sexta-feira 3 de maio de 2024

Graciliano e o admirável mundo novo de Viçosa

O menino que deu no velho Graça tem a sustança fermentada em Viçosa. Para todo o sempre.

2 de outubro de 2021 8:38 por Da Redação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XICO SÁ é jornalista e escritor

“Constrangi-me no ambiente novo.”
Silêncio.

É o menino Graciliano, léguas e léguas ainda longe do velho Graça, ao pisar o chão de Viçosa.

“Constrangi-me no ambiente novo, perdi hábitos e adquiri hábitos.” Não era uma mudançazinha besta, como prova o livro “Infância”.

Era uma assombração de novidades. O menino de sete anos deixara uma fazenda em Buíque, Pernambuco, para viver numa irrequieta cidade alagoana. Pouco mais de duzentos quilômetros, o que parecia, naquele final do século XIX ‒ 1899 ‒, um estirão de perder de vista e de tempo verbal.

“Objetos e palavras inexistentes no sertão originavam incerteza, e a maneira de falar me chocava os ouvidos.” Segue a voz do menino. Aí está a confissão assustada do matuto que vivia embrenhado na paisagem agrestina/sertaneja ‒ Buíque flerta com os dois mundos ‒ e descortina o cenário urbano de uma Zona da Mata influenciada por alguns ares mais cosmopolitas, apesar de constituir ainda “um reino de analfabetos”, como descreve um dos autores de “Graciliano em Viçosa”.

O menino que deu no velho Graça tem a sustança fermentada em Viçosa. Para todo o sempre. Na arte e na existência. Daí a importância dessa arqueologia poética de Sidney Wanderley. Uma busca com o faro de um filho da terra que ao procurar os rastros de Graciliano amplia, e muito, o retrato da sua aldeia para o mundo.

É deste chão que nasce o maior anti-herói da literatura brasileira, o personagem Paulo Honório, reserva de brutalidades e ressentimentos, o homem de “São Bernardo”. Do mesmo barro cria-se a professora Madalena, toda trabalhada na delicadeza, a mulher da árida criatura. E é nesta mesma Viçosa, no ano de 1971, que a turma do diretor Leon Hirszman filma a versão da obra para o cinema. Um rebuliço no interior das Alagoas, como relata SW: “A cidade experimentou dias agitados e diferentes, com toda aquela tropa aboletada no Hotel Princesa das Matas, a filmar a feira do sábado, o casario da praça principal, a Matriz, o pedregoso rio Paraíba, os bares e os cabarés Mar de Rosa e Cabeça de Boi ‒ o primeiro nos Paus Brancos, a caminho do Sabalangá, o segundo ao final da rua do Gurganema (atual Tibúrcio Nemésio)”.

Mar de Rosa e Cabeça de Boi, batismos tão Madalena/Paulo Honório. Viajo na geografia sentimental do poeta Sidney Wanderley. Quem dera um passeio por essa noite com o boêmio Zé do Cavaquinho! Choraríamos todos no bar Trovador Berrante.

“Graciliano em Viçosa” é excelente e cumpre a tarefa de revelar aspectos desconhecidos e importantíssimos na vida e obra do velho Graça, mas quando SW embaralha a sua condição de filho da terra com o sentido da linguagem graciliânica, o livro toca simplesmente o sublime. Atenção especial para o encontro do menino Sidney com o Mestre Amaro. A arte de tirar da madeira tudo aquilo que não for cavalo. Admirável!

Para fechar o volume, “O declínio da narrativa e a perda de experiência em ‘Infância’”, um ensaio de Júlia Cunha para a conclusão do seu curso de Letras na Universidade Federal de Alagoas. Amparada em Walter Benjamin e Giorgio Agamben, entre outros guias do estudo, a coautora apresenta o caráter ficcional desta obra importantíssima de GR.

Tirar “Infância” da teia de aranha da prateleira empoeirada da memorialística e trazê-lo para a bodega do romance é um jogo sutil e sofisticado. Uma extraordinária contribuição de Júlia para novas leituras dos admiradores da obra.

Ao viver também a experiência da viagem com Sidney Wanderley para a Viçosa ‒ com pegadas graciliânicas ‒ e colaborar com a seleção dos registros fotográficos, a ensaísta coloca seu filtro benjaminiano do afeto a serviço deste livraço.

Boa leitura a todos.

 

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