12 de agosto de 2023 2:08 por Da Redação
Por: Tereza Pereira
Durante o período de 11 a 20 de agosto, Maceió está aberta para a 10ª Bienal Internacional do Livro, a ser realizada no Centro de Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá. O site 082 Notícias conversou com Rafael Alexandre Belo de Albuquerque Pereira, psicólogo com especialização em Psicologia Social, com Mestrado em Educação e Formação em Psicologia Fenomenológica. Durante a entrevista o psicólogo comentou sobre a importância do hábito de leitura e a oportunidade do público para mais uma imersão na Literatura.
Rafael Alexandre Belo, professor e psicólogo, tem pesquisas realizadas nos últimos anos com temas relacionados à História da Educação; Religiosidade Afro-alagoana; Educação Inclusiva; Memória e História, entre outros temas. “A Psicologia se relaciona com tudo o que se refere à expressão do ser humano e isso inclui a criação literária”.
Para Carl Gustav Jung, (1875-1961), psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia analítica – a psicologia pode relacionar-se com o campo da literatura e a força imagística da poesia, que está intrínseca ao domínio da literatura e da estética, é um fenômeno psíquico, que pertence ao domínio da própria psicologia.
O professor e psiquiatra Kalil Duailibi, da Associação Paulista de Medicina, declarou recente que a leitura é uma atividade que oferece estímulos cognitivos. A pessoa que tem o hábito de ler, afirma o Dr. Kalil – estará muito mais protegida de doenças degenerativas, como Alzheimer do que quem não faz esse tipo de exercício.
Entrevista com Rafael Belo:
Professor e Psicólogo, Rafael Alexandre Belo é autor do livro “ESPIRITUALIDADE: DIALÓGICA E EXPERIMENTAL – A Perspectiva da Psicologia Fenomenológica Existencial diante da Espiritualidade Humana. Editado pela Edufal.
082 Notícias – Professor Rafael, como conseguimos identificar que a criação literária está relacionada com a psicologia, a psicologia social, a psicanálise, o inconsciente individual e o inconsciente coletivo?
Rafael Belo – A Psicologia se relaciona com tudo o que se refere à expressão do ser humano. Inclui-se aí toda criação artística, o que comporta também e especificamente a criação literária. A depender da perspectiva psicológica que se parte determinados aspectos dessa relação serão ressaltados. A Psicologia Social, por exemplo, lançará um olhar para a produção literária como um processo social, e, portanto, eminentemente intersubjetivo. Já a Psicanálise terá uma ênfase mais subjetivista, ressaltando aspectos ligados ao inconsciente, seja ele o inconsciente individual, como na Psicanálise de Freud, ou o inconsciente coletivo, como no caso da Psicanálise de Jung. Contudo, existem outras perspectivas importantes, como a perspectiva fenomenológica existencial. Esta irá entender a criação literária como um processo de elaboração de si, com dimensões individuais e coletivas.
082 Notícias – De que modo a literatura inclusiva pode contribuir no desenvolvimento emocional de pessoas com os mais variados tipos de limitações e em suas diversas idades?
Rafael Belo – Considero que a literatura inclusiva seja um tipo de literatura, que afirme a diversidade humana e a aceitação das pessoas em sua totalidade e especificidades. Agora, para uma literatura ser amplamente inclusiva, ela precisa ser necessariamente acessível. Então devemos pensar junto às editoras versões diversas das obras literárias, como versões em Braille e Audi livros.
082 Notícias – De que maneira é possível considerar as manifestações literárias como uma das ferramentas auxiliares para quem produz uma obra e para quem usufrui de sua leitura?
Rafael Belo – A manifestação literária é uma expressão da existência humana. Ela é um recurso hermenêutico, ou seja, de interpretação de si e do mundo. Dessa forma ela não deve ser reduzida a ideia coisificada de “ferramenta auxiliar”. Como arte, a manifestação literária permite para o autor um processo de elaboração de si e do mundo. O interessante é que o talento e esforço de muitos autores permite que o leitor entre em uma relação dialógica com a obra. E através dela, os leitores também podem elaborar sua relação com o mundo.
