sábado 18 de maio de 2024

Como a Rússia irá retaliar após a Declaração de Guerra dos EUA/UE

5 de março de 2022 2:13 por Da Redação

 

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Por Pepe Escobar

Só a auto-suficiência permite uma independência total. E o Grande Quadro também foi muito bem compreendido pelo Sul Global.

Um dos principais temas subjacentes à matriz Rússia/Ucrânia/NATO é que o Império das Mentiras (copyright Putin) foi sacudido até ao núcleo pela capacidade combinada dos mísseis hipersónicos russos e um escudo defensivo capaz de bloquear a entrada de mísseis nucleares do Ocidente, pondo assim fim à Destruição Mútua Assegurada (MAD).

Isto levou os americanos a quase arriscar uma guerra quente a fim de poderem colocar mísseis hipersónicos que ainda não possuem nas fronteiras ocidentais da Ucrânia e ficarem assim a três minutos de Moscovo. Para isso, é claro, precisam da Ucrânia, bem como da Polónia e da Roménia na Europa Oriental.

Na Ucrânia, os americanos estão determinados a lutar até à última alma europeia – se é isso que for preciso. Este pode ser o último lançamento dos dados (nucleares). Portanto, o derradeiro suspiro para coagir a Rússia a submeter-se, utilizando a única arma americana de destruição maciça que ainda resta e que é viável: o SWIFT.

No entanto, esta arma pode ser facilmente neutralizada com a rápida adopção da auto-suficiência.

Com o contributo essencial do inestimável Michael Hudson, delineei as possibilidades de a Rússia resistir à tempestade de sanções. Isto nem sequer considera a plena extensão da “caixa negra da defesa” – e de contra-ataque – da Rússia, tal como esboçado por John Helmer na sua introdução a um ensaio que anuncia nada menos que O Regresso de Sergei Glaziev.

Glaziev, detestado nos círculos atlanticistas como seria de prever, foi um conselheiro económico fundamental do Presidente Putin e é agora o ministro para a Integração e Macroeconomia da União Económica da Eurásia (EAEU). Sempre foi um crítico feroz do Banco Central russo e do bando oligárquico estreitamente ligado às finanças anglo-americanas.

O seu ensaio mais recente, Sanctions and Sovereignty, originalmente publicado por expert.ru e traduzido por Helmer, merece uma análise séria.

Este é um dos pontos de partida principais:

“As perdas russas de PIB potencial, desde 2014, ascendem a cerca de 50 milhões de milhões (trillion) de rublos. Mas só 10% delas podem ser explicadas pelas sanções, pois 80% delas foram o resultado da política monetária. Os Estados Unidos beneficiam de sanções anti-russas, substituindo a exportação de hidrocarbonetos russos para a UE e para a China; substituindo a importação de bens europeus pela Rússia. Poderíamos compensar completamente as consequências negativas das sanções financeiras se o Banco da Rússia cumprisse o seu dever constitucional de assegurar uma taxa de câmbio estável do rublo, e não as recomendações das organizações financeiras de Washington”.

Des-offshore ou falência

Glaziev recomenda essencialmente:

  • Uma “des-offshorização real da economia”.
  • “Medidas para tornar mais rigorosa a regulamentação cambial, a fim de travar a exportação de capitais e expandir a concessão de empréstimos a empresas que necessitam financiar investimentos”.
  • “Tributação da especulação monetária e das transacções em dólares e euros no mercado interno”.
  • “Investimento sério em I&D a fim de acelerar o desenvolvimento da nossa própria base tecnológica nas áreas afectadas pelas sanções – antes de mais a indústria da defesa, energia, transportes e comunicações”.

E por último, mas não menos importante, “a des-dolarização das nossas reservas cambiais, substituindo o dólar, o euro e a libra pelo ouro”.

