O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), tem recebido proteção da imprensa comercial e familiar brasileira e dos agentes do mercado financeiro que, por serem os maiores anunciantes, determinam o que é notícia nos veículos de comunicação. A proteção contra as pressões exercidas pelos parlamentares de esquerda, alguns do PT, PSOL e PC do B, tem sido minimizada ou escondida do noticiário e da pauta dos comentaristas, que orquestram o clima de derrocada da economia brasileira.
Lira ergue barreiras através da pauta da Câmara, prerrogativa do presidente e de ninguém mais, blindando os interesses do mercado financeiro na Câmara Federal. Dependendo do interesse circunstancial, ele orquestra crises políticas com ministros e desengaveta projetos de lei (PLs) como moeda de barganha na disputa pela eleição da Presidência da Câmara.
Arthur Lira tem uma Caixa de Pandora para abrir e usufruir num ambiente tenebroso que é a Câmara Federal no momento. Na mitologia grega, a Caixa de Pandora procura explicar o mal e as doenças que se espalham no mundo. Pandora era a primeira mulher a existir, criada por Hefesto com base em instruções dadas por Zeus, o principal deus do panteão grego.
O deputado vem calculando os momentos para abrir a sua Caixa de Pandora, seja através da força bruta, declarando inimizade com ministros, ou criando dificuldades para encontrar facilidades para continuar desfigurando o Orçamento da União através das liberações de emendas bilionárias.
O que norteia a vida parlamentar de Arthur Lira não é a boa imagem junto à opinião pública nacional. A sua obsessão pelo poder é o objetivo principal. Para alcançar esse objetivo, é necessário aprisionar o presidente Lula, tornando-o refém de pautas políticas monstruosas, como o PL do Estupro (PL 1904) e outras diatribes com as tentativas de derrubar ministros, como tem sido noticiado na imprensa nacional.
A negociação política do PL do Estupro com a maioria dos membros da bancada evangélica, bancada da bala e outros segmentos reacionários, pautou o rito de urgência. A PEC da Anistia, agora retirada de pauta de votação na quarta-feira, 19 de junho, tem o objetivo de perdoar as irregularidades cometidas por partidos políticos no uso de dinheiro público oriundo do Fundo Partidário. Esta PEC interessa a quase todos no Congresso Nacional, seja governo ou oposição.
Faltou combinar com os russos
A mobilização surpreendente dos movimentos feministas, setores da imprensa e a viralização de vídeos nas redes sociais deixou os extremistas e o deputado Arthur Lira sem conseguir reagir à mobilização da opinião pública.
A imagem política do deputado Arthur Lira tem se deteriorado junto à opinião pública, mais pela postura autoritária e agressiva como tem se conduzido na Presidência da Câmara Federal.
O controle imperial tem sido buscado, inclusive, com proposta de mudança no regimento interno que pudesse conferir à Presidência o direito de suspender o mandato de deputados por seis meses.
A atitude é inspirada nas cassações dos mandatos e dos direitos políticos ocorridos durante a ditadura militar de 1964 a 1985. Lira quis ressuscitar instrumentos ditatoriais para perseguir adversários políticos que o incomodam a exercer o poder imagem e semelhança de um autocrata.
“Reza a lenda que na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, o técnico Vicente Feola, em situação antológica, explicou na prancheta a tática para derrotar a seleção da antiga União Soviética: Nilton Santos lançaria a bola da esquerda do meio de campo para a direita do ataque nos pés de Garrincha, que driblaria três adversários e cruzaria para Mazola cabecear na grande área e fazer o gol. Com ingenuidade ou ironia, não se sabe, o nosso Mané Garrincha perguntou: “Seu Feola, o senhor já combinou com os russos?”.
Essa pergunta serve para o deputado Arthur Lira: ele já combinou com a opinião pública se o PL do Estupro será aceito pelas mulheres e pela opinião pública nacional?