19 de dezembro de 2022 4:41 por Da Redação
Por Maria Tereza Pereira
Músico educador, compõe, interpreta, tece arranjos musicais, toca e canta com maestria. 082 conversou com Basílio Seh, formado em História pela UFAL, quarenta anos de experiência profissional, tem atualmente 58 anos de idade. Nasceu no berço musical e afirma que além dos acordes musicais, recebeu da família o apoio e incentivo necessários para seguir com sua vocação.
1. Basílio, qual o seu nome de registro?
Wilson José de Oliveira dos Santos
2. Qual sua cidade de nascimento?
Tacaratu – Pernambuco
3. Você é filho e sobrinho de músicos, como essa influência determinou sua formação profissional?
Sim, sou filho e parente de músicos. Venho de uma família de quatro irmãos músicos, os Basilios: Pedro (saxofonista), José (trombonista e bombardinista, meu pai), Antônio (trompetista e regente da Filarmônica Lira Traipuense por pelo menos quarenta anos), por fim, Manoel (saxofonista, o mais novo dos irmãos). Cresci entre eles vendo-os tocar, interpretando obras autorais assim como de outros compositores: dobrados, frevos, sambas, chorinhos, valsas, etc. Aos sete, oito anos, a música despertou os sentidos vendo-me tocando instrumentos de brinquedo, com quatro ou seis notas, interpretando melodias simples. Como o tio Antônio era muito ocupado, a tarefa de me encaminhar no ofício ficou para o amigo da família, Nelson Souza, grande músico e compositor. Ao completar quatorze anos, realizei o grande sonho de menino, passei a fazer parte da Lira Traipuense tocando trompete. A partir de então, o desenvolvimento musical foi obedecendo o tilintar do tempo tocando e compondo, não somente na filarmônica, mas em orquestra de frevo, de baile, entre outros. Com isso, o processo de amadurecimento para a carreira solo foi surgindo naturalmente.
4. Que alagoanos mais lhe influenciaram em seu processo como músico e compositor?
De certo Djavan foi o primeiro músico a me impressionar, com seus improvisos vocais, sua forma de compor, as melodias, as harmonias. Tudo era muito novo, fiquei com aquele som na cabeça, passei a ouvir com frequência e estudá-lo. Mas quem colocou a tampa na panela foi o mago Hermeto Pascoal. Este definiu música para mim, o som de Hermeto abriu completamente os horizontes, fez-me ver que música não tem fronteiras. Esses dois alagoanos têm farta influência em meu trabalho.
5. Que personalidades musicais e poéticas mais lhe chamavam atenção?
Gosto de muitos poetas, inclusive os novos. Atualmente estou trabalhando um projeto com o Luciano José, poeta de nossa geração, o qual tenho grande apreço por sua obra, seu caráter. Mas, no tocante aos poetas que tiveram influência sobre mim, posso dizer que Drummond, Neruda, Bertolt Brecht, Augusto de Campos têm peso maior.
“… a mulher é um livro místico
e somente a alguns
é que tal graça se consente
é dado lê-la”.
Simplesmente genial, Augusto de Campos.
6. Quais são suas composições musicais de sua autoria? E de outros poetas e compositores antigos e da atualidade você mais se identifica?
Obras minhas: Lá vai o Trem e o Cão Correndo Atrás, Marieta e Eu, Oco do Mundo, Oração do Nada, Zuleide, A Batalha Final. Obras em parcerias: Boi-Coco (parceria com Wilson Miranda e Wagner Accioly), Uma Distância Brutal (parceria com Lutelo Lima), Vazio (parceria com Macleim). Outros autores: Caminho do Mar ao Sertão (Wilson Miranda/Cláudio Pinto), Pontos Azuis (Deyves).
7. Como educador musical, quais projetos mais trazem realizações?
O octeto Metais Alagoanos (trabalho realizado no CEPA, entre 1999 a 2003) e a orquestra Nuno Pimentel (trabalho realizado na cidade de Viçosa, entre 2004 a 2010).
8. De que maneira a educação musical favorece os estudantes, especialmente os das escolas públicas?
A importância da música no ambiente escolar permite ao alunado aliviar as tensões para o entendimento das demais disciplinas. Aliás, não só a música, a arte como um todo. Todavia, o som trabalha diferentemente dos demais seguimentos artísticos, uma vez que o corpo é formado por 70% de água e isso torna a música visceral. Ao ser captado pelos tímpanos, o som viaja até o tálamo e, de lá é distribuído para toda região corporal através da água. Há melodias relaxantes, estimulantes, estressantes, em fim uma variedade de formas sonoras para cada tipo de situação. A música no ambiente escolar ainda anda mal resolvida, a Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008, de obrigatoriedade do ensino de música na escola, hoje encontra-se sem rumo e os gestores sem noção da importância do tripé de sustentação da educação (ciência, filosofia e arte) a tratam como um elemento promocional, dispensável. A educação musical permite o alunado pensar melhor, independentemente de sua participação direta ou indireta. Com o ouvido educado, a mente repousa na consciência permitindo-o desenvolver melhor o aprendizado e sua projeção para a vida.
Colaboração da jornalista Maria Tereza Pereira