O Banco Central Russo parece estar a ouvir. A maior parte destas medidas já está em vigor. E há sinais de que Putin e o governo estão finalmente prontos a agarrar a oligarquia russa pelos tomates e forçá-la a partilhar riscos e perdas num momento extremamente difícil para a nação. Adeus à acumulação de fundos retirados da Rússia para offshores em Londongrad. Glaziev trata do real. Em Dezembro de 2014 estive numa conferência em Roma e Glaziev participou connosco pelo telefone. Ao rever uma coluna posterior que escrevi na altura, Entre Roma e Pequim, fiquei atónito:   é como se Glaziev estivesse literalmente a dizer estas coisas hoje.

Permitam-me que cite dois parágrafos:

“No simpósio, realizado num antigo refeitório dominicano do século XV, divinamente fresco, que agora faz parte da biblioteca do parlamento italiano, Sergey Glaziev, ao telefone de Moscovo, fez uma leitura crua da Guerra Fria 2.0. Não há um verdadeiro “governo” em Kiev; o embaixador dos Estados Unidos está no comando. Uma doutrina anti-Rússia foi incubada em Washington para fomentar a guerra na Europa – e os políticos europeus são os seus colaboradores. Washington quer uma guerra na Europa porque está a perder a competição com a China”.

“Glaziev abordou as sanções demenciais: A Rússia está a tentar reorganizar simultaneamente a política do Fundo Monetário Internacional, combater a fuga de capitais e minimizar o efeito de bancos que fecham linhas de crédito para muitos homens de negócios. No entanto, o resultado final das sanções, diz ele, é que a Europa será o perdedor económico final; a burocracia na Europa perdeu o foco económico à medida que os geopolíticos americanos assumiram o controlo”.

Tem de pagar o “imposto sobre a independência”

Parece emergir em Moscovo um consenso de que a economia russa se estabilizará rapidamente, uma vez que haverá escassez de pessoal para a indústria e um bocado de mão-de-obra extra será necessária. Portanto, não haverá desemprego. Poderá haver escassez, mas não inflação. As vendas de produtos de luxo – ocidentais – já foram reduzidas. Os produtos importados serão colocados sob o controlo de preços. Todos os rublos necessários estarão disponíveis através de controlos de preços – como aconteceu nos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Uma onda de nacionalização de activos poderá estar pela frente. A ExxonMobil anunciou que se retirará do projecto Sacalina-1, no valor de US$4 mil milhões (eles haviam abandonado o Sacalina-2, considerado demasiado caro), produzindo 200 mil barris de petróleo por dia, depois de a BP e a Equinor da Noruega terem anunciado a sua retirada de projectos com Rosneft. A BP estava na verdade a sonhar em tomar toda a participação da Rosneft.

Segundo o Primeiro-Ministro Mikhail Mishustin, o Kremlin agora está a bloquear a venda de activos por investidores estrangeiros que procuram desinvestir. Paralelamente, Rosneft, por exemplo, é obrigada a angariar capital da China e da Índia, que já são investidores minoritários em vários projectos, e a comprá-los a 100%: uma excelente oportunidade para os negócios russos.

O que poderia ser interpretado como a Mãe de Todas as Contra-Sanções ainda não foi anunciado. O próprio vice-presidente do Conselho de Segurança Dmitry Medvedev deu a entender que todas as opções estão em cima da mesa.

O ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov, encarnando a paciência de 10.000 monges taoistas, ainda espera que a histeria actual se dissipe, descreve as sanções como “uma espécie de imposto sobre a independência”, com países sob “enorme pressão” para impedirem as suas empresas de trabalhar na Rússia.

Contragolpes letais, no entanto, não são de excluir. Além da desdolarização total – como recomenda Glaviev – a Rússia pode proibir a exportação de titânio, terras raras, combustível nuclear e, já em vigor, motores de foguetes.

Medidas muito tóxicas incluiriam confiscar todos os activos estrangeiros de nações hostis; congelar todos os reembolsos de empréstimos a bancos ocidentais e colocar os fundos numa conta congelada num banco russo; proibir completamente todos os media estrangeiros hostis, a propriedade estrangeira dos media, ONG e variadas frentes da CIA; e fornecer às nações amigas armas no estado da arte, partilha de inteligência, treino e exercícios conjuntos.

