domingo 5 de maio de 2024

Moradores de favelas têm prejuízo de R$ 14 milhões por ano como consequência da ‘guerra às drogas’

Pesquisa inédita mostrou também que comerciantes perdem até R$ 2,5 milhões por ano em decorrência de operações policiais
Moradores e comerciantes de favelas do Rio de Janeiro têm seu orçamento afetado por conta da violência provocada por agentes do Estado – Divulgação/Redes da Maré

Por Jéssica Rodrigues, do Brasil de Fato

O impacto da chamada “guerra às drogas” no Rio de Janeiro atinge a população de diferentes formas. O orçamento de moradores e comerciantes de favelas, que sofrem diariamente com a violência provocada por agentes de estado, é afetado significativamente, revela a pesquisa Favelas na mira do tiro: Impactos da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios, um levantamento inédito do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).

Esta é a quarta etapa do projeto “Drogas: Quanto Custa Proibir”, que reforça o debate sobre os impactos da proibição e da guerra às drogas com dados e análises inéditas em quatro frentes de trabalho: segurança e justiça, educação, saúde e território.

Nesta etapa, a pesquisa analisou os complexos de favelas da Penha e Manguinhos, ambos na zona Norte da cidade, e somando a população dos dois locais, o prejuízo anual estimado é de R$ 14 milhões para os moradores em decorrência de ações policiais, além de R$ 2,5 milhões de prejuízo para os comerciantes e prestadores de serviços dos locais

A antropóloga e coordenadora de pesquisas do CESeC, Paula Napolião, explica que “as pessoas são impedidas de irem trabalhar quando há operação policial, elas têm bens danificados, suas casas são atingidas por disparos de armas de fogo, os comércios fecham suas portas e isso tem um custo para a sociedade e principalmente para esses moradores que estão ali vivenciando essa rotina de intenso tiroteio”.

“É uma política de drogas que custa muito caro aos cofres públicos e é ineficaz ao que ela se propõe que é diminuir a circulação e a venda de drogas na cidade”, enfatiza.

Paula reforça que essa política para combater o tráfico de drogas só é imposta nas favelas, locais onde os moradores são em sua maioria negros e pobres, mas que não acontece em locais considerados nobres.

“Essas operações policiais altamente letais deixam pessoas mortas, adolescentes e crianças inclusive. A gente vê nos noticiários todos os dias mortes de crianças e adolescentes, mas ela ocorre com certa naturalidade porque de maneira geral as pessoas concordam e endossam esse tipo de política. Então, esse tipo de situação, de rotina, extremamente violenta e letal só acontece nas favelas que são territórios majoritariamente negros”, diz.

Para o professor de Sociologia, Ignacio Cano, um dos consultores da pesquisa, a forma como a polícia age nas favelas além de ineficiente para combater o tráfico prejudica os moradores.

“A grande ironia disso tudo é porque supostamente a polícia intervém nessas áreas para desarticular os grupos armados para libertar as pessoas que moram lá, porém da forma que ela faz gera insegurança, prejuízos para educação, saúde, prejuízos econômicos, impossibilidade de se movimentar no dia a dia, de ir trabalhar, gera um custo gigante para as pessoas que moram nessas áreas”, explica.

Ignácio lembra que os moradores de favelas não são os únicos afetados economicamente, já que o dinheiro gasto para bancar as operações policiais sai dos cofres públicos.

“Estamos todos gastando uma fortuna para manter esse aparato de proibição, fortuna que poderia ser gasta, por exemplo, em programas de prevenção, desintoxicação que teria um benefício muito mais claro para as pessoas que têm problemas com uso abusivo das drogas”, finaliza.

Para esta etapa do estudo, foram selecionados dois territórios com a maior incidência de tiroteios decorrentes de ações policiais entre junho de 2021 e maio de 2022, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.

A pesquisa mensurou o impacto desses episódios na vida dos moradores e avaliou os efeitos para comerciantes e prestadores de serviços dessas localidades. Foram selecionadas as duas favelas mais afetadas por tiroteios de ambos os Complexos: Vila Cruzeiro, que registrou oito tiroteios no período estudado, e Mandela de Pedra, afetada por 10 episódios de violência armada, considerando um raio de até 400 metros a partir do centro dos territórios.

Mais lidas

CPI da Braskem tem 35 dias para concluir investigação, que inclui visita aos bairros destruídos

Com o objetivo de investigar a responsabilidade jurídica e socioambiental da mineradora Braskem no

Sem declarar IR cidadão não pode sequer receber prêmio de loteria que, acumulada, hoje sorteia

O prazo para entrega da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF) em

Risco de morte após a febre chikungunya continua por até 84 dias, diz Fiocruz

Em meio à epidemia de dengue e ao aumento de casos por febre chikungunya, um

Saúde volta a alertar alagoanos sobre medidas de prevenção contra a dengue

A Secretaria de Estado de Alagoas (Sesau) volta a alertar a população alagoana sobre

PF indicia filho de Bolsonaro por falsidade ideológica e lavagem de dinheiro

A Polícia Federal em Brasília indiciou Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Bolsonaro, pelos

FAEC anuncia calendário anual de eventos esportivos para o público escolar

A Federação Alagoana de Esportes Colegiais (FAEC) anunciou o calendário anual de eventos para

Bar do Doquinha: o lar enluarado da boemia

Por Stanley de Carvalho* Há 60 anos, quando os portões de Brasília começaram a

Seduc anuncia processo seletivo para a Educação Especial

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) divulgou no último dia 6, no Suplemento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *