sexta-feira 27 de dezembro de 2024

Negócios sustentáveis: Alagoas tem potencial de crescer preservando seus recursos naturais

A pressão social exercida por entidades ambientalistas, pesquisadores universitários e denúncias veiculadas em mídias eletrônicas tem se mostrado uma das formas mais ativas e eficazes de combate à destruição de bens naturais e coletivos

14 de dezembro de 2024 1:31 por Da Redação

 

 

Reprodução

Por Geraldo de Majella*

A definição de negócio sustentável tem avançado significativamente no Brasil, impulsionando investimentos em mudanças nos processos internos das empresas e também na conscientização de seus trabalhadores. Práticas como o reaproveitamento de materiais de consumo diário, incluindo copos plásticos, e a reutilização de recursos naturais, como a água, energia elétrica é de se destacar e representa conquista de espaço na mídia nacional.

Essas iniciativas refletem um compromisso crescente com a sustentabilidade, buscando não apenas reduzir impactos ambientais, mas também otimizar custos operacionais e fortalecer a imagem corporativa em um mercado cada vez mais exigente. Ao engajar trabalhadores nessa transformação, as empresas promovem uma cultura organizacional mais alinhada aos princípios da responsabilidade socioambiental, contribuindo para um futuro mais sustentável.

A busca por práticas mais sustentáveis faz parte do esforço global dos 193 Estados-membros da ONU que em setembro de 2015 assumiram uma agenda de compromissos, onde os governos, sociedade civil e setor privado precisam trabalhar ações estratégicas através dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para alcançar as metas desses objetivos até 2030, a chamada Agenda 2030.

No Brasil, o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC) mede o desempenho dos municípios em relação aos ODS, avaliando áreas como educação, saúde, desigualdade, saneamento básico e gestão ambiental. Maceió apresenta uma pontuação geral de 41,76 no IDSC, sendo classificada como de “baixo” desenvolvimento sustentável. No ranking nacional, ocupa a 4.190ª posição entre 5.570 cidades, destacando desafios em áreas críticas como desigualdade social, saúde e sustentabilidade ambiental. Esses resultados reforçam a necessidade de políticas públicas e um trabalho conjunto entre o município de Maceió, sociedade civil e empresas para transformar a realidade local e avançar em direção às metas da Agenda 2030.

Essa tendência ainda é pouco visível em Alagoas, onde, apesar de avanços pontuais impulsionados pelas exigências do mercado internacional, como a erradicação do trabalho infantil em atividades penosas e a implementação inicial de medidas de segurança para trabalhadores do setor sucroalcooleiro, construção civil a responsabilidade social não se transformou efetivamente numa tendência.

Embora essas mudanças representem algum progresso, elas ainda estão longe de adotar políticas corporativas robustas voltadas à proteção ambiental. A redução ou eliminação do uso de produtos tóxicos na agricultura, por exemplo, permanece como um desafio significativo, evidenciando a necessidade de maior comprometimento por parte das empresas locais para alinhar suas práticas às demandas globais por responsabilidade socioambiental.

Os setores econômicos mais impactantes para o meio ambiente incluem a construção civil, o setor químico, a agricultura intensiva e a mineração. A construção civil, por exemplo, é responsável por grande parte do consumo de recursos naturais, como areia, brita e água, além de gerar altos volumes de resíduos. O setor químico, por sua vez, contribui significativamente para a poluição do solo, da água e do ar devido à produção e descarte inadequado de substâncias tóxicas. Em Alagoas mesmo vivenciando o maior crime socioambiental em área urbana no mundo em curso promovido pela Braskem, o Estado amplia as atividades de mineração causando grandes impactos a população e ao ambiente, como é o caso da mineração de Cobre pela empresa Vale Verde em Craíbas.

Já a agricultura intensiva utiliza grandes quantidades de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que contaminam ecossistemas e comprometem a biodiversidade. Hoje o nosso maior desafio é barrar a pulverização de agrotóxicos por drones, inclusive na ultima quarta-feira (11/12), A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgaram uma nota oficial conjunta em que se posicionam contra a pulverização de agrotóxicos por drones. Leia aqui.

