3 de abril de 2020 4:43 por Geraldo de Majella
Para Aurélio Buarque, o significado da palavra Vergel é jardim, pomar. A cidade de Maceió tem bairros onde os nomes estão relacionados a natureza e as águas. É o caso do bairro Vergel do Lago, que fica na orla da Lagoa Mundaú. Fora a beleza do seu nome e a vista do espelho d’água da Mundaú que encanta a todos, nada mais no bairro é belo. A pobreza é de cortar coração.
O Vergel do Lago tem 31.518 habitantes (IBGE-2010), e, apenas uma creche pública, a Lindolfo Collor, e três unidades de saúde: a UBS PAM Dique Estrada, USF CAIC Virgem dos Pobres e a Unidade de Referência Roland Simon. A profissão mais antiga e tradicional é a de pescador, para os homens, e marisqueira, para as mulheres.
Entre 2012 e 2016, o Vergel era o sexto bairro mais violento de Maceió. Nesse período, 188 pessoas foram assassinadas ali. A coleta de lixo, um serviço essencial, no Vergel é uma miragem. A demonstração clara são as montanhas de lixo acumulados no canteiro da Avenida Rui Palmeira, a principal da orla lagunar. Não é necessário dizer mais nada. Uma leitura possível é que, para a administração pública, pobreza e lixo têm tudo a ver.
As estruturas do Estado são quase figurativas quando faltam políticas públicas para proteger as pessoas, mas a tristeza é saber que quem chega primeiro no Vergel, como em toda periferia, é a polícia. E nem sempre respeitando os direitos das populações pobres. Em seguida, o rabecão do Instituto Médico Legal (IML) para recolher corpos negros e jovens. Essa tem sido a tragédia cotidiana na periferia de Maceió.
O trabalho que mais se aproxima da população é desenvolvido pelas Organizações Não- Governamentais (Ong’s) e por religiosos. Esses são quem efetivamente estendem as mãos solidárias no dia-dia e, agora, diante da tragédia da pandemia coronavírus, quando a fome ronda, ainda mais, a vida dessa população.
O governo estadual determinou isolamento social como medida mais eficaz para conter a expansão da pandemia. Só que o Estado (leia-se governos estadual e municipal) vai demorar para chegar com comida e gêneros básicos para proteger a população da pandemia, da fome e evitar que as pessoas morram. São desempregados diaristas, ambulantes, carroceiros, que cotidianamente enfrentam dificuldades extremas.
Nesse momento, é a sociedade civil que está se mobilizando e prestando solidariedade, da maneira que é possível. A Comunidade Espírita Nosso Lar* e a ONG Projeto Manda Ver estão mobilizadas, e mobilizando a sociedade local e de outros bairros, distribuindo cestas básicas, um exemplo meritório a ser seguido.
Esta semana, um vídeo mostrando uma fila com milhares de pessoas, homens, mulheres, idosos, jovens e crianças do Vergel, esperando para receber uma cesta básica sem manter a distância mínima necessária a evitar contaminação pelo coronavírus, viralizou na internet. Os críticos de sempre se manifestaram, condenando a aglomeração.
A pergunta é: no isolamento, como conter milhares de pessoas com fome?
A resposta está na força da sociedade civil que emerge, nesse momento, e é percebida com esses e outros os atos de solidariedade e fraternidade.
Todos juntos na luta contra o coronavírus e a fome!
*A Comunidade Espírita Nosso Lar e o Projeto Manda Ver são instituições conhecidas no Vergel pelos trabalhos sociais com as famílias pobres, e em situação de vulnerabilidade.