segunda-feira 6 de maio de 2024

Os velhos bondes de Maceió

Um dia os bondes foram desativados pela multinacional. Os mais velhos, porém, lembram-se dos elétricos", dos bondes que enfeitavam Maceió.

28 de agosto de 2021 11:43 por Braulio Leite Junior

 

Bonde circulando pela Rua do Comércio. Fonte: www.historiadealagoas.com.br Foto: R. Stuckert.

Maceió barroca, Maceió dos maviosos pregões que enchiam de musicalidade as velhas ruas calçadas de pedras, a canção dos eixos apertados nas cunhas de madeira retiradas das matas do alto do Jacutinga. Carros de bois que levavam as sinhás e sinhazinhas para as missas de domingo acompanhadas de suas mucamas e acolitadas pelos senhores “coronéis” em seus cavalos baios. Possuía também seus bondes.

Já pela metade do século XIX a locomoção urbana e suburbana preocupava os governantes. O município crescia subia para o morro que hoje é popularmente chamado Farol.

Em 14 de junho de 1890 era fundada por um grupo de comerciantes e industriais a Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos, mais tarde se tornando um grupo sólido com denominação de Trilhos Urbanos.

A Companhia de Trilhos Urbanos foi organizada com capital de trezentos contos de réis, dividido em ações de duzentos mil reis. A guisa de incentivo, o governo da época lhe deu o privilégio por cinquenta anos.

A responsabilidade da nova empresa era grande, porque tinha a seu cargo o tráfego diário entre Jaraguá, Maceió, Bebedouro, Poço e Levada. Ao raiar do dia eram iniciados os trabalhos de locomoção do povo e concluídos às dez horas da noite.

As autoridades fiscalizavam os serviços da empresa, ficando estabelecido o seguinte roteiro:

1- entre Jaraguá e Bebedouro, uma viagem de 15 em 15 minutos;

2- entre Jaraguá e Bebedouro, uma viagem por hora;

3- entre Maceió e Levada, uma viagens por hora ;

4- na linha que circulava centro da cidade uma viagem de meia em meia hora;

Não esquecer que todo este trabalho era feito com animais – “tração animal” como o cronista da época registra (“os bondes de burros”).

Apesar do sistema empírico o tráfego de Maceió daqueles dias quando os “homens distintos” usavam fraque e cartola- já era grande. O relatório do ano de 1901 preparado pelos executivos (guarda-livros) da Trilhos Urbanos registra os seguintes dados:

1-passagens inteiras-335.548
2-passagens meias-383,080
3-passagens 2ª.classe-63.098
4-passagens gratuitas 20.465

Ainda no referido ano a empresa diz que as passagens pagas produziram a soma de 111:727$400, enquanto trafego de mercadorias em troys deu a quantia de 5.179$5700 .

Registra ainda o cronista daqueles dias que a Urbanos era uma das empresas mais importantes. “Trilhos prosperas da capital. Possuía prédios magníficos para estações em Jaraguá, Maceió e Bebedouro.

Já outra empresa, a Companhia Elevadora Jacuteguense, não ia muito bem. Tanto que suspendeu o tráfego. E seu proprietário, Manoel Araújo Pinheiro, ficou envolto num grande desgosto.

Maceió, todavia, ia crescendo mesmo com seus velhos “bondes burros”, que foram transferidos depois para Penedo quando foi fundada a Catu (Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos) com a eletrificação da cidade.

Bonde elétrico voltando para a Praça dos Martírios após o percurso inaugural por várias linhas em Maceió. Fonte: www.historiadealagoas.com.br

A Catu era tipicamente alagoana. Infelizmente naquela época a mentalidade entreguista dominava até o povo, o humilde. Era comum se dizer da Catu- que tinha um pioneiro como o saudoso Gustavo Paiva, que os seus serviços não prestavam porque não estavam nas mãos dos ingleses. “ Só os ingleses podem endireitar este troço”.

E a Cátia passou-se a Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil, subsidiária da Light, no Rio de Janeiro, da Tramways em Pernambuco, e de varias empresas de alguns estados. Gustavo Paiva tudo fez para não entregar a luz elétrica e os bondes aos trustes internacionais. Foi tragado pela força do capital estrangeiro, como aconteceu com Delmiro Gouveia.

Um dia os bondes foram desativados pela multinacional. Os mais velhos, porém, lembram-se dos elétricos”, dos bondes que enfeitavam Maceió. Era a condução do povo. Bondes que se enchiam nos dias de festas em Bebedouro, do Major Bonifácio, dos jogos do CSA, no Mutange. Bondes que rangiam poeticamente por Maceió, pelas ruas do Livramento, Comércio, Avenida da Paz, iam em demanda a Bebedouro, Jaraguá, Poço e Mangabeiras. Bondes que subiam ao Farol, que levavam os enterros para os cemitérios, que conduziam mercadorias dos trapiches de Jaraguá para os armazéns da cidade. Bondes que eram a alegria da juventude quando do “dia do estudante”. Bondes do “rapé” do seu Catuaba, motorneiro famoso, com sua cabeleira de Castro Alves. Tudo agora é lembrança. E nem deixaram um bonde numa praça qualquer, para um velho de hoje dizer para um neto: “Olhe, seu avô andava num carro daquele quando você não era nem nascido…”.

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