sexta-feira 3 de maio de 2024

Os Jambo, uma família de jornalistas

16 de julho de 2020 5:00 por Geraldo de Majella

Os jornalistas Romeu de Avelar e Arnoldo Jambo, no Rio de Janeiro

O jornalismo exerceu certo fascínio junto aos jovens desde o final do século XIX e durante o século XX. O ensino acadêmico não existia como o conhecemos atualmente. Os primeiros cursos foram os de direito, engenharia e medicina. As primeiras faculdades de direito criadas no Brasil surgiram após à independência do país.

O jornalismo era exercido pelos gráficos e escritores; não havia uma escola ou faculdade. O ensino universitário foi criado na segunda metade do século XX. O jornalismo era aprendido na prática, na redação.

A família Jambo pertence a essa tradição do jornalismo. O casal Alfredo da Silva Jambo e Elita Paranhos Jambo teve seis filhos; quatro foram jornalistas profissionais e trabalharam em jornais em Alagoas e em outros estados.

O primogênito, João Arnoldo Paranhos Jambo (1922-1999), iniciou no jornalismo como revisor no jornal Gazeta de Alagoas ‒ caminho natural, naquela época, para quem estava iniciando. Em seguida foi trabalhar no Suplemento Literário do Jornal de Alagoas, e, posteriormente, na redação, onde exerceu cargos de direção. O Jornal de Alagoas pertencia à cadeia de jornais dos Diários Associados. Arnoldo Jambo foi o responsável pela reforma gráfica do suplemento literário.

Em 1945, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) é legalizado, e em 1º de maio de 1946 é fundado o semanário A Voz do Povo, órgão oficial de imprensa do PCB. O diretor é André Papini de Góis, eleito deputado estadual constituinte. A redação é composta por Arnoldo Jambo, Floriano Ivo Júnior, Hélio de Sá Carneiro, Murilo Leão Rego, George Cabral e outros. Em 1947, o PCB tem o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE); os parlamentares tiveram os mandatos cassados e o jornal A Voz do Povo é fechado. Em função das perseguições que passou a sofrer, decide emigrar para Recife, e foi trabalhar no jornal Diário de Pernambuco. Na segunda metade da década de cinquenta é  transferido para o Jornal de Alagoas, e assume o cargo de secretário de redação, desempenhando ao mesmo tempo a função de crítico literário do referido matutino.

A convite do governador, foi nomeado diretor do Departamento Estadual de Cultura (DEC), cargo que exerce nos governos de Muniz Falcão e Luís Cavalcante. A sua passagem pelo DEC foi marcante por ter promovido a publicação das séries: Estudos Alagoanos, Reedições DEC, Vidas e Memórias, Folguedos de Alagoas, Estante Alagoana de Monografia, Cultura Didática, Poesia de Sempre e Arquivos Acadêmicos. Ainda na sua gestão desenvolveu outras atividades culturais, como as Feiras de Livros e as exposições bibliográficas e de jornais.

Roberto Rubens Paranhos Jambo (1926-2010), jornalista, escritor e militar, ao completar a maioridade resolve morar no Rio de Janeiro, então capital da República. Com a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), participa das campanhas eleitorais de 1946 e 1947. Em 1951, ingressa na Escola de Sargentos do Exército, onde permanece até 1955. É eleito presidente da Casa do Sargento, lidera a passeata dos sargentos, das forças armadas e das polícias militares, que pleiteavam um Código de Vencimentos, instrumento legal para dar uniformidade aos vencimentos dessa categoria.

O sindicalista paulista Joaquim dos Santos Andrade e Rubens Jambo (com a pasta), em Maceió

Atua, ainda, na luta pela defesa do petróleo, em especial na campanha pelo monopólio estatal “O Petróleo é Nosso”. É transferido para Mato Grosso, como punição por sua atuação política nas forças armadas. Nesse momento, decide deixar a vida militar. Passa a viver em São Paulo, continuando sua ação político-partidária clandestina como assistente do PCB no setor militar. Em 1957, volta a viver em Alagoas.

