sábado 27 de abril de 2024

Pode Marx explicar a crise de saúde mental?

Por que a teoria de alienação é chave para entender a dor coletiva? Como o sistema busca “privatizar” o sofrimento psíquico? Quais são as táticas corporativas de felicidade vazia para manter a exploração? Livro destrincha novos ardis do capital
Imagem: Jacob Lawrence

Micha Frazer-Carroll em entrevista a Taj Ali, no JacobinLat | Tradução: Rôney Rodrigues

Um novo estudo publicado neste mês pelo Chartered Institute for Personnel and Development (CIPD) da Grã-Bretanha mostra que o absentismo laboral [ausências no trabalho, seja por falta, atraso ou pouca motivação] atingiu o seu nível mais elevado em dez anos e que o estresse é uma das principais causas de doenças de longa duração. Uma análise de dados em mais de 900 empresas – que empregam 6,5 milhões de trabalhadores – revelou que, no último ano, 76% dos entrevistados tiraram licença médica devido ao estresse, com razões que incluem pressões relacionadas com o trabalho e com o custo de vida.

Reprodução

Embora seja cada vez mais evidente que o trabalho moderno está causando uma epidemia de problemas de saúde mental, na maioria dos casos continua ela continua a ser entendida e tratada como um problema médico individual. No seu novo livro Mad World: The Politics of Mental Health [Mundo Louco: a política de saúde mental, sem tradução Brasil] a jornalista e escritora Micha Frazer-Carroll questiona esta ortodoxia e sustenta que a crise da saúde mental é um fenômeno político moldado pelo capitalismo e pelas forças sociais que o sustentam. Micha conversou com o Tribune sobre o porquê dela acreditar que o declínio da saúde mental é um problema econômico e político – e que, portanto, requer soluções econômicas e políticas.

Em seu livro, você cita Marx em diversas ocasiões, especificamente a teoria da alienação. Por que você acha análise marxista é relevante para a compreensão da saúde mental no século XXI?

Muitas vezes pensamos que a obra de Marx é muito econômica e estrutural. Mas quando comecei a ler mais sobre a sua teoria da alienação, percebi que Marx também é um pensador bastante psicológico. Especificamente, a alienação é uma teoria muito focada no impacto psíquico, mental e emocional do trabalho no capitalismo. A discussão sobre como o trabalho sob o capitalismo nos separa de outros empregos e dos nossos desejos internos – e as repercussões mentais de não possuirmos as coisas que produzimos e de não trabalharmos para o bem maior da humanidade, mas para gerar lucros – são, para mim, questões de teoria psicológica.

A teoria da alienação de Marx é fundamental para a compreensão da saúde mental no capitalismo. Um ponto que afirmo no livro é que você pode chamar isso de coisas diferentes, seja saúde mental ou apenas angústia ou sofrimento. Quando Marx estava escrevendo, o conceito de saúde mental, tal como o entendemos hoje, não existia. Mas quando ele fala sobre sofrimento e alienação está se referindo a uma teoria de saúde mental que pode ser relacionada a teóricos posteriores. Refiro-me a Arlie Hochschild, que fala sobre o trabalho emocional e como temos que nos desdobrar (por exemplo, sorrir para os clientes quando não temos vontade de sorrir): isto tudo está relacionado com a alienação.

No livro, também tento estabelecer uma ligação entre o conceito de alienação e experiências de dissociação, que é mais um termo psiquiátrico. Falo muito sobre a dissociação porque foi algo que experimentei quando tive minha própria crise de saúde mental. De certa forma, a dissociação descreve a associação do baixo desempenho no capitalismo: a forma como temos constantemente que realizar uma representação ideal do estudante ou trabalhador, de alguém que tem as experiências emocionais ideais para funcionar no nosso sistema econômico. Considero que isso é muito relevante para a forma como pensamos sobre saúde mental.

Ler o seu livro me fez pensar em outro que li recentemente, chamado Worn Out, que analisa como a indústria da moda, de fast fashion, nos Estados Unidos vigia e explora os trabalhadores na era digital. Uma análise do seu livro é que o trabalho no varejo mudou para se assemelhar a uma linha de montagem. E depois, claro, falta pessoal para atender nos caixas, onde lidar com clientes irritados e frustrados exige um elevado grau de trabalho emocional.

