Desde meados de 2021, quando começamos a publicar a coluna Depois do Play, que ao final de cada ano fazemos um rápido balanço, um tipo de retrospectiva, uma espécie de prestação de contas aos nossos 14 leitores. Portanto, ao findar este ano bastante significativo, no qual tivemos um abjeto atentado à nossa democracia, mas pulamos essa fogueira e voltamos a respirar ares de liberdade e desenvolvimento democrático, social e econômico, onde a produção musical brasileira tomou novo fôlego e nos brindou com alguns álbuns arrebatadores! Não poderíamos deixar de ter o nosso retrovisor particular, para que a Depois do Play, a partir dos rastros dessa caminhada em 2023, continue firme no propósito de olhar adiante, sem perder de vista nossas referências pretéritas.
Por conseguinte, como a nossa publicação é quinzenal e tem a precisão do cocorocó de um galo de terreiro anunciando um novo amanhecer, tivemos 24 resenhas publicadas ao longo de todo esse ano de 2023. Assim, os nossos 14 leitores tiveram a possibilidade de conhecer os lançamentos de artistas e compositores, que são fora da curva e não se encaixam no quadradinho mediocrizante dos canais de TV aberta, bem como no mar de mesmices que assolam o streaming e se reproduzem como gremlins, vendendo aos incautos acríticos água com açúcar, como se fosse licor.
Exceção Para Mim Mesmo
Dessa maneira, a cada mês foram publicadas no mínimo duas resenhas sobre álbuns de artistas locais e de algures. De tal modo que, em janeiro, tivemos os álbuns ‘Bossatômica’, lançado pela banda alagoana Divina Supernova e o álbum instrumental ‘Som Das Cordas’, do violonista alagoano, de Pão de Açúcar, Wilbert Fialho. Fevereiro, continuou numa pegada híbrida, com os álbuns ‘Dinho Nogueira e Zé Barbeiro Ao Vivo em Paris’, um trabalho instrumental do grande violonista alagoano Zé Barbeiro, radicado em São Paulo há bastante tempo, além do belíssimo álbum ‘Alto Grande’, do violeiro e escritor paulista Paulo Freire, em seu mais perfeito amálgama entre o causo e a música.
Passada a folia, em março tivemos uma exceção aberta para mim mesmo. Por isso, transcrevi os escritos do encarte do meu mais recente álbum, ‘H’cordas’, lançado naquele mês. Depois, tivemos o interessantíssimo álbum instrumental ‘Dorsal’, do jovem guitarrista pernambucano Ítalo Sales. Em abril, trouxemos o álbum homônimo ‘Almateia Duo’, criado pelo compositor e pianista carioca Ricardo Duna Sjöstedt e pela cantora e compositora Ana Cecilia Mamede. Apresentamos, também, o guitarrista, compositor, arranjador e autor de livros didáticos Fernando Corrêa, com o seu álbum instrumental e homônimo.
Resiliência
Em maio, ocorreu uma pequena pausa. Feriamos e demos um pulo fora do país e um refresco aos nossos 14 leitores. Porém, durante as quadras juninas, voltamos com a corda toda e foram três publicações na Depois do Play. A primeira, sobre o primeiro álbum de jazz produzido em latitude aquariana, o excelente ‘The Magic Hour’, do já extinto grupo Brasil Modern Jazz Quarteto. Depois, abrimos mais uma exceção, para uma homenagem póstuma ao nosso saudoso e querido Carlos Moura, com o texto ‘Estrela Cor de Areia’, onde dizíamos que, agora, o meu querido amigo tornou-se uma estrela cor de areia! Por fim, fechamos o mês de junho com a resenha sobre o maravilhoso álbum ‘Aluê’, que podemos dizer ser o primeiro disco brasileiro do grande percussionista Airto Moreira.
Seguimos resilientes em nosso propósito, para que em julho apresentássemos o interessantíssimo álbum da banda alagoana Herocoice, que se intitula ‘Trabalho Novo’. Depois, tivemos a banda Mopho, com o seu quarto álbum ‘Brejo’, lançado em 2017. Tivemos ainda o álbum instrumental ‘Cavaquinho Azul’, com a imaginação criativa do músico, compositor e cavaquinista Salomão Miranda. Ultrapassada a metade do ano, o mês dos gostos e desgostos foi pródigo, nas resenhas dos álbuns ‘Zé’, do artista paulistano Zé Eduardo, cheio de alagoanidade em conceitos, arranjos e seis músicos nutridos pela sustança do sururu, e o álbum ‘A Cor do Céu Mudou’, da banda Dharma, um tipo de filho temporão da banda de rock alagoana.
Estímulo Único
Setembro foi o mês no qual passaram por aqui o belíssimo álbum ‘Bossa 65’, cujo subtítulo é Celebrating Carlos Lyra and Roberto Menescal, mais uma pérola do mestre Antonio Adolfo! Também tivemos a resenha sobre cem outras resenhas, que foram escritas por cem outros autores e foram compiladas em um único volume, cujo título é bem específico: ‘1979 – O Ano Que Ressignificou a MPB’. Já na reta final do corrente ano, duas bandas alagoanas preencheram o mês de outubro: o terceiro registro do power trio Necro, com o álbum ‘Adiante’, e o interessantíssimo álbum ‘Frectivo’, da alagoaníssima Xique Baratinho. O mês de novembro foi camarada e nos concedeu tempo e espaço para três resenhas: o álbum ‘UNA – Zéli Silva Convida’, do contrabaixista Zéli Silva, recheado de convidados singulares; o álbum ‘Tesouros’, lançado pela cantora paulista Renata Finotti, e a resenha do álbum homônimo ao show ‘Aqui Alagoas’, do mestre Ibys Maceioh. Finalmente, dezembro chegou e para encerrar com claves de sol, fá e dó, tivemos a resenha sobre o genial álbum ‘Duo + Dois’, comemorativo dos 40 anos de carreira do Duofel.
Na verdade, quero mesmo é agradecer aos que junto comigo fazem a Depois do Play e fortalecem em mim a certeza de que ninguém é nada sozinho! Por isso, quero agradecer à minha tia e revisora Josete Carneiro, à minha companheira Vera Garabini, que sempre faz a primeira leitura das resenhas, ao jornal O Dia, nas pessoas gentis de Iracema Ferro e Deraldo Francisco, aos talentosos artistas e ao Beto Privieiro e Moisés Santana (Tambores Comunicação), que me abastecem de matéria-prima. Porém, e sobretudo, quero agradecer aos nossos 14 leitores, razão maior e estímulo único e necessário para continuarmos nessa labuta. A todos e todas, um próspero e auspicioso ano novo, com muito mais.
MÚSICABOAEMSUASVIDAS!!!