sexta-feira 22 de novembro de 2024

Gustavo Gomes, um “alagoano em todos os aspectos”

Nascido em São Paulo, mas, morando em Alagoas desde os dois anos de idade, artista celebra mais de 40 anos ininterruptos em atividade
Foto: Divulgação

O cantor e compositor Gustavo Gomes, registrado como José Gustavo Gomes Santos, nasceu em São Paulo, em 17 de junho de 1969. No entanto, aos dois anos de idade, mudou-se para Maceió com a família. Portanto, como costuma afirmar, é “alagoano em todos os aspectos. Dos melhores aos piores.” É ator formado pela ETA (Escola Técnica de Artes) e licenciado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A música tornou-se uma companhia constante desde a infância, aos dez anos de idade. As lembranças afetivas da infância remetem ao ambiente familiar, onde “se comemorava a existência de uma radiola e de alguns LPs ou compactos simples ou duplos. Escutava-se muita música.”

É o filho caçula de uma família de cinco irmãos. Ironicamente, diz que “todos os meus irmãos são inteligentes e bem-sucedidos nas perspectivas cabíveis de uma família negra no Brasil. O único músico sou eu.” Gustavo Gomes, conversando, deixa pistas entremeadas com lembranças de dois tios, não sanguíneos, Zeca e Odilon. Ambos são suas referências mais próximas e afetivas. “Zeca era presepeiro e cantava, como se dizia à época, coisas do Norte.”

O “tio” Odilon, atualmente com 102 anos de idade, mora na cidade do Rio de Janeiro. “Quando eu tinha dez anos, Odilon me ouviu e viu cantando Jacob do Bandolim. Na minha meninice, eu não sabia que estava cantando músicas do magistral Jacob do Bandolim; na minha cabeça, eu estava imitando a minha saudosa mãe, Eurides Gomes Santos (Liu). Pois bem, Odilon me presenteou com uma guitarra que ele mesmo confeccionava.”

Odilon, além de músico, era marceneiro, amigo e colega de José Gomes da Silva (Zé Menino), pai de Gustavo. Odilon é um luthier, profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância como guitarra, violino etc.

Os contatos com os “tios” fizeram com que “intuitivamente prestasse atenção em músicas, melodias e letras.” Esses sinais emitidos de forma empírica despertaram, de modo constante, a sedimentação em sua consciência de que a música era o caminho a ser trilhado durante a vida adulta.

A televisão foi o meio que o aproximou, na condição de telespectador, de materializar as intuições e sonhos musicais. Os programas de televisão produzidos no Rio de Janeiro pela antiga TV Tupi e Rede Globo abriram as “portas”, e em sua casa, no bairro da Levada, os maestros Cipó e Erlon Chaves regiam as orquestras das TVs. A voz e o gingado, ou swing, como se dizia à época, de Wilson Simonal e Elza Soares, a voz inconfundível de Elizeth Cardoso, a doçura do baiano Dorival Caymmi e os jovens como Chico Buarque, Roberto Carlos e Wanderleia.

Foto: Divulgação

Esse período vivido por Gustavo Gomes, no início da década de 1970, foi uma época em que a televisão não era um aparelho de consumo de massa, poucas famílias podiam adquiri-lo. A Rede Tupi de Televisão era a principal emissora do país. Os programas de calouros produzidos em Recife, como os de Ary Sanchei e Jorge Chau, aproximavam os telespectadores de seus ídolos. “Essa galera, os artistas e os apresentadores dos programas,” diz Gustavo, “figurava em nossa humilde casa na praça Santo Antônio, na Levada, e nas outras ruas onde moramos: no Farol, na rua Tereza de Azevedo e na rua Augusta, no Centro de Maceió.”

Festivais de Músicas

A estreia em festivais foi em 1980, em um evento promovido pelo Departamento de Assuntos Culturais (DAC) da Secretaria Estadual de Educação de Alagoas, órgão que correspondia à Secretaria de Cultura. Ele subiu ao palco para defender “Decisão”, música sua em parceria com Alfredo Barbosa. Os festivais abriram caminho para músicos e compositores alagoanos e, principalmente, estudantes universitários, em um período em que ainda vigorava a censura política, uma trava instituída pela ditadura civil-militar para podar a criatividade artística.

Nos anos de 1981, 1983 e 1985, o cantor e compositor Gustavo Gomes subiu ao palco. Em 1981, com a música “Sem medo da prisão”, de Gustavo Gomes e Leonardo Arecippo, no III Festival Universitário de Música, organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFAL). Em 1983, com “Terras Colombianas”, de Gustavo Gomes e Stanley de Carvalho, no V Festival Universitário de Música, organizado pelo DCE-UFAL. A quarta eliminatória do V Festival Universitário de Música foi realizada no Teatro Deodoro, no dia 19 de janeiro de 1983.