Uma das pessoas que cito nesse capítulo fala sobre isso em relação à Amazon. Executar a mesma tarefa mundana, de alta velocidade e alta pressão repetidamente durante todo o dia é incrivelmente desgastante do ponto de vista emocional. Nem sempre mencionamos esse nome, mas o desempenho emocional é uma grande parte do trabalho.

Isto também se aplica ao profissionalismo no trabalho de escritório. Existem maneiras específicas de falar e se relacionar com as pessoas ao seu redor, e há tópicos apropriados ou inadequados para conversar no local de trabalho. Por exemplo, falar sobre sua vida pessoal ou sobre seu salário pode ser um tabu. São formas muito rígidas de se relacionar e expressar opiniões. É quase como se para ser trabalhador você tivesse que se separar de si mesmo.

Na Grã-Bretanha pré-industrial, as estações e as horas do dia determinavam o trabalho. Eles nunca tiveram uma fábrica para bater o ponto e nem eram monitorados. Sem pretender idealizar a vida pré-industrial, em alguns aspectos, esses trabalhadores tinham, sem dúvida, mais controle sobre as suas vidas do que temos hoje. Quando visito a minha família na zona rural da Caxemira, uma comunidade agrícola, é verdade que eles têm problemas, mas parece que as pessoas estão visivelmente mais felizes. Por outro lado, na Grã-Bretanha parece que tudo é mais complicado e as pessoas estão menos felizes.

Isso é algo encaro com certa complexidade porque no livro me concentro muito no contexto da Grã-Bretanha. Não ousaria afirmar que a sociedade feudal era melhor do que a sociedade que temos agora. Por outro lado, o trabalho nas sociedades feudais parecia ter um grau de autonomia que não temos necessariamente no capitalismo. Por exemplo, como você diz, ser governado pelas estações, em oposição às condições rígidas e mais padronizadas das fábricas.

Se olharmos para a invalidez, antes do surgimento da fábrica e da Revolução Industrial, havia muitas pessoas que podiam participar no processo de produção e que, após o surgimento do capitalismo, já não podiam participar. O teórico da invalidez Mike Oliver fala sobre como as pessoas surdas e cegas podiam participar no trabalho de uma forma ou de outra (embora talvez o fizessem mais lentamente e as suas tarefas fossem mais orientadas para as suas famílias). Para os surdos, isto poderia ser a observação visual, adquirindo habilidades dessa forma e não através da linguagem falada. No caso dos cegos, ele fala sobre como o ambiente familiar do lar permitiu que eles se orientassem com mais facilidade.

Quando a fábrica surgiu, as condições tornaram-se incrivelmente rígidas. Você não poderia alterá-las ou adaptá-las a cada indivíduo. É este o funcionamento das grandes cadeias produtivas. E elas eram incrivelmente aceleradas. Não houve oportunidade de parar e perguntar como podemos fazer com que isso funcione para um trabalhador individual.

Como parte do sistema econômico capitalista, Marx fala sobre este conceito de exército de reserva de mão de obra e como o capitalismo depende desse exército de pessoas desempregadas e dispostas a atuar e a ocupar o seu emprego a qualquer momento. A precariedade significa que os trabalhadores são incrivelmente descartáveis. Então, por que os chefes adaptariam o trabalho a cada indivíduo?

Durante este período, o da expansão da Revolução Industrial, de repente vemos que muitas pessoas que antes não eram consideradas inválidas tornam-se assim devido a este novo sistema de organização econômica e social. Isto aplica-se tanto às deficiências que mencionei como ao que chamaríamos de “insanidade” ou doença mental. Pessoas que antes podiam produzir ou ser cuidadas, pelo menos em casa, foram subitamente consideradas improdutivas e inexploráveis. O que une estas pessoas não é apenas a experiência do sofrimento, mas o fato de as suas condições interferirem na sua capacidade de manter um emprego das nove às cinco e de se envolverem no que consideramos um trabalho normal.

Sua obra relaciona o encarceramento por invalidez e o surgimento dos manicômios à ascensão do capitalismo. Você pode contextualizar isso? Quando começou este processo e até que ponto está relacionado com o capitalismo?

O encarceramento daqueles considerados inválidos está completamente interligado ao capitalismo. Assim, por exemplo, Bedlam, o primeiro manicômio do mundo, remonta ao final do século XIII. No entanto, quando olhamos para os registros do século XIII, havia as pessoas que atuavam em algo equivalente a uma Comissão de Caridade que foram e olharam para instituições como esta. E eles disseram que havia apenas sete dementes morando lá. Então, em todo o país, havia sete pessoas encarceradas por causa do que é chamado de “loucura”. Não são muitas pessoas. A maioria das pessoas consideradas “loucas” foram integradas na comunidade. Algumas pessoas ainda eram mantidas em casas locais, na rua, se a comunidade as considerasse um perigo, mas a institucionalização, tal como a entendemos agora, não existiu numa escala significativa.

