20 de maio de 2020 3:40 por Marcos Berillo
O Partido dos Trabalhadores (PT) realizou no último sábado, 16, a escolha dos pré-candidatos a prefeito nas cidades onde irá disputar, se houver, as eleições municipais de outubro próximo. Por conta da pandemia Covid-19, a votação foi on-line e restrita aos membros dos diretórios municipais.
Com isso, as disputas entre as candidaturas passaram, em alguns casos, a ser controladas pelos dirigentes ou grupo de dirigentes que dominam a máquina partidária.
Porém, em diversas cidades, o inconformismo da militância, que ficou fora do processo de escolha, foi externado através de grupos de whatsapp, nas redes sociais e na mídia tradicional.
Em Maceió, o grupo dirigente majoritário anunciou previamente, no âmbito interno, o resultado da votação e o nome do vencedor. Assim, sem surpresa, deu-se a vitória do presidente estadual do partido, advogado e ex-vereador Ricardo Barbosa, candidato da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma do deputado federal Paulão (PT-AL) e do ex-presidente Lula.
O ex-vereador é o nome que o PT previamente escolheu para apresentar na disputa pela sucessão do prefeito Rui Palmeira, se o calendário eleitoral de 2020 for mantido.
Opção da militância petista, a economista e professora Luciana Caetano, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), apoiada pelas tendências Democracia Socialista, Articulação de Esquerda e o Trabalho, sentiu a manobra. Colocou seu nome na disputa, mas teve apenas 11 votos, num colegiado de 45 integrantes. O candidato da CNB teve 30 votos.
Um resultado que poderia ser diferente em situação normal, ou seja, com a indicação do pré-candidato sendo feita por meio do voto direto dos 4 mil filiados do PT na capital.
O nome de Luciana Caetano tem crescido junto aos formadores de opinião, a militância de esquerda não petista e a intelectualidade alagoana. Os motivos desse crescimento são bem claros: ser um nome novo, sem vícios, ser mulher e apresentar propostas para discutir a crise em que Maceió se encontra e as perspectivas de futuro. Um nome que é visto como mais leve e palatável para ser apresentado à classe média.
Mas não é esse o entendimento dos dirigentes.
Historicamente atrelado ao senador Renan Calheiros (MDB), o comando petista tem movido as pedras no sentido de assegurar esse pacto antigo. Ao indicar o ex-vereador Ricardo Barbosa, os dirigentes da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária, garante que o candidato petista faça um discurso de oposição, mas sem atacar o governo estadual e a Prefeitura Municipal.
O governo, por estar nas mãos do filho do senador Renan, e o município, por estar nas mãos de seu mais novo amigo de infância, o prefeito Rui Palmeira.
As vozes da insatisfação petista com a escolha de Ricardo Barbosa dizem ainda que, a depender das circunstâncias, o ex-vereador maceioense poderá até servir de atacante.
Os Calheiros, que sonham apresentar o bolsonarista Alfredo Gaspar como candidato a prefeito de Maceió, esperam que o PT não apresente uma candidatura fora desse alinhamento.
Mas atender ao acordo com o senador Renan terá uma custo alto para o Partido dos Trabalhadores. O grupo majoritário enfrentará dificuldades para mobilizar a militância mais ativa e vinculada aos movimentos sociais, que apoiaram a candidatura de Luciana Caetano. A economista defende a discussão de uma candidatura que possa unificar o campo da esquerda em Maceió.
Do alto da pré-indicação, o advogado Ricardo Barbosa falou em unificação, e chamou a militância para engajar-se na futura candidatura.
“O desafio agora é unificar o conjunto do partido em torno de um projeto político transformador para a cidade de Maceió, e construção de uma campanha militante em defesa do legado do PT em oposição ao governo Bolsonaro”, disse ele, após o resultado.
No contraponto, sua oponente também se manifestou:
“Obrigada a todos e todas que estiveram comigo nessa caminhada de esperança e desejo de mudanças. O fim de uma batalha não é o fim da guerra!” – pontuou Luciana Caetano.