sexta-feira 29 de março de 2024

Bar da Gil: um espaço de memória e boemia

2 de julho de 2022 9:18 por Geraldo de Majella

 

Gil e o filho Jamerson, ao lado Everaldo Gama. Fonte: Arquivo Geraldo de Majella

O Bar da Gil é um espaço cultural que faz parte da história de Maceió. Aberto ao público há mais de quarenta anos, no cruzamento das Ruas 26 de Abril com a Jornalista Jayme Miranda, no bairro do Poço, gerações de boêmios frequentaram esse espaço que vem sendo tratado como ambiente de sociabilidade de moradores do bairro e, também, de intelectuais, esportistas e políticos.

A importância do Bar da Gil para a cidade tornou-se objeto de estudos e pauta da mídia e das redes sociais a partir da gastronomia criada com a simplicidade de sua idealizadora, Gilzete (Gil) Alves de Lima, 66 anos.

A história de uma cidade pode ser contada com base em seus fatos históricos, nas lembranças de sua população, através da sua arquitetura e dos eventos culturais. Cada vez mais esse tipo de abordagem ganha força nas universidades e entre os intelectuais que produzem as memórias afetivas dos bares.

A pluralidade dos frequentadores do Bar da Gil é a mais ampla possível. No final da década de 1970, reuniam-se comunistas do PCB, com assiduidade. Em frente ao bar funcionava a renovadora de pneus cujos sócios eram dois conhecidos dirigentes do PCB, Antônio Omena e Rubens Colaço.

A boemia e a política se misturavam naqueles anos tristes de ditadura militar. Havia uma turma formada por profissionais da saúde, médicos sanitaristas, assistentes sociais, enfermeiros (as) liderados por Dário Bernardes e Lídia Torres Bernardes, sua companheira, Áureo Torres, Ubiratan Pedrosa, Genilda Leão, Noracy Pedrosa, que se juntavam aos técnicos da Emater para beber e degustar saborosos tira-gosto.

Em 1979, com a conquista da anistia, os presos políticos foram libertos e os exilados retornaram como Rholine Sonde Cavalcante, Selma Bandeira, Valmir Costa, Lauro Bandeira e Nilson Miranda incluíram em seus roteiros gastronômicos e etílicos o Bar da Gil. A militância de esquerda tinha mais um espaço para conversar e resistir à dureza dos anos de chumbo.

Um rio de cerveja e cachaça foi entornado e novas gerações foram sendo habilitadas ao convívio fraternal sob o comando carinhoso da Gil, para quem há mais de quarenta anos frequenta o bar e se sente membro da família. O espaço foi se modificando sem perder o principal atrativo: as comidas caseiras, servidas com fartura e amor.

Em quatro décadas, várias turmas se formaram e se mantêm fiéis, frequentando o bar às quintas-feiras, como se fosse um ato religioso. A pandemia impôs o isolamento, mas nem por isso as quintas-feiras deixaram de acontecer, agora virtualmente, através de live e do grupo de WhatsApp.

Ao saberem do falecimento amigos declararam:

“Uma legião de órfãos e a quinta-feira mais triste dos últimos quarenta anos: vivemos hoje a dor e o pesar da morte de nossa amiga Gil, confidente coletiva, mãe e amiga dos jovens garotos universitários que começaram a frequentar seu bar como um bando a partir de 1981.” (Dinho Lopes)

“Meus sentimentos à família e minha homenagem a essa mulher tão simpática, de grande talento culinário, que tornou seu bar muito acolhedor. No meu tempo de militância no PCB, estava sempre por lá com os companheiros.” (Maria José Lins)

“Saudades! Todas às sextas-feiras tínhamos um bate-papo gostoso entre os profissionais de saúde com o operário Rubens Colaço, que declamava poemas de Guerra Junqueiro, Castro Alves e Zé Limeira. Que tristeza!” (Genilda Leão)

O seu falecimento, ocorrido no dia 30 de junho, é um momento de tristeza para os seus familiares e amigos, e também para a cultura de Maceió. O sepultamento foi realizado na tarde do dia 1º de julho no cemitério de São José, em Maceió, e contou com a presença de centenas de amigos e familiares.

Que a terra lhe seja leva.

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