Só com a emergência do sistema econômico capitalista é que assistimos ao que Michel Foucault chama de “o grande confinamento”: uma enorme explosão no número de pessoas admitidas em manicômio. O número de pacientes internados em Bedlam disparou e o local ficou tão superlotado que mais manicômios, tanto privados quanto públicos, tiveram de ser construídos. Isto coincidiu quase perfeitamente com o surgimento do capitalismo e da Revolução Industrial.

No século XIX, o governo aprovou duas leis de asilo que exigiam a construção de manicômios em todos os condados do país. E assim, nesse período, muitas pessoas foram encaminhadas para os manicômios. Há também algo que devemos ter em mente em relação às famílias; antes disso, as famílias recebiam uma pequena quantia para cuidar dos chamados “parentes malucos” em casa. Mas assim que surge o sistema fabril, as pessoas são empurradas para dentro das fábricas para trabalhar – e já não podem estar em casa para cuidar das suas famílias. Mas também existiam as leis contra a pobreza que privavam as famílias destes benefícios, e aí já não havia fundos para ficar em casa e cuidar das pessoas. Então, para onde os “malucos” tiveram que ir? Indiscutivelmente, não havia outro lugar para mandá-los senão os manicômios. É importante notar que muitas famílias sentiram que não tinham outra solução.

É por isso que penso que o capitalismo está interligado com o encarceramento dos deficientes, e não apenas com a loucura ou as enfermidades mentais. Os deficientes físicos e os doentes mentais eram encaminhados para grandes manicômios, onde passariam a vida inteira. O que uniu as pessoas encarceradas nestas instituições foi que não puderam ser assimiladas pelo novo sistema de produção. Esse ambiente não era adequado para eles.

[O Chanceler do Tesouro do Reino Unido] Jeremy Hunt deu, recentemente, a entender que se concentrará nas pessoas desempregadas devido a problemas de saúde mental de longa duração. Parece fazer parte de uma tendência mais ampla na conversa em torno do bem-estar que insiste que as ações dos indivíduos causam problemas de saúde mental. Os nossos principais partidos políticos utilizam, cada vez, mais o termo “trabalhadores” em vez de “classe trabalhadora”. A nossa retórica política contribui para a estigmatização das pessoas consideradas inválidas, certo?

Cem por cento. Você pode ver como essa narrativa penetra no Partido Trabalhista. Keir Starmer [líder do Partido Trabalhista] está sempre falando sobre “pessoas trabalhadoras”, “famílias trabalhadoras” e “O Partido Trabalhista é o partido das pessoas trabalhadoras”, o que exclui pessoas com deficiência que não podem trabalhar.

O livro de Beatrice Alder Burton e Artie Vierkant, Health Communism, fala muito bem deste conceito de classe excedente de pessoas não trabalhadoras. Isto poderia incluir pessoas deficientes, loucas, doentes mentais ou criminalizadas, que não são exploráveis sob o capitalismo. O capitalismo prejudica-os da mesma forma que prejudica os trabalhadores, mas a política de esquerda ignora frequentemente ou exclui grupos de pessoas que não podem trabalhar. Por trás deste pensamento está a ideia de que o nosso valor como seres humanos é medido pela nossa produtividade e capacidade de trabalho, e não pela nossa condição como pessoas.

As estatísticas mostram que, no primeiro trimestre de 2023, 53% das pessoas que deixaram de trabalhar no Reino Unido devido a uma doença de longa duração relataram sofrer de depressão, nervosismo ou ansiedade. Jeremy Hunt está essencialmente dizendo que os médicos estão dando licença médica às pessoas muito rapidamente. A responsabilidade pela resolução destes problemas recai cada vez mais sobre o indivíduo.

Sob o neoliberalismo temos testemunhado esta mudança marcante em direção a este conceito de responsabilidade individual. Antes, a saúde mental era uma questão que o Estado tinha que resolver. E, obviamente, ele abordou isso de uma forma bastante violenta. Sob o neoliberalismo, trataram a saúde mental como um assunto pessoal e privado.

