13 de agosto de 2024 3:48 por Mácleim Carneiro
Em 2016, fiz parte do júri do festival de música Em Cantos de Alagoas. Na ocasião, dentre tantas mimetizações e bobagens musicais, apareceu um jovem compositor defendendo uma ciranda, que fugia da obviedade de tudo que já havia sido apresentado até então. Nada do outro mundo, nada tão genial assim, porém, fez a diferença, sobretudo, pela sutileza de um simples detalhe criativo na solução harmônica encontrada pelo compositor, para o repouso da harmonia na volta ao A da singela ciranda.
Robson é o compositor que fez a diferença! Sim, apenas o prenome Robson e nada mais. Tempos depois, ao ter em minhas mãos e escutar o álbum Lar de Viajante, entendi que a assinatura Robson, apenas Robson (que agora assinaria como Robson Cavalcante), era mais que suficiente para personalizar a musicalidade do seu álbum de estreia.
Criatividade Harmônica
Dito isso, cabe agora a prazerosa missão de justificar a premissa do meu ponto de vista. Então, comecemos exatamente pelo princípio de tudo. E como que para justificar o sentido da primeira impressão, o princípio é justamente àquela ciranda do festival. É ela que também abre o álbum Lar de Viajante, é ela que lhe dá título e foi ela que despertou minha curiosidade, para o trabalho de um Robson que não carecia de complementos nominais, pela dimensão e qualidade da sua obra.
E o que tem demais nessa ciranda? Tem a criatividade harmônica, que foi muitíssimo bem explorada pelo compositor! Não por ser algo totalmente inovador, mas pela magia do inusitado e redundância do insólito. É como se estivéssemos diante de vários caminhos e escolhêssemos aquele que intuímos ser, lá na frente, muito mais iluminado, feliz e nada óbvio. Embora, no momento da escolha na encruzilhada, os caminhos pareçam iguais a todos os olhares. É por isso que temos um início de audição sem arroubos, guiado que somos pela aparente singeleza de uma ciranda sofisticada.
Hibridismo Permanente
Logo na faixa dois, Aprendiz de Samurai, Robson demonstra outra faceta bem interessante: o intérprete. Ele explora, de maneira bem peculiar, sem forçar a barra, a região grave de sua extensão vocal e timbre. Isso, deixa no ar um hibridismo permanente entre um ser tenor e outro barítono, que se acomodam e dialogam sempre que necessário e por todo o repertório. Em algumas situações, como no dolente samba-canção, Traços, até parece que a tonalidade não foi bem resolvida, com os graves sendo içados lá do fundo do diafragma. No entanto, logo em seguida, ele sai dessa região movediça e, naturalmente, ensolara a melodia e vai para uma atmosfera onde o quase tenor aparece, resolvendo muitíssimo bem o que à primeira vista aparentava ser um equívoco.
Lar de Viajante, o álbum, é um trabalho de MPB bem resolvido! A começar pela substância musical das composições e pela correta percepção do artista em atinar para a importância de se ter um produtor capacitado: o guitarrista Ricardo Lopes. Este, por sua vez, arregimentou excelentes músicos, que deram cor e personalidade às canções do compositor. Embora estreante no métier das gravações, Robson soube escolher a dedo todos os elementos e fatores que proporcionaram um resultado mais que satisfatório em sua estreia fonográfica. E tudo foi arrematado com perfeição, pela indiscutível e muitas vezes premiada competência do engenheiro de som Marcelo Sabóia, que assina a mixagem e masterização deste belo trabalho. Um disco que, em outros tempos, estaria sendo executado em todas as boas rádios, aqui e alhures.
O álbum tem apenas oito faixas e resulta em pouco mais de meia hora de boa música. Aliás, tempo que, por analogia, me parece traduzir bem o título Lar de Viajante. Ou seja, rápido, objetivo e transitório, sem precisar de firulas para deixar saudades e àquele gostinho de quero mais.
Serviço:
Lar de Viajante, Robson
Plataformas digitais: Spotify, Deezer, iTunes, Bandcamp e YouTube