082 Notícias – Como a literatura e a psicologia social podem contribuir para conscientização dos problemas sociais e combater todas as formas de preconceito na sociedade?
Rafael Belo – Creio que a produção artística deve ter um compromisso ético com a sociedade que queremos criar. Então na medida que as noções, por exemplo, de solidariedade, diversidade e inclusão são incluídas como valores éticos, estamos contribuindo para a formação das pessoas e da sociedade. Contudo, penso também que a literatura pode abordar os temas polêmicos que a sociedade precisa elaborar na atualidade, como o racismo, o etarismo, a homofobia, dentre outros. Acho também que é importante abordar questões políticas ligadas ao exercício da democracia, além de questões relacionadas ao meio ambiente.
082 Notícias – De que maneira os elementos do inconsciente interpsíquico, inconsciente intrapsíquico, inconsciente ancestral e inconsciente folclórico são importantes para a elaboração de conteúdos psíquicos no processo da criação?
Rafael Belo – Não acredito que o conceito de inconsciente seja algo importante nessa discussão, porque coloca as questões sociais de forma muito individualizada e subjetivista. Suas derivações são uma prova de que apesar de importante em dados aspectos, a concepção de inconsciente é impotente para explicar a totalidade e complexidade da expressão humana. A própria ideia de conteúdos psíquicos aponta para um perigoso processo relacionado à ideia de uma subjetividade privatizada.
082 Notícias – Como a tecnologia poderia auxiliar junto com a literatura e psicologia para viabilizar recursos inclusivos na cultura e educação? Quais devem ser as recomendações, que limites são necessários?
Rafael Belo – A tecnologia pode tornar os trabalhos literários mais acessíveis. A acessibilidade precisa da tecnologia para incluir um maior e diversificado número de pessoas. Não vejo problema na tecnologia em si, mas no uso inadequado que se faz dela. Então se a tecnologia for capaz de nos levar para o mundo da literatura, ela estará dando-nos uma significativa contribuição social.
O público em geral, leitores e escritores passarão na 10ª Bienal Internacional do Livro, que acontece em Maceió. Serão mais de 80 mesas de debates nesta Bienal do Livro, 20 palestras, mais de 10 tipos de oficinas de formação, bate-papos com autores, convidados, espetáculos de música, dança e teatro. De 11 a 20 de agosto, autores, escritores e personalidades alagoanas famosas com suas tendências literárias como Jorge de Lima, Arthur Ramos, Nise da Silveira, Graciliano Ramos e Breno Accioly, entre tantos importantes nomes já reconhecidos na Literatura Brasileira, constarão durante esse período, sendo debatidos por especialistas. E novos escritores também lançarão suas obras. Os conteúdos literários e psicológicos estarão presentes, os debatedores e público presente terão a oportunidade de ampliar e trocar conhecimentos.
Sobre a temática inclusiva na literatura, José Ivamilson Silva Barbalho – Professor da Universidade Feral de Alagoas e Diretor da Editora Universidade Federal de Alagoas (Edufal), a Bienal 2023, traz as seguintes obras: Defender a Vida, proteger o planeta e humanizar a sociedade (José Ivamilson Silva Barbalho, org.); Serra dos Perigosos: Guerrilha e Índio no sertão de Alagoas (Amaro Hélio Leite da Silva); Os negros na história de Alagoas (Alfredo Brandão); Notas sobre poder (Luiz Sávio de Almeida); Resistências Lgbtqia+ e Feminismo (Elias Ferreira Veras); Estruturação urbana, mobilidade e atividades Terciárias (Viviane Regina Costa).
O professor Ivamilson Barbalho lembrou ainda, que espera que seja possível retomar importantes trabalhos, a exemplo do ocorrido em 2009, quando houve produção de livros em braile. Foram quinze títulos em diferentes áreas, considerada uma grande produção. O professor Ivamilson informou que foram doados para associações no estado e fora do estado. Estamos aguardando novos projetos nesse sentido – declarou o Diretor da Edufal.
Como afirmou o professor e psicólogo Rafael Alexandre Belo – O interessante é que o talento e esforço de muitos autores permite que o leitor entre em uma relação dialógica com a obra. E através dela, os leitores também podem elaborar sua relação com o mundo.