sexta-feira 26 de abril de 2024

Seresteiros da Pitanguinha anunciam fim das atividades

Questões financeiras e roubo à sede da associação cultural pesaram na decisão

22 de junho de 2021 12:48 por Da Redação

Grupo Seresteiros da Pitanguinha foi fundado em 1994 | Reprodução/Instagram

Após 27 anos, chega ao fim a história de um dos grupos que já havia se consolidado no calendário cultural de Maceió. O engenheiro, músico e compositor Alfredo Gazzaneo Brandão, vice-presidente da associação, anunciou, por meio de uma nota, o encerramento das atividades dos Seresteiros da Pitanguinha. O comunicado é de 14 de junho último.

Alfredo Gazzaneo Brandão, vice-presidente do grupo Seresteiros da Pitanguinha | Reprodução/Instagram

Em 1994, o grupo – que reúne pessoas de diferentes profissões, idades e classes sociais que têm em comum o gosto pela boa música, especialmente, pelas serestas – saiu pela primeira vez cantando e tocando músicas pelas ruas do bairro da Pitanguinha.

Apesar da tristeza, a parada do grupo cultural, que desde o início da pandemia não promove atividades, pode ser temporária. Ouvido pelo G1 Alagoas nessa segunda-feira (21), Gazzaneo disse que a pausa não é definitiva e que os motivos foram a pandemia, os gastos e um furto na sede da agremiação.

“Mais uma ação negativa dessa louca pandemia que mudou radicalmente a vida de todos nós. Mexeu com o emocional e com o financeiro trazendo consequências negativas para a maioria das pessoas. Voltar à nossa sede, depois da visita dos invasores, foi deprimente”, diz ele, na nota.

Baile promovido em 2020, antes da pandemia, pelos Seresteiros da Pitanguinha | REprodução/Instagram

Leia na íntegra:

É CHEGADA A HORA

A vida não é feita só de alegria e felicidade. Dela também fazem parte a tristeza, a melancolia e a saudade.

Para tudo existe um momento, o tempo certo. Difícil é aceitar que não dependem da nossa vontade. Estão previstos, determinados mas não temos a capacidade de perceber como, quando e por que. Simplesmente acontecem e entristecem, magoam e deprimem.

É este o meu sentimento, neste momento. Assistir ao final de um espetáculo, ao encerramento de um ciclo, ao desfecho de uma rica história na qual sou um dos atores, não fazia parte dos meus planos.

Presenciar o fechamento das cortinas é muito diferente da emoção de vê-las se abrir. Sair de cena, para quem se sente um artista, é muito triste, principalmente quando tomamos consciência de que é o último ato, o fim da temporada.

Mais uma ação negativa dessa louca pandemia que mudou radicalmente a vida de todos nós. Mexeu com o emocional e com o financeiro trazendo consequências negativas para a maioria das pessoas.

Voltar à nossa sede, depois da visita dos invasores, foi deprimente.

Não sei como denominá-los: se os chamo de meliantes, arrombadores, ladrões, ou se, preferindo imaginá-los nossos fãs, do tipo que avançam querendo tirar até o sangue dos seus ídolos, de loucos, por terem feito essa invasão, cometido essa violência, deixando limpas as salas e os espaços antes recheados de bens materiais e, de lembranças, conseguidos ao longo do tempo.

Nossa Organização se mantém através de recursos provenientes da realização de eventos, do esforço pessoal e financeiro do nosso presidente Emmanuel Fortes e da dedicação dos seus membros e de pessoas como Irene Lyra, que nos seus noventa e dois anos de idade, assume totalmente a responsabilidade da administração e controle da nossa sede.

Não temos aporte financeiro nem através de contribuição dos seus membros, nem do poder público. Arte e cultura no nosso estado não são devidamente valorizadas e muito menos, subsidiadas.

Como já falei anteriormente, para tudo existe um momento, o tempo certo, e chegou o nosso.

Tenho que entender, aceitar e, a partir de agora, administrar, seguindo em frente. Para trás ficarão as lembranças e as realizações dos quase vinte e oito anos de luta, de conquistas, empenho e dedicação em prol da arte e da cultura da nossa terra.

As primeiras sextas-feiras de cada mês, que estiveram mudas durante esses dezoito meses de reclusão, sem perspectiva concreta de reabertura das porteiras, de retomada do ritmo e da normalidade da vida, emudecem agora, de forma definitiva.

Que falta farão os pierrôs e colombinas e que falta faremos aos nossos foliões que esperavam ansiosamente a chegada do carnaval para pular no maior baile de Maceió? Festas sadias, onde as famílias brincaram durante dezessete anos num clima de paz, onde reinava a segurança e a alegria!

E o que dizer dos nossos artistas, que estão sem palco, sem casas de espetáculos, sem espaços para realização de eventos?

Impressiono-me com a intensidade que sinto a grandeza do nosso trabalho na hora em que tomo consciência de que acabou o tempo, de que chegou ao fim.

Sentirei muita falta do convívio do grupo, da família que é a nossa Organização.

Conforta-me saber que além das saudades deixaremos a certeza do cumprimento do nosso papel como fomentadores de cultura e disseminadores da arte e da alegria dentro e fora do Estado de Alagoas.

Enfim, sai de cena a Seresta da Pitanguinha, sem violões, cavaquinhos e percussão. Apenas seu estandarte faz evoluções provocadas pelo vento frio e forte da última caminhada.

Pelas ruas da Pitanguinha, seus cantores acompanham o cortejo, mudos, em respeito aos milhares de mortos, vítimas deste mal tão devastador, que sufocou e matou também nossos sonhos.

Maceió, 14 de junho de 2021

Alfredo Gazzaneo Brandão

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