14 de dezembro de 2023 6:58 por Geraldo de Majella
A briga pelo poder em Alagoas acabou caindo no colo do presidente Lula (PT), que ficou no fogo cruzado entre dois adversários políticos históricos – o senador Renan Calheiros (MDB) e o deputado Arthur Lira (PP) – durante reunião para discutir o caso Braskem na última terça-feira (12). A tragédia, que deveria unir os políticos pelos interesses do Estado de Alagoas, acabou se tornando uma disputa que agora chega ao campo nacional.
Para o encontro, foram chamados pelo presidente o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), os deputados Paulão (PT), Rafael Brito (MDB) e Isnaldo Bulhões (MDB), o ministro dos Transportes, Renan Filho, os senadores Rodrigo Cunha (Podemos-AL) e Fernando Farias (MDB-AL).
O presidente da República procurou mediar o conflito, mas, a tentativa de trégua ou redução de danos políticos entre os antigos aliados não logrou êxito. Os dois contendores tiveram a oportunidade de levar as suas tropas. Que fique claro: foi Lula quem convocou os aliados de ambos. A paz almejada não será a paz dos cemitérios, longe disso.
Visões diferentes
Renan Calheiros e Arthur Lira têm estilos e argumentos diferentes para tratar do crime da mineradora Braskem, em Maceió. Os Calheiros e o governador Paulo Dantas tratam o caso como crime socioambiental. Lira e JHC, o prefeito de Maceió, como “acidente”.
Os vínculos estabelecidos por JHC com a mineradora Braskem, até o momento, são públicos e notórios. O deputado Arthur Lira, aliado do prefeito, deve entender a tragédia como uma janela de oportunidades. Na visão do senador Renan Calheiros aliviar a Braskem é colocar as despesas no orçamento do Governo Federal. Há 60 mil pessoas atingidas diretamente. Essa multidão ficou sem defesa institucional.
Lula, um exímio negociador político e sindical, ainda não foi capaz e talvez demore a encontrar uma possível solução de encaminhamento que proteja as vítimas em primeiro lugar – propósito que nenhum dos presentes à reunião é capaz de duvidar – mas, terá de construir pontes.
Armistício é possibilidade remota
As posições estão sedimentadas, inclusive juridicamente, e para haver mudanças não será através de acordo ou armistício. Talvez, para os alagoanos, o que deve acontecer é a continuidade da guerra entre eles e que haja mobilização nas ruas, nas redes sociais da população e das vítimas.
Renan Calheiros, um reconhecido esgrimista, sabe a hora de contra-atacar com a artilharia que ele montou, que é a CPI da Braskem. É inteligente reconhecer que são dois estrategistas com fins diferentes, um com histórico mais vinculado às questões sociais, como linha geral na sua longeva atuação parlamentar. O outro, Lira, uma águia nos meandros de manietar o Poder Executivo em desfavor da população e a favor dos investidores do mercado financeiro, garimpeiros, fazendeiros.
O Brasil não se farta de se surpreender com o protagonismo dos políticos alagoanos.
As vítimas não podem deixar de lutar, a mobilização da sociedade é fator fundamental para romper com essa cortina de fumaça entorno dos negócios da Braskem e dos seus aliados.
O segundo momento o presidente Lula vai arbitrar. É quase certo e para tanto mobilização social é a palavra-chave, nas ruas e nas redes.