19 de abril de 2020 3:55 por Marcos Berillo
Trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fizeram um ato, na manhã deste domingo (19), em frente à sede do órgão, para homenagear uma colega morta pela Covid-19 e denunciar a exposição aos riscos devido às condições de trabalho.
Maria da Conceição era do setor de higienização das ambulâncias do Samu, unidade do Farol. Ela faleceu nesse sábado (18), segundo uma colega, “no curto espaço de tempo entre a contaminação, sintomas, internamento e óbito”.
“Mais do que homenagem, ela precisava estar viva para continuar o seu trabalho”, disse a servidora, que ainda fez um desabafo: “Estou indignada, sim! Pois essa colega de trabalho faleceu pela inércia, pela omissão, pelo descaso do governo do Estado para com os profissionais da saúde que se encontram na linha de frente de uma guerra biológica, totalmente desprotegidos, sem EPIs apropriados e suficientes, sem avaliação médica, sem testes para Covid-19”.
De acordo com a profissional, há subnotificação de casos da doença causada pelo novo coronavírus entre trabalhadores da saúde em Alagoas, pois o governo estaria “inclusive escondendo números e alegando que os infectados, por sua vez, não contraíram no serviço e sim fora dele. Porque as medidas adotadas são de acordo com o MS (Ministério da Saúde) e OMS (Organização Mundial da Saúde). Tudo mentira!”, afirmou.
Ela denuncia ainda que os colegas de trabalho estão “à mercê da sorte, numa roleta russa, que não sabe se será a próxima vitima, comprando do seu próprio bolso máscaras para trabalharem”.
“O Samu está de luto, assim como todos os profissionais da saúde continuarão de luto por cada colega que se for nessa guerra biológica, política e desumana. Não queremos aplausos, não queremos homenagens póstumas! Queremos viver, queremos valorização, queremos proteção, queremos respeito e trabalho digno!”, finalizou.
Denúncias
Diante da morte da servidora do Samu, o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Previdência, Seguro Social e Assistência Social (Sindprev/AL) lembrou que já acionou a Justiça Federal, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública do Estado para forçar os gestores e o governador do Estado a fornecerem Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), além de melhores condições de trabalho.
“O Sindprev/AL também já solicitou que fossem feitas testagens permanente nos trabalhadores da saúde que trabalham diretamente com pacientes contaminados. É preciso uma ação efetiva por parte dos gestores da saúde para que possamos evitar mortes como a da companheira Maria da Conceição”, manifestou a entidade, em nota.
Protocolo
No último mês de março, o governo do Estado anunciou que o Samu adotou um novo Protocolo Interno de Atendimento para o coronavírus. As normas teriam início no momento em que a ligação entra no sistema 192, alcançando também o médico regulador e o transporte feito pelas equipes das Unidades de Suporte Básico (USB) ou Unidades de Suporte Avançado (USA), até o encaminhamento do paciente à unidade de saúde em que ele será atendido.
As medidas incluem a higienização de ambulâncias e equipamentos, assim como a entrega de um kit aos servidores contendo macacão descartável impermeável, óculos de proteção ou viseira de proteção facial, luvas de procedimento e a máscara N95.