O que é certo é que uma nova arquitectura de sistemas de pagamento – como discutido por Michael Hudson e outros – unindo o SPFS russo e o CHIPS chinês, poderá em breve ser oferecida a dezenas de nações da Eurásia e do Sul Global – várias delas já sob sanções, tais como o Irão, Venezuela, Cuba, Nicarágua, Bolívia, Síria, Iraque, Líbano e a RPDC.

Lenta mas seguramente, já estamos a caminho da emergência de um consinderável bloco do Sul Global imune à guerra financeira americana.

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Os RIC nos BRICS – Rússia, Índia e China – já estão a aumentar o comércio nas suas próprias divisas. Se olharmos para a lista de nações na ONU que votaram contra a Rússia ou se abstiveram de condenar a Operação Z na Ucrânia, mais aquelas que não sancionaram a Rússia, temos pelo menos 70% de todo o Sul Global.

Assim, mais uma vez, o Ocidente – mais satrápias/colónias como o Japão e Singapura, na Ásia – contra o resto: Eurásia, Sudeste Asiático, África, América Latina.

A aproximação do colapso europeu

Disse-me Michael Hudson: “Os Estados Unidos e a Europa Ocidental esperavam uma Froelicher Krieg (“guerra feliz”). A Alemanha e outros países ainda não começaram a sentir a dor da privação de gás, minerais e alimentos. ESSE vai ser o verdadeiro jogo. O objectivo seria separar a Europa do controlo dos EUA via NATO. Isto implicará “intromissão” ao criar um movimento político e um partido da Nova Ordem Mundial, como o comunismo foi há um século atrás. Poder-se-ia chamar-lhe um novo Grande Despertar”.

Um possível Grande Despertar certamente não envolverá a esfera da NATOstão dentro em breve. O Ocidente colectivo está num modo de Grande Dissociação (Great Decoupling) bastante grave, toda a sua economia armada com o objectivo, expresso abertamente, de destruir a Rússia e mesmo – o perene sonho ansioso – de provocar uma mudança de regime.

Sergey Naryshkin, o responsável do SVR, descreveu-o sucintamente:

“As máscaras caíram. O Ocidente não está apenas a tentar fechar a Rússia com uma nova “Cortina de Ferro”. Estamos a falar de tentativas de destruir o nosso Estado – a sua ‘abolição’, como é agora habitual dizer no ambiente liberal-fascista ‘tolerante’. Uma vez que os Estados Unidos e os seus aliados não têm nem a oportunidade nem o espírito para tentar fazê-lo numa confrontação político-militar aberta e honesta, estão a ser feitas tentativas sorrateiras para estabelecer um “bloqueio” económico, informativo e humanitário.

É possível que o ápice da histeria ocidental seja o início de uma Jihad Neo-Nazi de 2022: um exército mercenário de 20.000 homens a ser reunido na Polónia sob a supervisão da CIA. O grosso vem de empresas militares privadas como a Blackwater/Academi e a DynCorp. A sua cobertura: “regresso de ucranianos da Legião Estrangeira francesa”. Este remix afegão provém directamente da única cartilha que a CIA conhece.

De volta à realidade, os factos no terreno acabarão por levar economias inteiras no Ocidente a serem atropeladas – com o caos na esfera das commodities a levar a um disparar dos custos energéticos e alimentares. Como exemplo, até 60% das indústrias transformadoras alemãs e 70% das italianas podem ser forçadas a encerrar definitivamente – com consequências sociais catastróficas.

A máquina uber-kafkiana não eleita da UE, em Bruxelas, optou por cometer um triplo hara-kiri por se apresentar como vassala abjecta do Império, destruindo quaisquer impulsos remanescentes de soberania francesa e alemã e impondo a alienação da Rússia-China.

*É jornalista

 

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