domingo 24 de novembro de 2024

O que seria de Alagoas sem a Ufal?

Instituição de ensino foi fundamental na construção das bases do desenvolvimento do Estado

26 de junho de 2024 6:43 por Geraldo de Majella

Ufal | Divulgação

Pode parecer soberba, mas, os fatos demonstram que não é. A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) foi criada em 25 de janeiro de 1961. Em 1950, Alagoas contava com apenas 1.003 profissionais com nível superior, correspondendo a 0,09% da população total, que era de 1.093.137 habitantes. A taxa de analfabetismo em Alagoas era de 77,9%, ocupando o penúltimo lugar no ranking nacional, sendo o último lugar ocupado pelo Piauí, com 78,4%.

Em 1950, existia apenas a Faculdade de Direito, que foi criada em 1933.

As famílias de classe média alta e a elite mandavam seus filhos estudarem em Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro (então capital da República), Estados Unidos e Europa. Esse era o padrão.

O Estado era incapaz de romper com a barreira do analfabetismo. Por sua vez, o acesso à escola pública era negado aos pobres. A universalização da escola pública passou a ser um direito consagrado pela atual Constituição, em 1988. Portanto, é recente.

Romper essa barreira não foi, e nem poderia ser, obra de um indivíduo, mas, também, não é possível desconhecer o papel do indivíduo na história.

A figura do padre Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912-2001), alagoano de São José da Laje, é para ser vista como um dos construtores da educação em Alagoas. O seu legado intelectual é vasto e compreende a criação do Colégio Guido de Fontgalland, da Faculdade de Filosofia de Alagoas, da Campanha Nacional de Educadores Gratuitos (CNEG) em Alagoas e do Centro Universitário Cesmac. A sua obra épica, posso assim considerar, foi a criação da Faculdade de Filosofia de Alagoas, em 1952.

Essa instituição era inovadora e revolucionária para o padrão alagoano, tendo iniciado o seu funcionamento com os cursos de Geografia, História, Filosofia, Letras Clássicas, Letras Neolatinas e Letras Anglo-germânicas.

Padre Teófanes | Reprodução

O objetivo do padre Teófanes era erradicar o analfabetismo e, para tanto, era imprescindível formar professoras e professores. Não havia nenhuma instituição com esse propósito em Alagoas. Sem a formação de profissionais para ministrar aulas de qualidade, não seria possível romper com as trevas personificadas no analfabetismo.

Os passos fundamentais para que houvesse mudanças significativas na educação em Alagoas foram dados pelo pensador da educação, padre Teófanes, com a construção de suas obras educacionais: Colégio Guido, Faculdade de Filosofia e CNEG, que interiorizou a educação sem competição predatória com a rede pública estadual de ensino.

A Faculdade de Filosofia foi, em sua época, o farol aceso do conhecimento em um ambiente hostil e pouco afeito à discussão de filosofia além dos cânones religiosos. A ampliação da rede de ensino durante o governo Muniz Falcão fez parte da estratégia desenhada pelo governador, onde a educação era vetor central para o desenvolvimento de Alagoas, incorporando a população trabalhadora urbana e rural.

A Faculdade de Filosofia e a Campanha Nacional de Educadores Gratuitos (CNEG) desempenharam um relevante papel na construção do que se pode definir como uma “Nova Alagoas”, com a formação de professores, abertura de novas escolas na capital e nas cidades do interior, incorporando grandes contingentes de estudantes. A década de 1950 e as seguintes têm marcas históricas deixadas pelo padre, pensador e educador Teófanes Augusto de Araújo Barros. Tendo sido, também, um dos fundadores da Universidade Federal de Alagoas e professor.

A criação da Ufal

A Universidade Federal de Alagoas é a primeira e maior instituição pública de ensino superior do Estado, criada em 25 de janeiro de 1961, por ato do então presidente Juscelino Kubitscheck. O embrião que constituiu a Ufal foi a incorporação das faculdades de Direito (1933), Medicina (1951), Filosofia (1952), Economia (1954), Engenharia (1955) e Odontologia (1957).

