10 de março de 2020 3:25 por Geraldo de Majella
As informações a respeito das prisões em Alagoas, entre 1964 e 1985, ainda não estão consolidadas. Os jornais publicaram algumas relações de presos políticos nos primeiros meses de 1964, período em que se realizou o maior contingente de prisioneiros.
Os presos na Cadeia Pública de Maceió passaram por triagens. Muitos dos detidos sob qualquer pretexto ou acusação sem “justificativa” tinham sido vítimas de alcaguetes e foram soltos. Outros responderam a Inquérito Policial Militar [IPM], sobretudo os dirigentes sindicais, trabalhadores rurais, operários, portuários, jornalistas, dirigentes comunistas, estudantes, proprietários rurais, advogados e comerciantes.
Quem era funcionário público e estava preso era demitido, sem possibilidade de defesa. O historiador Dirceu Accioly Lindoso, funcionário do Departamento de Cooperativismo da Secretaria de Agricultura, tomou conhecimento de que havia sido publicada, no Diário Oficial, a sua demissão por ato do governador Luiz Cavalcante.
Em uma das relações divulgadas pelos jornais constam os seguintes nomes:
Alan Rodrigues Brandão, Alcides Correia do Nascimento, Amaro Bezerra Cavalcante, Antônio Pinheiro de Almeida, Antônio Saturnino do Nascimento, Auro Calazans de Albuquerque, Avelino Francisco da Silva, Cícero Martins de Oliveira, Dirceu Accioly Lindoso, Dorival de Araújo Lins, Eliezer Francisco de Lira, Ernande Maia Lopes, Etevaldo Dantas dos Santos, Etiene Pires de Melo, Gerson Ferreira de Souza, Gerson Rolim de Moura, Gilberto Soares Pinto, Jair Braga, Jayme Amorim de Miranda, João Araújo, Jonas Paulino de Oliveira, Jorge Lamenha Lins (Marreco), José Alípio Vieira, José Cabral Irmão, José de Sá Cavalcante, José Gomes da Silva, José Gonçalves de Lima, José Graciano dos Santos, José Lopes da Rocha, José Moura Rocha, José Nunes de Almeida, Josenildo Ferreira, Luiz Gonzaga Alves, Luiz Silva Barros, Manoel Hermógenes Gomes da Silva, Manoel Lisboa Filho, Manoel Moreira da Silva, Maria Augusta Neves de Miranda (Marinete), Mário César Viana de Melo, Mário Correia da Silva, Mário Rodrigues Calheiros, Miguel Bertoldo da Silva, Ogelson Acioly Gama, Pedro Epifânio dos Santos, Petrúcio Lages, Renalvo Siqueira, Roland Bittar Benamor, Rholine Sonde Cavalcanti Silva, Rubens Colaço, Teófilo Alves Lins, Waldomiro Pedro da Silva, Mozart Verçosa Damasceno, José Alde Mata Fonseca, José Simão das Neves, José Albuquerque Rocha, José Pedrosa Irmão e Valter Pedrosa
Os últimos presos, soltos em fevereiro de 1965, oito meses depois do golpe, foram:
O jornalista e secretário-geral do PCB, Jayme Amorim de Miranda, o líder sindical bancário Roland Bittar Benamor, o advogado José Moura Rocha, o historiador Dirceu Accioly Lindoso, o líder sindical e dirigente comunista Rubens Colaço Rodrigues, o funcionário público José Alípio Vieira Pinto e o operário João Moura (Cotó).
Torturado, Rubens Colaço teve unhas arrancadas com alicates
Dos primeiros registros de tortura em Alagoas, entre os presos políticos, o mais conhecido é o do líder sindical Rubens Colaço, torturado fisicamente pela equipe do delegado da Polinter Rubens Quintella. Colaço teve as unhas dos pés e das mãos arrancadas por alicates, foi submetido a sessões de afogamento e à simulação de fuzilamento.
Os golpistas ocuparam as ruas centrais de Maceió. As manifestações de apoio ao golpe haviam acontecido no dia 29 de março, sob a liderança da Igreja Católica, à frente o arcebispo de Maceió, Dom Adelmo Machado. Engrossavam a passeata senhoras católicas e representações da elite política e econômica de Alagoas.