Por fim, a mineração, amplamente associada à degradação do solo e à poluição hídrica, muitas vezes compromete áreas de preservação ambiental e populações locais, como ocorre em regiões impactadas por atividades de extração mineral em Alagoas e no Brasil.

A mitigação desses impactos requer uma combinação de regulamentação rigorosa, incentivos para práticas sustentáveis e maior fiscalização, além do engajamento ativo dos setores produtivos.

A pressão social exercida por entidades ambientalistas, pesquisadores universitários e denúncias veiculadas em mídias eletrônicas tem se mostrado uma das formas mais ativas e eficazes de combate à destruição de bens naturais e coletivos. Essa eficácia se deve, em grande parte, à independência dessas mídias em relação às verbas publicitárias de grandes empresas, permitindo uma atuação crítica e comprometida com o interesse público.

Em Alagoas, o fortalecimento da luta socioambiental exige ações coordenadas entre a sociedade civil, instituições de pesquisa e os poderes públicos. Aqui estão algumas sugestões práticas para avançar nesse setor:

  1. Ampliar a fiscalização e o combate aos danos ambientais
  • Fortalecer órgãos de controle ambiental: Investir no aprimoramento técnico e estrutural de instituições como o IMA-AL (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas).
  • Revisar licenças ambientais de grandes empresas: Garantir que atividades potencialmente prejudiciais, como as das mineradoras Braskem e Mineração  Vale Verde (MVV), estejam sob vigilância rigorosa e sigam critérios sustentáveis.
  • Incentivar a denúncia popular: Estimular plataformas para que cidadãos relatem crimes ambientais, garantindo proteção para quem denuncia.
  1. Engajar universidades e centros de pesquisa
  • Fomentar estudos ambientais locais: Ampliar recursos e parcerias para pesquisas sobre biomas como a Mata Atlântica e os manguezais alagoanos.
  • Criar redes de conhecimento: Integrar as universidades com comunidades locais para soluções práticas e sustentáveis.
  • Promover eventos científicos e comunitários: Aumentar a conscientização e mobilizar a sociedade sobre temas ambientais.
  1. Fortalecer as organizações ambientais
  • Apoiar ONGs e coletivos ambientais: Disponibilizar editais e parcerias públicas para financiar projetos de preservação e recuperação ambiental.
  • Incentivar redes colaborativas: Conectar movimentos locais a redes nacionais e internacionais de defesa ambiental.
  • Defender o protagonismo indígena e quilombola: Ampliar o apoio a comunidades tradicionais, que desempenham papel fundamental na conservação de áreas naturais.
  1. Utilizar a força das mídias independentes
  • Capacitar comunicadores: Oferecer treinamentos sobre jornalismo ambiental para que mídias locais possam se aprofundar no tema.
  • Criar campanhas públicas de impacto: Mobilizar redes sociais e meios digitais para sensibilizar a população e pressionar por mudanças.
  • Mapear violações ambientais: Criar plataformas online para monitorar, denunciar e divulgar casos de destruição ambiental.
  1. Promover educação ambiental nas escolas
  • Integrar práticas ambientais no currículo: Ensinar desde cedo sobre preservação, reciclagem e respeito ao meio ambiente.
  • Incentivar projetos escolares: Como hortas, visitas a áreas protegidas e campanhas de conscientização.
  1. Defender políticas públicas sustentáveis
  • Reforçar a legislação ambiental: Propor atualizações que aumentem a proteção de ecossistemas críticos, como a Lagoa Mundaú e o rio São Francisco.
  • Incentivar a economia verde: Promover energias renováveis, turismo sustentável e agroecologia no estado.
  • Criar metas públicas de preservação: Estabelecer compromissos claros para a recuperação de áreas degradadas e a redução da poluição.

Com esses esforços coordenados, Alagoas pode se tornar referência em desenvolvimento sustentável, equilibrando crescimento econômico com a proteção dos seus preciosos recursos naturais.

*É historiador e jornalista

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