8 de março de 2022 2:12 por Da Redação
Há sete anos, D. Irene não tem notícias do filho Elias Nataniel, que tinha 14 anos ao desaparecer no município de Passo de Camaragibe, localizado no Litoral Norte do Estado. Ela relata que sua vida parou no tempo entre idas e vindas à cidade, além de pedidos de ajuda às autoridades policiais.
“Meu filho era uma pessoa calma. Não tinha vício e era uma pessoa de bem. Ficamos procurando por dois e três dias e ele não apareceu. Fizemos buscas por conta própria. Tive muita dificuldade para registrar o boletim de ocorrência. Só fiz em Maceió. O delegado disse que meu filho desapareceu porque ele quis. Só tinha essa notícia”, disse.
Ela lamenta o abandono do caso já que são vários anos sem novidades e percebe que não há mais interresse na localização. “A última vez que fui lá foi quando ele disse que não tinha bola de cristal para achar o meu filho. Quero encontrá-lo vivo ou morto. Vou na delegacia de lá e sou vista como um nada. Estou aqui tremendo por emoção. Até o dia de hoje nunca mais disseram nada. Poder público não liga para pobre”, sentenciou Irene.
O caso dela e a situação das famílias de crianças e adolescentes desaparecidos foi tema de uma audiência pública realizada nessa segunda-feira (7), na Câmara de Maceió. A iniciativa foi da vereadora Teca Nelma (PSDB).
Com base em números e estatísticas, ela explicou que a proposta foi dar voz às famílias das vítimas, entidades e autoridades que lidam diretamente com o problema. Mas, também discutir como o município pode contribuir para a prevenção de novos casos com ações sociais que garantam o acolhimento das crianças e suas famílias a partir da execução de políticas públicas como a expansão de creches e escolas na periferia.
“Não conseguiremos construir uma política pública só. Mas sim com o apoio de todos os presentes. É importante ouvir as mães e familiares das crianças desaparecidas. Se sintam avontade. Temos o contato de muitos pais e mães que contaram que é muito doloroso relembrare vir ao plenário para falar de algo que não foi resolvido. Por isso agradeço aos que vieram aqui e aos que não puderam comparecer. Espero que essa audiência seja um start para a partir daqui possamos ter ações efetivas”, disse Teca.
No Brasil, desde 2017, foram feitos registros de 80 mil boletins de ocorrência de casos de desaparecimento. No momento há 62 mil pessoas desaparecidas, o que dá uma média de 172 casos por dia, conforme dados do Anuário de Segurança Pública . Em Alagoas, há 1.400 registros de desaparecimento, dos quais 30% são de crianças e adolescentes, segundo registros do Sistema Nacional de Identificação e Localização de Pessoas Desaparecidas (Sinalid).
Entre os convidados da sessão estavam Arísia Barros, do Instituto Raízes de Áfricas; a conselheira tutelar da região II que abrange do Pontal ao Centro, Valmênia Santos; a promotora Dalva Tenório, titular da 59° promotoria, que trata de crimes contra vulneráveis; representando a Secretaria Estadual de Defesa Social, o secretário adjunto Coronel Elias; o gerente do Programa de Localização de Pessoas Desaparecidas do MPE, Tomás Fireman; o vice-presidente do Fórum Estadual dos Conselheiros e Ex-conselheiros Tutetalares, Arquimedes Washington; o vereador Raimundo Medeiros (PTC); e a deputada estadual Jó Pereira (MDB).