sábado 23 de novembro de 2024

Agropecuária avançou sobre um terço da vegetação nativa nos últimos 37 anos

Com imagens de satélite, o MapBiomas também mostra que, em três décadas, a superfície de água no país diminuiu 17%

19 de dezembro de 2022 6:03 por Da Redação

No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) se concentram 56,2% da perda de vegetação nativa no Cerrado nos últimos 20 anos | Vinicius Mendonça/ Ibama
Por Gabriela Moncau, do Brasil de Fato

São 522 anos desde que os colonizadores pisaram nessa terra que se chamaria Brasil. De lá para cá, apenas nos últimos 37 anos, o país perdeu um terço da sua vegetação nativa. A Coleção 7 dos mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil, lançado pelo MapBiomas na última sexta-feira (26), mostra que, entre 1985 e 2021, a área ocupada pela agricultura cresceu 228%.

As imagens de satélite registram que este terço do território nacional, antes ocupado por florestas, savanas e outras formações de vegetação, agora é usado pela agropecuária. De 1985 até o ano passado, a terra coberta por vegetação nativa caiu de 76% para 66%.

O MapBiomas chama a atenção, ainda, para a redução da superfície de água. Nos últimos 30 anos, essa área no Brasil diminuiu em 17,1%. Mais do que serem dois fenômenos simultâneos, o desmatamento e a diminuição das águas se retroalimentam. A seca atinge especialmente o Pantanal, cujas águas dependem da umidade gerada pela evapotranspiração das árvores da Amazônia.

Laerte Ferreira é professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do GT Solos do Mapbiomas. “Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas, principalmente pastagens”, diz ele, “é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa”. De 1985 para cá, as áreas de pastagem avançaram sobre 42,2 milhões de hectares e, de agricultura, sobre 43,6 milhões.

“Os satélites nos ajudam a revelar os desafios de como expandir a agropecuária sem desmatamento, como proteger os recursos hídricos e como ocupações urbanas podem ser mais seguras e menos desiguais”, opina Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas.

Mais do que fotografar a devastação ambiental brasileira, as imagens registram também as áreas em que ela é impedida de acontecer. Na floresta amazônica, por exemplo, é evidente que a porção em que o bioma está preservado é a do corredor de Terras Indígenas (TI) entre o sul do Pará e o norte do Mato Grosso.

De acordo com o MapBiomas, neste mesmo período de 1985 a 2021, a perda de vegetação nativa em territórios indígenas na Amazônia foi de apenas 0,8%. Já nas áreas da região que não tem essa proteção, o desmatamento foi de 21,5%.

Para Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, “esta tendência de rápidas transformações representa grandes desafios para que o país possa se desenvolver e ocupar o território com sustentabilidade e prosperidade”. É preciso, defende Azevedo, compatibilizar a ocupação do solo e a produção rural “com a conservação dos biomas”.

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