29 de março de 2023 2:03 por Da Redação
Por Lenilda Luna*
Na disputa contra as forças reacionárias da nossa sociedade, já foi preciso defender que a terra é redonda, gira em torno do sol e que sim, aconteceu uma ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, denunciada internacionalmente e condenada por crime contra a humanidade pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, que já exigiu por mais de sete vezes que o Brasil apure os atos
de tortura e responsabilize os torturadores e mandantes.
Existem opiniões conciliatórias também, que propagam que é preciso deixar essas mágoas no passado e seguir a vida. Foi por não punir os criminosos da ditadura militar que ainda lidamos com o silenciamento sobre os atos golpistas e a prática de tortura pelas forças policiais. E não dá para dizer que é exagero quando toda a sociedade assistiu à tortura e morte de Genivaldo Santos, em outubro do ano passado, numa câmara de gás improvisada na mala da viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Pois bem, a disposição da geração de 1968, e da militância que defende esse legado, está resumida no lema: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça: Ditadura Nunca Mais”. A Comissão Nacional da Verdade, instituída legalmente em 2011, concluiu o relatório apontando 434 mortos nos cárceres da Ditadura e 210 desaparecidos, responsabilizando 377 agentes do Estado por
graves violações. No Brasil, apenas um foi punido: o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto.
Ato contra a ditadura
Para exigir a punição dos crimes praticados neste período terrível da nossa história, a Unidade Popular (UP) convoca a população para lutar de forma corajosa contra o fascismo, seguindo o exemplo de grandes alagoanas e alagoanos que lutaram contra a Ditadura militar.
Na sexta-feira, dia 31, às 19h, no auditório do Ifal maceió, haverá homenagens para Manoel Lisboa, Odjas Carvalho, Gastone Beltrão, José Gomes Teixeira, Manoel Fiel Filho, José Dalmo, Jayme Miranda, Túlio Quintiliano e Luiz Almeida Araújo. O ato é organizado pela Comissão Estadual Memória, Verdade e Justiça.
Já no sábado, dia 1° de abril, dia do Golpe Militar, os ativistas vão se concentrar às 9h, no calçadão do Centro, em frente ao antigo Produban, para denunciar os golpistas de ontem e de hoje, que devem responder pelos crimes hediondos que cometeram contra toda a sociedade.
Cajá está sendo torturado e você vai à aula?
O ato de sábado vai contar com a participação de Edival Nunes Cajá, que era estudante de Sociologia e dirigente do DCE da UFPE, quando, em 12 de maio de 1978, foi sequestrado por agentes do Estado, colocado num carro e levado para a cadeia, onde foi torturado. Uma ampla campanha foi mobilizada pela libertação de Cajá, com a colaboração de dom Helder Câmara e o reforço da greve de 12 mil
estudantes da Universidade onde estudava.
As faixas e cartazes “Cajá está sendo torturado e você vai à aula?” espalharam-se por Recife e deram visibilidade aos crimes da Ditadura. Cajá foi o último preso político a ser libertado, em 1979. Hoje, com mais de 70 anos, Cajá continua firme na militância e é dirigente do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco e do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que ele fundou junto com o alagoano Manoel Lisboa, entre outros jovens, em 1966.
Serviço:
Homenagem da Comissão Memória, Verdade e Justiça (AL) aos mortos e desaparecidos vítimas da Ditadura em Alagoas, na sexta-feira (31), 19h, no auditório do Ifal.
Ato pela punição dos crimes da ditadura militar, no sábado, 9h, no Calçadão do Centro, em frente ao antigo Produban.
*É jornalista