O teórico cultural Mark Fisher descreveu o conceito de que é nossa responsabilidade abordar a saúde mental como indivíduos como a “privatização do estresse”, que surgiu na década de 1980. É a ideia de que você precisa fazer terapia, descarregar sua atenção plena, fazer ioga, manter um diário e uma lista cada vez maior de práticas que devemos praticar para manter nossa saúde mental. Isto é em grande medida considerado uma responsabilidade individual.

Vemos essa mentalidade quando falamos de saúde mental e sistema de benefícios. A ideia de que você pode sair dessa situação e “se recompor” é uma abordagem muito britânica para gerenciar nossos estados emocionais, mas também é usada para acusar as pessoas de se fingirem doentes para obter benefícios. É uma forma de pensar que ignora que os problemas de saúde mental são, acima de tudo, questões estruturais, e justifica uma abordagem que diz que os problemas são da sua responsabilidade e que você mesmo pode resolvê-los.

Parece-me que nas comunidades da classe trabalhadora essa narrativa de trabalho árduo, de nunca dar desculpas e de responsabilidade individual é bastante forte. Vemos indivíduos como Andrew Tate [influenciador de extrema direita] e Jordan Peterson [doutor em psicologia e YouTuber de sucesso, com ideologia ultraconservadora], expressarem alguns desses ideais, o que ressoa em homens jovens, muitos dos quais têm expressado sua desilusão e infelicidade. Você acha que essa é uma tendência crescente?

Acho que sim. Houve um enorme boom nos livros de autoajuda durante o início da era neoliberal nas décadas de 1980 e 1990. Entendo por que essas abordagens mudaram de forma e estão ganhando popularidade. Muitos de nós estamos lutando e sofrendo, e provavelmente não iremos necessariamente nomear ou descrever isso. A ideia de que você pode assumir responsabilidades, mudar sua vida e abordar a raiz do seu sofrimento é atraente.

Você pode ver como pessoas como Jordan Peterson transformam esse apelo em uma arma. É complicado, porque coisas como a atenção plena e a terapia podem ser úteis, mas nunca abordarão as causas profundas do sofrimento e da angústia em massa. Elas podem ser pequenas manchas ou ajudar alguns de nós a sentir que temos controle sobre nossas vidas. O que não podem fazer é abordar as causas profundas da masculinidade tóxica, do racismo, da pobreza e de tanto sofrimento.

O que você diz sobre o individualismo é muito interessante. A desindustrialização levou à perda do sentido de comunidade em muitas partes do país, e vemos a contínua atomização da sociedade e a perda da interação humana com coisas como as janelas fechadas e a expansão de caixas self-service. Para mim, todas essas coisas estão relacionadas à questão da saúde mental.

Levamos uma vida cada vez mais atomizada. A capacidade de estabelecer ligações autênticas e emocionalmente satisfatórias com outros seres humanos está cada vez mais sendo retirada da nossa vida cotidiana, e podemos ver isso. O fechamento de janelas é um exemplo de como as oportunidades de conexão são consideradas desnecessárias e eliminadas. A abordagem capitalista não considera valiosa a ligação comunitária e humana.

No seu livro, você faz uma observação interessante sobre como as práticas de bem-estar no local de trabalho não nasceram do desejo de melhorar a vida dos trabalhadores, mas sim de aumentar a produtividade. Na era daquilo que poderíamos chamar de “capitalismo multicolorido”, onde as relações públicas, os recursos humanos e a gestão da reputação são muito importantes, como é que as práticas de bem-estar no local de trabalho se comparam às do século XX?

No livro falo sobre RH e como eles surgiram. Quando começou, os recursos humanos concentraram-se em coisas como a disposição ideal das bancadas, intervalos de descanso e iluminação para ajudar os trabalhadores a produzir melhor. Mas, então, em meados do século XX, à medida que a psicologia emergia e ganhava credibilidade como disciplina, o foco mudou para as condições cognitivas e emocionais ideais para o trabalho.

Esta mudança de enfoque acompanhou a mudança da economia em direção ao setor dos serviços e afastando-se da indústria transformadora e de formas de trabalho que envolviam trabalho manual. De repente, surgem coisas como testes psicométricos, nos quais os empregadores tentam combinar a personalidade das pessoas com o tipo de trabalho em que serão mais produtivas. Ao mesmo tempo, são adotadas tendências surgidas nas décadas de 1970 e 1980, como a atenção plena e a terapia cognitivo-comportamental.