Em Maceió, trabalhou no Jornal de Alagoas, no Diário de Alagoas e na Tribuna de Alagoas. Na década de setenta representou a revista Ficção, da Editora Paz e Terra, onde publicou vários contos. Foi editor do jornal literário A Ponte, criado pelo poeta e escritor Marcos de Farias Costa. É um dos fundadores, na década de 1960, da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Alagoas. Foi também diretor da Federação da APAE e, na década de oitenta, foi um dos fundadores do Movimento pela Vida, ONG ambientalista.

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Hermano Sósthenes Paranhos Jambo (1928-1996), jornalista profissional, foi, como os outros irmãos, jornalista vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo participado da criação do jornal camponês Terra Livre, com sede em São Paulo, capital. A primeira redação era composta pelos jornalistas Hermano Sósthenes Paranhos Jambo, Osvaldo R. Gomes, Derdieux Crispim, Nestor Veras e Jocelyn Santos. Antes trabalhou nas redações de O Dia e a Noite, no Rio de Janeiro.

O jornal funcionou de 1955 a 1964, quando foi fechado pelos militares que derrubaram o governo do presidente João Goulart. Dos jornalistas e colaboradores, alguns foram presos e outros passaram a viver na clandestinidade. Nestor Veras, líder camponês paulista, em 1975 foi sequestrado, torturado e morto em Belo Horizonte. O seu nome consta da relação dos desaparecidos políticos do Brasil.

Hermano Sosthenes na redação do jornal Terra Livre

Hermano Sósthenes passou a viver na clandestinidade no Rio de Janeiro. O Diário Oficial da União, no dia 14 de novembro de 2002, o declara anistiado político, concedendo-lhe reparação econômica, de caráter indenizatório permanente, em prestação mensal correspondente ao cargo de Redator, com base na Bolsa de Salários do Datafolha.

José Alberto Paranhos Jambo (1930-1991) foi um dos jovens que trabalharam no semanário Folha do Povo, em Recife, órgão oficial do PCB em Pernambuco. Em 16 de janeiro de 1953 o jornal foi invadido pela polícia no início do governo de Agamenon Magalhães. A modesta redação foi destruída. Os novos redatores, no dia seguinte, iniciaram a rotina de trabalho.

O advogado José Moura Rocha (gravata) e Alberto Jambo ( camisa estampada)

O jornal era dirigido por Romeu Negromonte, Clélia Silveira, Wilson Farias e Vlademir Maia Calheiros. Um grupo de jornalistas no início da carreira, como Alberto Jambo, não se deixaram intimidar pela repressão. Anos depois, retornou a Alagoas e foi trabalhar no Jornal de Alagoas, trabalhou também na Tribuna de Alagoas e no Diário.

Hélio Paranhos Jambo (1927-1986), jornalista, ator e funcionário público foi o único dos irmãos Jambo que não iniciou a carreira nos jornais do PCB. Trabalhou no Jornal de Alagoas, nas editorias de polícia, cidades e cultura. O jornalismo era uma das suas atividades profissionais, mas o seu tempo foi compartilhado com o trabalho no INPS, onde se aposentou.

Hélio Jambo

O teatro era a sua paixão, subir ao palco como ator, dirigir, escrever textos teatrais e realizar adaptações fazia  parte de sua vida. O teatro Deodoro foi um dos seus lugares prediletos e onde mais atuou.

Os irmãos Jambo constituíram, sem imaginar, uma “dinastia” que perdurou por meio século, trabalhando em redações de jornais em Alagoas e Pernambuco.

 

 

Fonte:

ABC das Alagoas: http://abcdasalagoas.com.br/

Cavalcanti, Paulo. Nos tempos de Prestes ‒ O caso eu conto como o caso foi. Memórias Políticas. 3º volume. Recife, Editora Guararapes, 1982.

 

 

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3 Comentários

  • Uma alegria essa recuperação histórica de figuras que nos honram. Conheci Rubens. Ainda tenho 2 livros seus – a biografia de Gregorio Bezerra. Belo trabalho Majella.

    • Fico feliz em saber que esses textos vão resgatando figuras importantes do jornalismo e da cultura de Alagoas.

      • Lembro de Arnoldo Jambo era muito amigo de meu pai Cavalcanti comerciante na Rua Boa Vista proprietário da CASA FIEL distibuidora de Revistas e revendedora da Loteria do Estado de Pernambuco ficava bem perto do Jornal de Alagoas

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