A música “Refluxo”, composição de Gustavo Gomes e Stanley de Carvalho, foi inscrita e defendida no VI Festival Universitário de Música, realizado em 1985, mais uma vez organizado pelo DCE-Ufal.

Gustavo Gomes é um dos artistas que mais participaram de festivais de música realizados em Alagoas e em outros estados. São dezesseis participações, acrescidas de mais quatro festivais universitários.

As transformações entendidas como modernização tecnológica têm um significado particular para Gustavo Gomes: “Se não fosse o advento do CD, jamais teria condição de gravar tantos álbuns e ser tocado em rádios e aparecer na televisão tocando e cantando. A era do LP sempre foi muito filtradora, exigente e suspeita. A concentração das gravadoras no Sul e Sudeste já era um vulcão quase intransponível.”

Foto: Divulgação

Plataformas Digitais

As mudanças tecnológicas foram acompanhadas pelo artista alagoano. O CD foi substituído pelas plataformas digitais, onde é possível ouvir e baixar suas músicas. São elas: o site Alagoas Musical (@AlagoasMusical), administrado pelo historiador e blogueiro Dimas Marques, que disponibiliza alguns dos CDs de Gustavo Gomes e podem ser acessados no YouTube. No Spotify, basta digitar “Samba Vacaciones – Homenagem ao Maestro do Forró Gustavo Gomes” e acessar essa música, bem como nas demais plataformas.

Gustavo Gomes é associado à Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais (Socinpro), instituição fundada em 1962, que tem sua trajetória marcada pela defesa e proteção do direito autoral no Brasil. É uma das sete sociedades-membro que formam e administram o ECAD e a terceira em arrecadação.

Rosa Prédes

Quando completou 33 anos, idade de Cristo, aconteceu a salvação. O namoro que durava seis carnavais e a luta que poucos conhecem para comprar apartamento e mobílias, uma luta em parceria, aconteceu o casamento com a assistente social Rosa Prédes. A união se fez, inclusive, na música. Rosa é, como diz Gustavo: “apreciadora musical exigente, abraça a causa e divide em várias ocasiões a interpretação das composições, tanto nas gravações como em apresentações ao vivo”.

O bom humor é o estado natural de Gustavo Gomes, que ao se referir à sua companheira de vida e de palco, declara: “O problema é que, após as suas participações, o público constata com pertinência que ela canta muito, mas muito melhor que eu”.

Em todos os CDs de canções, Rosa Prédes empresta sua voz sempre com maestria.

Foto: Sue Chamusca

Discografia

A sua produção é invejável: são 16 CDs lançados entre 2009 e 2017:

2009 – Solidão Nunca Mais

2010 – De Xameguinho com a Sanfona

2011 – De Namoro com a Sanfona

2012 / 2013 – Coleção Vitae Breve

Gustavo Gomes – Noite de Verão (pop)

Gustavo Gomes e Felipe Burgos apresentam: Canções de Louçainhas

Gustavo Gomes Não Toca Nada… Mas Esses Caras – Instrumental

2013 – Um Bando de Samba 1

2014 – Um Bando de Samba 2 – Mel Nascimento

2015 – Um Bando de Samba 3 – Pândegas

2016/2017 – Um Bando de Samba 4 – Tá-Tu-Din-Té-Li-Ga-Do

2016/2017 – Um Bando de Samba 5 – Um Bando de Bamba

2016/2017 – Um Bando de Samba 6 – Meninas de Fé – Fé Meninas

2016/2017 – Um Bando de Samba 7 – Muquém

2016/2017 – Um Bando de Samba 8 – 30 Nós

2016/2017 – Um Bando de Samba 9 – Prescrito Perene Aprendiz

2016/2017 – Um Bando de Samba 10 – Ultra-Samba-Além

Parcerias e Parceiros

O trabalho desenvolvido por Gustavo Gomes é intenso e conta com dezenas de parcerias formadas em mais de quarenta anos de atividade ininterrupta:

Vera Rocha, Alfredo Barbosa, Fernando Barbosa, Leonardo Arecippo, Stanley de Carvalho, Marcelo Marques, Ricardo Cabus, Anderson Fidellis, Marcos de Farias Costa, Marcondes Costa, Maria Augusta Tavares, Felipe Burgos, Salomão Miranda, Ronaldo Prudente, Mauro Fabiani, Andiara Freitas, Alexandre Reis, Geraldo de Majella, Jeová Santana, Maria Francelino, Jorge Sebage, Fernando Coelho, Miriam Monte, Petrúcio Baetto.

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1 Comentário

  • Encantada com todos os relatos desse casal ímpar, Gustavo Gomes e Rosa Prédes. Grandes artistas e amigos queridos. Minha parceira musical com Gustavo Gomes é um presente valioso que eu prezo muito. Temos músicas lindas nas plataformas digitais e outras ainda na fase de produção, que brevemente irão para as plataformas digitais.

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