segunda-feira 29 de abril de 2024

Alunos do 3º ano do ensino médio de SP não têm conteúdos que caem no Enem

Não há aulas de biologia, química, história e geografia. Muito menos de sociologia e filosofia. Além disso, a reforma no ensino médio reduziu em 60% a carga horária de matemática e português no terceiro ano
O então governador de SP João Doria quis “sair na frente”, antecipando a adoção do novo ensino médio na rede estadual, em 2021. Mas a rede particular preferiu não seguir o governo | Reprodução

Por Redação RBA

Os alunos do terceiro ano do novo ensino médio da rede estadual paulista não têm aulas de biologia, química, história e geografia. Muito menos de sociologia e filosofia. Pelo currículo antigo, havia duas aulas por semana de cada uma dessas disciplinas em todos os três anos. Para piorar, o ensino de matemática e português sofreu redução de 60%.

Todo esse enxugamento, justamente quando os estudantes vão prestar o Enem ou outros processos seletivos e precisam desses conteúdos, resulta da implementação do novo ensino médio. São Paulo foi o primeiro estado a adotar a reforma baixada no governo de Michel Temer. O então governador João Dória quis “sair na frente” ainda em 2021, um ano antes dos demais.

A matriz curricular definida no governo Doria concentrou as disciplinas das áreas de humanas e ciências da natureza nos dois primeiros anos do ensino médio. Dessa maneira, no último ano, quando se preparam para tentar uma vaga na universidade, os alunos têm pouco conteúdo exigido nesses testes. E ficam ocupados com o programa dos chamados itinerários formativos, que são outro problema, segundo especialistas e estudantes.

Ao jornal Folha de S.Paulo, segundo reportagem publicada neste domingo (16), o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que estuda ajustes na grade curricular. E que defende a oferta de menos itinerários e “novas abordagens de forma a garantir direitos”. Mas não indica se pretende ampliar a carga horária de disciplinas regulares.

Não há estrutura para o novo ensino médio

Esses itinerários formativos, que em tese permitem aos alunos optarem por uma área do conhecimento para se aprofundar, com vistas a seu interesse profissional, não estão funcionando na prática. Em muitas escolas não há a oferta do que os alunos escolhem para inúmeras razões: faltam estrutura, e professores. Ou esses itinerários não dialogam com os conteúdos, como deveriam.

“Eu estou no último ano do ensino médio, devia estar me preparando para fazer o Enem, ter aulas do conteúdo que vai cair na prova. Mas chego à escola e só tenho aulas sem sentido, que não ajudam em nada”, disse à Folha a aluna Laura Neris, 17, aluna da escola estadual Dom Pedro I, na zona leste da capital.

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Segundo ela, que quer cursar história, optou pelo itinerário de ciências humanas no primeiro ano. A escola a direcionou para um itinerário chamado “Quem divide, multiplica”. Conforme a ementa, trata-se da junção de conteúdos interdisciplinares de humanas e matemática. “As aulas são confusas, os professores não sabem que conteúdo abordar”.

Embora os setores conservadores defendam a reforma, as escolas particulares não a adotaram. E isso aprofunda ainda mais as desigualdades educacionais, como já alertam há anos os especialistas, professores e estudantes. “As escolas particulares continuam ofertando todas as disciplinas regulares em todos os anos. Elas não abandonaram essas matérias porque sabem que precisam preparar seus alunos para os vestibulares”, disse ao jornal a presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), Anna Helena Altenfelder.

Reforma em SP já traz prejuízos aos alunos

Um levantamento da Rede Escola Pública e Universidade (Repu) mostra que o Novo Ensino Médio já traz prejuízos aos estudantes em São Paulo. Feito a partir de dados da secretaria de educação paulista após solicitação via Lei de Acesso à Informação, o estudo aponta três problemas da reforma, que a propaganda não mostra: A limitadíssima “liberdade de escolha”; a falta de professores nas escolas devido ao mau planejamento da atribuição docente; e a expansão da carga horária escolar via ensino a distância, precarizando a oferta educacional. O resultado, segundo os autores do levantamento, é o aumento de desigualdades escolares, em prejuízo do ensino noturno, frequentado pelos mais pobres e vulneráveis.

Esse aumento da desigualde educacional e social devido às diferenças de oportunidades esteve no centro da mensagem do professor e jornalista Ricardo Pereira em seu post no Twitter. Ele lembrou a personagem Jéssica, vivida pela atriz Camila Márdiga, filha da doméstica Val, interpreta por Regina Casé no filme “Que horas ela volta?”. Na obra de Anna Muylaert, Jéssica é aprovada no concorrido vestibular da FAU/USP. Já Fabinho, o filho da patroa, é reprovado para a ira da mãe Bárbara (Karine Teles), um exemplar da Casa Grande que surta com o pobre na universidade.

Estudantes nas ruas neste dia 19

A pressão pela revogação da chamada reforma do ensino médio é grande. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a suspensão da implementação. O ministro da Educação, Camilo Santana, defende medidas que, segundo ele, poderiam “aprimorar”.

Por isso, trabalhadores e estudantes seguem firmes pela revogação e o início da construção de um ensino médio que dialogue com as necessidades e interesses dos estudantes. E que assim haja educação de qualidade para a redução das desigualdades educacionais e que as oportunidades de acesso à universidade e ao mercado de trabalho sejam iguais para todos. No dia 19 de abril, próxima quarta-feira, será realizado o segundo dia nacional de mobilização contra o novo ensino médio.

 

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