quarta-feira 12 de março de 2025

Maceió, alagamentos e má gestão na drenagem urbana

Maceió tem solução, mas precisa de um gestor público que respeite o planejamento urbano e implemente soluções modernas e sustentáveis

5 de fevereiro de 2025 3:10 por Da Redação

Reprodução

Por Dilson Ferreira*

A cada chuva forte em Maceió, a cidade para. Ruas alagadas, casas invadidas pela água, trânsito caótico e o mesmo discurso repetitivo dos políticos e apoiadores: “foi uma chuva acima do esperado”, “foi culpa da população que joga lixo nas ruas”, “é culpa das mudanças climáticas”. Mas a verdade é que o problema dos alagamentos não está na chuva, nem no lixo, mas na falta de gestão pública e na negligência com a drenagem urbana.

Além disso, os políticos e seus apoiadores sempre responsabilizam a população mais pobre pelos alagamentos, alegando que o problema é o descarte inadequado de lixo nos bairros populares.

No entanto, bairros como Ponta Verde, Jatiúca, Mangabeiras, Pajuçara, além de locais como Shopping Pátio, Shopping Maceió, Fernandes Lima e Farol – que possuem coleta regular de lixo, manutenção de galerias pluviais e atenção da prefeitura – continuam alagando.

Se o problema fosse apenas o lixo, essas regiões não deveriam sofrer com enchentes. Mas sofrem, e isso demonstra claramente que o problema é a falta de um sistema eficiente de drenagem urbana, que não funciona nem nas áreas mais nobres da cidade. Se nem esses bairros, que recebem mais investimentos em infraestrutura, são capazes de evitar alagamentos, fica evidente que Maceió não tem um plano real para escoamento da água da chuva.

A impermeabilização do solo e a falta de planejamento

Maceió tem uma geografia peculiar, com diferentes formações que influenciam o fluxo das águas pluviais. A cidade é composta por uma planície litorânea, onde desaguam diversos rios; uma parte elevada, como o Farol e o Tabuleiro; e a orla lagunar, que recebe águas de rios vindos de Pernambuco. Essas características tornam a drenagem um desafio, mas também deixam claro que qualquer projeto de infraestrutura urbana precisa levar a topografia da cidade em consideração.

No passado, Maceió teve ruas pavimentadas com paralelepípedos e pedras, utilizados em gestões como as de Guilherme Palmeira, Fernando Collor, Dilton Simões, Kátia Born e Ronaldo Lessa. Esse tipo de pavimento permitia a infiltração da água no solo, reduzindo a velocidade do escoamento e ajudando a evitar enchentes.

Nos últimos anos, porém, houve uma onda de asfaltamento descontrolado, cobrindo ruas com um material totalmente impermeável. A substituição de calçamentos drenantes por asfalto convencional impediu a absorção da água, agravando os alagamentos. Pior ainda, muitas dessas ruas foram asfaltadas sem um sistema adequado de drenagem subterrânea, especialmente em bairros como Santa Amélia, Santa Lúcia, Vila de Campestre e diversas grotas, onde sequer há um escoamento eficiente da água.

Outras cidades já adotam soluções modernas, como asfalto drenante, utilizado em Recife e Fortaleza, que permite a absorção da água e reduz os impactos das chuvas. Mas em Maceió, a insistência no asfalto convencional não só piora os alagamentos, como aumenta as ilhas de calor, tornando a cidade ainda mais quente.

O plano de drenagem existe, mas nunca foi aplicado

O problema não é falta de planejamento. Maceió tem um Plano Municipal de Saneamento Básico (Lei nº 6.755/2018), elaborado na gestão anterior, que mapeou toda a cidade e definiu soluções para drenagem, saneamento, abastecimento de água e limpeza urbana.

O grande problema é que esse plano nunca foi implementado pelo Gestor Público Municipal.

A prefeitura faz drenagem sem usar o plano de drenagem urbana, ignorando os estudos que foram realizados sobre a cidade? Em vez de seguir um planejamento técnico que resolveria o problema a longo prazo, a gestão pública realiza obras sem a estrutura necessária para garantir eficiência?

O resultado? Locais historicamente afetados por enchentes, como Levada, Vila Brejal e o Distrito Industrial, continuam sofrendo sem qualquer solução definitiva.

A solução já foi testada em outras cidades. Curitiba, por exemplo, construiu sete grandes lagos artificiais para reter a água da chuva, que hoje são parques urbanos usados pela população. Esse modelo poderia ser aplicado em Maceió, criando lagos de retenção que serviriam tanto para drenagem quanto para lazer. Mas, para isso, seria necessário compromisso político com o planejamento urbano, e não apenas ações pontuais para gerar marketing eleitoral.

A devastação das áreas naturais

Enquanto Maceió sofre com alagamentos, áreas que poderiam ajudar a controlar a drenagem estão sendo destruídas. No litoral norte, manguezais, mananciais e ecossistemas naturais estão sendo substituídos por concreto, à medida que empreendimentos imobiliários e hotéis avançam sobre áreas de retenção natural de água.

A Lagoa da Anta, que poderia funcionar como regulador da drenagem da Jatiúca, está sendo anunciada para grandes empreendimentos imobiliários. Ao invés de preservá-la como um elemento natural de escoamento da água das chuvas, a cidade segue impermeabilizando o solo e piorando a situação.

Do outro lado, a Lagoa Mundaú está assoreada e negligenciada há anos. Essa lagoa, que recebe o escoamento de diversos rios, poderia ser revitalizada para integrar um sistema de drenagem eficiente, mas continua sendo ignorada pelo poder público.

Soluções: O que Maceió precisa fazer?

Os alagamentos podem ser evitados se a cidade começar a investir em infraestrutura sustentável e respeitar sua geografia. As soluções passam por:

• Respeitar a topografia de Maceió, implementando um sistema de drenagem adequado para cada região.

• Substituir o asfalto convencional por pavimentos drenantes, como asfalto permeável, calçadas porosas e blocos intertravados.

• Criar lagos de retenção em áreas vulneráveis, como Curitiba fez, associando drenagem com parques urbanos.

• Preservar e recuperar áreas verdes e manguezais, evitando a destruição dos ecossistemas naturais que regulam o fluxo das águas pluviais.

• Aplicar o Plano Municipal de Saneamento Básico, que já existe, mas nunca foi colocado em prática.

Maceió tem solução, mas precisa de um gestor público que respeite o planejamento urbano e implemente soluções modernas e sustentáveis. O problema não é climático, não é culpa da população que joga lixo na rua.

O problema é a negligência da gestão pública, que se recusa a tratar a drenagem urbana como uma prioridade.

Enquanto Maceió continuar ignorando a necessidade de um sistema eficiente de drenagem, os alagamentos continuarão atingindo a cidade, prejudicando moradores, comerciantes e turistas.

A cidade precisa parar de improvisar e começar a planejar. O futuro de Maceió depende disso.

*Arquiteto urbanista, professor do curso de arquitetura e urbanismo da Ufal.

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