da Caixa Econômica Federal (CEF), tendo participação ativa na Feira do Poeta.
Hoje o poeta José Paulo vive em Pão de Açúcar, à beira do rio São Francisco, olhando todos os dias o curso do rio, conversando com a sua gente, sertaneja como ele, fonte de sua inspiração e razão da sua existência.