Juscelio Kubitschek, em janeiro de 1961, assina o ato que criou a Ufal na presença do Dr. A.C. Simões, Edgar Magalhães, assessor do MEC, e do deputado Padre Medeiros Netto | Reprodução/História de Alagoas

A Ufal, como instituição acadêmica, surgiu com fragilidades que foram sendo superadas nas décadas seguintes, tendo sofrido, como toda a sociedade alagoana e brasileira, por duas décadas com a ditadura civil-militar (1964-1985). Hoje, é uma instituição consolidada, com mais de 26 mil alunos matriculados nos 84 cursos de graduação. Sua pós-graduação conta com 39 programas stricto sensu, sendo 30 mestrados e 9 doutorados, e 13 especializações com 2.312 alunos, acrescidos de mais 4 mil alunos na Educação a Distância.

A Ufal conta com 1.394 docentes, sendo 690 doutores, e mais 1.698 servidores técnico-administrativos. O Hospital Universitário (HU) tem, do total de técnicos, 797 lotados nele. O HU é um órgão vital no apoio acadêmico na área de saúde, voltado ao ensino, à pesquisa e à assistência, e também ao atendimento à população de Maceió e de Alagoas como instituição hospitalar de excelência.

A maturidade da Ufal pode ser medida pela relevância das suas pesquisas, com 258 grupos de pesquisa, 1.125 linhas de pesquisa e 3.646 pesquisadores entre professores, técnicos e alunos.

Campus A.C. Simões da Ufal em 1973 | Reprodução/História de Alagoas

Educação, Desenvolvimento Social e Econômico

Alagoas só pode alcançar um grau satisfatório de desenvolvimento econômico se houver redução drástica das desigualdades sociais. Para que isso aconteça, é obrigatório haver educação de qualidade desde a base, que são as redes públicas de educação municipais e estadual, até as universidades públicas, que hoje são três: Ufal, Uneal e Uncisal, além das demais instituições privadas de ensino superior.

Educação de qualidade impacta diretamente no desenvolvimento e no crescimento econômico e social do estado, proporcionando qualificação profissional, acesso ao mundo letrado e à cultura como parte da formação dos cidadãos. Investir em educação pública é essencial ao contrário do que dizem os tecnocratas e a extrema-direita, que lutam contra a educação e negam a ciência.

As universidades públicas alavancaram o Brasil na formação de profissionais, pesquisadores e cientistas e na produção de conhecimento. Alagoas, sem a Ufal, seria um vazio geográfico do Brasil. Uma entre outras perguntas que se pode fazer: Quem investiria em ciência e tecnologia? As empresas não investiram e continuam sem investir em pesquisa básica por um motivo: o elevado custo. Quem investe prioritariamente é Governo Federal através das instituições financiadoras e em menor proporção o estado de Alagoas com a Fapeal.

As mazelas sociais permanecem em níveis menores comparando com a década de 1950. A taxa de analfabetismo era escandalosa em Alagoas, no Nordeste e no país, à época. O Censo de 2022 indica que há 14,2% de analfabetos em Alagoas, enquanto a taxa brasileira é de 7,0%. O analfabetismo e a baixa qualidade da escola pública e privada como base da formação escolar têm impactado, negativamente, no desenvolvimento social e econômico de Alagoas.

Em 1967, o Reitor A. C. Simões autorizou o início das obras do Campus da Ufal no Tabuleiro | Reprodução/História de Alagoas

Investir maciçamente em educação no ensino fundamental, médio e superior é a fórmula para Alagoas se livrar dos baixos indicadores sociais.

A Ufal é uma demonstração de que é possível operar mudanças e transformar a realidade da sociedade. Essa instituição não é perfeita, tem mazelas, mas, Alagoas não seria o que é sem os profissionais formados nas diversas áreas do conhecimento, como: saúde, engenharia, física, química, biologia, nutrição, matemática, agronomia, meteorologia, arquitetura, história, economia, jornalismo, ciências sociais, filosofia, psicologia etc.

Há muito por fazer. Mas, para não esquecer o que já foi realizado, é importante reconhecer os avanços com críticas e aplausos para ser justo.

Ufal, “mostra a tua cara”, como disse Cazuza.

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