Agora, cada vez mais, na era neoliberal, temos um interesse real em coisas como iniciativas de saúde mental no local de trabalho, formação em auxílios iniciais em saúde mental, pré-terapia, salas de descanso e listas crescentes de práticas que supostamente apoiam o bem-estar mental dos trabalhadores. Praticá-los individualmente pode fazer com que muitos de nós nos sintamos melhor e pode ser um caminho para a cura.

No entanto, se olharmos para a história dos recursos humanos e por que razão surgiram, em primeiro lugar, a sua função fundamental não é fazer-nos sentir bem pelo simples fato de nos sentirmos bem, mas tornar-nos mais exploráveis como trabalhadores. E isso significa que estas iniciativas não servem para nos fazer sentir alegria, florescimento ou as nossas ideias de realização, mas para nos tornar felizes e emocionalmente ajustados o suficiente para sermos explorados.

A exploração que vivenciamos no trabalho é, muitas vezes, o que prejudica a nossa saúde mental em primeiro lugar. Acabamos em um ciclo em que o local da angústia se torna o local em que confiamos para abordá-la.

Costuma-se dizer que a saúde mental é o grande equalizador. Todos nós podemos ter problemas de saúde mental, independentemente da nossa origem. Mas sabemos que algumas comunidades têm menos investimento e maiores problemas sociais do que outras. Até que ponto a saúde mental é uma questão de classe?

A pobreza e a desigualdade estão diretamente relacionadas com a questão da saúde mental. Quando pensamos nisso no contexto do sofrimento, é um consenso. Se você não tiver acesso às necessidades materiais mais básicas ou se viver em constante precariedade, isso causará ansiedade e depressão. Se você está preocupado com quando será seu próximo turno de trabalho ou se conseguirá pagar as contas, isso causará angústia.

É claro que também vemos pessoas com poder, privilégios e riqueza lutando contra a saúde mental. Acredito que o capitalismo corrói fundamentalmente o nosso bem-estar. Ninguém está imune a este sistema. Mas a diferença é que algumas pessoas têm acesso a cuidados de saúde privados e a terapia privada no primeiro momento de sofrimento.

No caso das comunidades da classe trabalhadora mais pobre, elas estão sujeitas a longas listas de espera para serviços de saúde pública e, no momento em que obtêm ajuda, podem encontrar-se numa situação de grave sofrimento ou crise. Quando chegam a esse ponto, é mais provável que sejam submetidos aos efeitos punitivos e carcerários do sistema de saúde mental.

Você provavelmente já viu aqueles memes que zombam de coisas como festas de pizza no local de trabalho, onde aparecem trabalhadores dizendo que prefeririam um aumento. No livro você cita algumas frases interessantes sobre o assunto. Uma é que “a atenção plena não substitui um local de trabalho sindicalizado”, e também cita Tim Adams, que disse que era tentador pensar que as linhas de frente das disputas trabalhistas haviam passado dos piquetes para a preocupação e que as queixas coletivas tornaram-se batalhas psicológicas individuais. Por que você acha que os sindicatos e a ação sindical são importantes nesse sentido?

Porque penso que são as estruturas que podem realmente dar aos trabalhadores acesso ao poder. Já ouvi muitas histórias de pessoas que receberam terapia de grupo para lidar com uma série de demissões no trabalho e coisas do gênero. Estas iniciativas não nos dão acesso ao poder. Servem apenas para nos fazerem sentir melhor em relação às condições estruturais em que vivemos, ao mesmo tempo que as enquadramos como inevitáveis.

Os sindicatos dão-nos a capacidade de chegar à raiz do nosso sofrimento que, no contexto do local de trabalho, é estrutural. Penso que os sindicatos têm políticas internas inerentes por parte do trabalhador, ao passo que, com atenção plena e terapia, embora bons em si, são práticas que não têm políticas internas. Eles podem ser usados para o bem ou transformados em armas para o mal. Foi Steve Jobs quem trouxe a atenção plena para os Estados Unidos e começou a defendê-la. Ele gostou muito do mindfulness para si mesmo como chefe, mas também para os seus trabalhadores, porque os ajudou a adaptar-se às condições de trabalho desfavoráveis. Esta falta de política interna significa que nunca se pode realmente controlar a forma como estas coisas são utilizadas.

Há uma razão pela qual os patrões odeiam os sindicatos, e é porque eles transferem o poder em favor do trabalhador.

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