Por Neirevane Nunes*
As 35 minas de sal-gema em Maceió, que por mais de 40 anos foram exploradas pela Braskem, representam uma ameaça constante a biodiversidade local. Além dos episódios de acidentes com vazamento de cloro na unidade no Pontal da Barra, a exemplo do que ocorreu em 2011, resultando na intoxicação de cerca 130 pessoas, as suas minas são responsáveis pelo maior crime ambiental em área urbana no mundo em curso e ainda não sabemos a total proporção de danos causados à biota na Laguna Mundaú.
Entre os impactos mais significativos do afundamento do solo estão: a perda de manguezal e o colapso das minas de sal-gema. Através de estudos realizados ainda 2019, após o crime da Braskem vir à tona, o Institut Für Gebirgsmechanik – (Instituto IFG), já havia constatado uma perda de cerca de 15 hectares de manguezal, que se encontram totalmente submersos, e ainda iremos perder mais com a progressão do afundamento do solo, o que afetará mais a cadeia produtiva da Laguna Mundaú. Ainda segundo o relatório do Instituto IFG, as minas que correm o maior risco de colapso estão nas margens da Laguna Mundaú e sob seu leito. A mina 18 que iniciou seu processo de rompimento na tarde desse domingo (10) é uma delas. Diante disso, cresce nossa preocupação sobre como tem sido feito o monitoramento dessas minas.
Como resultado do colapso das minas está a alteração de níveis de sais e outros compostos que podem contaminar a laguna, podendo comprometer severamente a vida dos organismos neste ambiente, principalmente, o sururu que é sensível a variações de salinidade na água. A faixa confortável de salinidade para o sururu geralmente está entre 20 e 35 partes por trilhão (ppt), essa faixa permite que o sururu mantenha o equilíbrio necessário para suas funções fisiológicas. Quando a salinidade se eleva, o sururu enfrenta um grande estresse que compromete a sua sobrevivência. Mudanças extremas na salinidade podem levar a uma entrada excessiva de íons causando sua desidratação. Para lidar com isso, o sururu ativa mecanismos para regular estes íons, como a secreção de substâncias evitando que a água do seu corpo seja perdida para o ambiente mais salino. Lembrando que além desse estresse fisiológico para o sururu conseguir se adaptar às alterações bruscas de salinidade ele tem que enfrentar outros desafios como a poluição e contaminação da laguna Mundaú.
O dolinamento das minas pode levar a mudanças na hidrologia da região, afetando a quantidade e a qualidade da água na laguna. As minas de sal-gema podem potencialmente liberar diversos poluentes para o ambiente, impactando a laguna Mundaú. Entre os poluentes associados a atividades de mineração de sal-gema estão: sedimentos, sais, Produtos químicos utilizados no processo de mineração e metais pesados que são tóxicos para muitos organismos aquáticos, podendo afetar a saúde das pessoas que deles se alimentam.
É necessário que haja um monitoramento permanente de todas as 35 minas, nós não temos informações de como estas minas estavam sendo monitoradas. E além das minas precisamos de estudos sobre a qualidade das águas e informações sobre o estado geral desses organismos aquáticos. Ao lado disso os pescadores e marisqueiras lesados pela Braskem por serem privados de desenvolver suas atividades de pesca devido ao crime ambiental cometido por ela, estes devem ser devidamente reparados. Os lucros são privados mais infelizmente os danos são coletivos. E muitos dos danos causados pela Braskem a laguna Mundaú e a as comunidades do seu entorno podem ser irreversíveis.
*É bióloga e doutoranda do SOTEPP/UNIMA