Ao consolidar o golpe, sem que houvesse nenhuma reação, as mesmas forças sociais e econômicas voltaram às ruas, com entusiasmo ainda maior, como publica o jornal “Gazeta de Alagoas” na edição do dia 3 de abril, com a manchete de primeira página: “Maceioense festejou a vitória da Democracia”.
O arcebispo metropolitano Dom Adelmo Machado celebrou uma missa em ação de graças após a passeata que contou com o apoio das entidades representativas da indústria e do comércio e cultural de Alagoas, como o Movimento Democrático Feminino, colégios católicos, Conservatório Brasileiro de Música (secção Alagoas), Patrulha Nacional Cristã, Associação Comercial, Federação das Indústrias e Clube dos Lojistas.
Prisões no pós-64 aconteceram em 1968 na cidade de Água Branca, no povoado de Pariconha (hoje município). Um grupo de militantes da Ação Popular (AP) foi preso quando ainda se achava no processo de estruturação para a formação de quadros destinados à guerrilha rural.
Estavam entre os presos o dirigente nacional da AP e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo Arantes, Gilberto Franco Teixeira, ex-dirigente da UNE-Goiás, Maria Auxiliadora Arantes, Rosa Teixeira e três crianças, André Arantes e Priscila Arantes filhos do casal Aldo e Maria Auxiliadora e Rita Teixeira, do casal Gilberto Franco Teixeira e Rosimary Reis Teixeira. As crianças tinham menos de 5 anos. Priscila completou 3 anos presa na Policlínica da PM de Alagoas, em 1969. Também foram presos os camponeses José Correia, Josué Correia, José Gomes Novaes e José Quintino.
Em Maceió, foi presa a assistente social Maria Lúcia Ferreira, levada para o presídio feminino na cidade de Pilar (AL), onde ficou alguns meses. Ao ser solta, passou a viver na clandestinidade em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e só reapareceu em Alagoas após a anistia, em 1979.
Ex-governador Ronaldo Lessa estava entre os presos
O estudante de engenharia e professor Ronaldo Lessa foi preso em dois momentos, em 1969 e em 1971. Foi processado e absolvido na 7ª auditoria militar em Recife. O presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufal, Jailson Boia Rocha, estudante de engenharia, havia sido preso a primeira vez em 1964. Em 1970, é preso pela segunda vez, afastado do DCE, enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN) e condenado a seis meses de reclusão, pena cumprida na Penitenciária São Leonardo, em Maceió.
Os militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), estudantes, profissionais liberais, parentes e amigos foram presos pelo Exército em 1973, em Maceió. São esses: os irmãos Denis e Breno Jatobá Agra, os irmãos Jeferson e Fernando Barros Costa, Denisson Cerqueira Menezes, Norton de Morais Sarmento, Flávio Lima e Silva, a médica Hélia Mendes e o médico Luiz Nogueira Barros, Maria Helena da Silva, José Mário Cavalcante e Vera Costa.
A Comissão da Memória e Verdade Jayme Miranda conseguiu identificar 156 presos políticos alagoanos ou que residiam em Alagoas, no período entre 1º de abril de 1964 e 15 de abril de 1985, quando toma posse o primeiro presidente civil, José Sarney. É importante que pesquisadores procurem realizar na imprensa alagoana, na 7ª Auditoria Militar e no setor de cartório da Polícia Federal, o número exato e as circunstâncias em que foram presos durante a ditadura civil-militar.
Fontes:
MAJELLA, Geraldo de. Rubens Colaço: Paixão e vida – A trajetória de um líder sindical. Recife, Edições Bagaço, 2010.
TICIANELLI, Ediberto. https://www.historiadealagoas.com.br/o-golpe-militar-de-1o-abril-de-1964-em-alagoas.html
SILVA, Amaro Hélio Leite da. Serra dos Perigosos – Guerrilha e índio no sertão de Alagoas. Maceió, Edufal, 2007.
OLIVEIRA, José Alberto Saldanha de. A Mitologia Estudantil, Uma Abordagem sobre o Movimento Estudantil Alagoano. Maceió, Secretaria de Comunicação Social do Governo de Alagoas/Sergasa, 1994.