quinta-feira 26 de dezembro de 2024

Massayó de araque

Peço permissão para abrir uma exceção nas resenhas costumeiras e trazer um tema bastante factual em sua sazonalidade, que não deve ser varrido para baixo do tapete

16 de junho de 2024 4:01 por Mácleim Carneiro

 

“O Canto Que Vê”, de Pedro Cabral/Reprodução

Por Mácleim Carneiro

Peço permissão para abrir uma exceção nas resenhas costumeiras e trazer um tema bastante factual em sua sazonalidade, que não deve ser varrido para baixo do tapete. Dito isso, não me causou espanto ler o parágrafo abaixo, pulverizado em alguns sites da internet.

          “A Prefeitura de Maceió lançou na última terça-feira (16/04/2024) o São João Massayó 2024, durante o segundo dia da WTM Latin America. O evento vai reunir grandes nomes da música nacional e regional, como Wesley Safadão, Gusttavo Lima, Luan Santana, Bell Marques, Bruno & Marrone, Léo Santana e outros artistas”. 

Supondo um contexto paritário, sem espaços segregados e com a valorização da produção musical e dos artistas locais dedicados à música regional, tal notícia seria até alvissareira e bem-vinda. Eu jamais iria! Porém, já vi coisas piores acontecerem nesse país. Entretanto, como um déjà vu recalcitrante da atual gestão municipal, ficam evidentes algumas questões em tão poucas linhas do parágrafo em questão. Basta uma leitura desapaixonada e atenta ao que, aparentemente, parece ser subliminar, embora os fatos clamem por si.

Sistema Maquiavélico

Seguramente, o que salta aos olhos e chama a atenção do mais desavisado leitor, são os nomes dos artistas e seus respectivos gêneros musicais, contratados a peso de ouro, para usurparem os palcos da nossa quadra junina. Os citados acima, são apenas uma pequena fração de um total de 60 artistas. Suscitam, no mínimo, uma pergunta simples e basilar: o que a música deles traz para os festejos juninos, a não ser a descaracterização do que deveria ser respeitado pela tradição e singularidade culturais? Infelizmente, a resposta envolve todo um sistema maquiavelicamente implantado, numa cadeia de negócios e interesses políticos, cujos elos vão desde gestores, produtores e artistas viciosos, passando pela complacência conivente da maioria dos veículos de comunicação, até chegar ao incauto público que, de maneira geral, corrobora a mediocridade e, sem se aperceber, abre mão do que lhe é mais caro: sua identidade cultural.

A hipocrisia chega ao ponto de tentarem dar um quê de histórico-cultural à descaracterização da nossa mais importante festa popular, apelando até para a origem etimológica da palavra Maceió. As tentativas de maquiar o pernicioso engodo político, promovido pela atual gestão do nosso aquário, jamais serão bastantes para mascarar, por exemplo, que dos 60 artistas contratados, para os palcos principais, apenas 16 (0,26%) são alagoanos e só três ou quatro destes (0,25%) legítimos representantes da música regional nordestina. Portanto, deturpar e escantear o âmago musical dos festejos juninos e os seus respectivos artistas locais, em sido a “política cultural’ da atual gestão municipal, a um custo altíssimo, estimado esse ano em R$ 16 milhões, apenas em cachês de artistas que nada simbolizam e nem representam a música regional nordestina.

Transgressores Ideológicos

A gastança, sobretudo agora em ano eleitoral, tem sido justificada pela Prefeitura com base numa pesquisa, pra lá de duvidosa, sobre o ‘Impacto Econômico do São João Massayó’ contratada pelo não menos duvidoso ‘trade turístico de Maceió’. Pois bem, tal “pesquisa” apontou retornos financeiros da ordem de três dígitos de milhões no São João de 2023, o que justificaria o discurso perdulário de um ‘São João para turistas’, excludente e nocivo à música regional nordestina e, sobretudo, aos artistas locais.

Não obstante, alvíssaras! Acabo de ser informado que no estacionamento da Secretaria Municipal de Saúde serão entocadas apresentações de forrozeiros, artistas locais e manifestações da cultura popular. Sinceramente, não creio que pesou a consciência do alcaide instagramável e por isso tenha lançado migalhas ao estacionamento. Não acredito na doçura em pé de jiló! A Prefeitura de Maceió é reincidente em descumprir a Lei Municipal Nº. 7.077, que determina que 50% da totalidade dos valores gastos na contratação de artistas, para apresentações e/ou manifestações culturais, devem ser obrigatoriamente alocados para a contratação de artistas locais. Também, não acredito ser essa (o cumprimento da lei) a motivação do alcaide para o puxadinho no estacionamento, já que o perfil de sua Excelência e sua base política não são exatamente perfis republicanos. O cumprimento às leis e aos compromissos firmados não fazem parte da cartilha dessa gente, são, por índole, transgressores ideológicos.

Portanto, resta-me supor que temos de volta a teoria da Casa Grande e Senzala, travestida na hipocrisia do alcaide e atribuída a certos senhores do folclore alagoano que, aos brincantes convidados para apresentações em seus terreiros, faziam distinção entre a porta da frente e a porta dos fundos.

NO +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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1 Comentário

  • Pedro Cabral, artífice da Pintura e da Resistência, parabéns pelo texto!!!

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