sábado 4 de maio de 2024

Coordenadores do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem renunciam às funções

Em carta, eles dizem que, apesar de se afastarem do MUVB, seguirão na luta

23 de abril de 2024 1:54 por Da Redação

Dilson e Neirevane durante audiência na Câmara | Reprodução/Instagram

O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), que reúne vítimas do maior crime socioambiental em área urbana do mundo – o afundamento de cinco bairros de Maceió por causa da mineração de sal-gema pela Braskem – perdeu três lideranças nessa terça-feira, 22.

Por meio de uma carta aberta, em que relatam seus motivos, o jornalista e empresário Alexandre Sampaio renunciou ao cargo de coordenador de Empreendedores do MUVB, a bióloga Neirevane Nunes ao de coordenadora de Meio Ambiente do movimento, e o professor Dilson Ferreira comunicou que agora é ex-coordenador técnico do MUVB.

Alexandre Sampaio denuncia exclusão de vítimas e da Defensoria nas reuniões | Reprodução

No documento, eles dizem que, apesar de se afastarem do MUVB, seguirão na luta:

“Queremos deixar claro para o MUVB, para todos e todas atingidas pela Braskem e para toda a sociedade Brasileira que seguiremos firmes na luta, seja através da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração, seja através do exercício pleno da cidadania e da luta defendendo o direito das vítimas à reparação integral dos danos causados pela Braskem, buscando em todas as instâncias sua punição pelo maior crime sócio ambiental do mundo em Área Urbana”.

Leia a carta na íntegra:

CARTA RENÚNCIA

Maceió, 22 de abril de 2024.

De:

Alexandre Sampaio – agora Ex-Coordenador de Empreendedores do MUVB

Neirevane Nunes – agora Ex-Coordenadora de Meio Ambiente do MUVB

Dilson Ferreira – agora Ex-Coordenador Técnico do MUVB

A participação de qualquer ator social numa Entidade ou Associação pressupõe alguns princípios básicos, valores e objetivos mais nobres e comuns que precisam se sobrepor a eventuais diferenças pessoais ou divergências naturais de opinião no convívio entre pessoas. Por isso, esta carta começa trazendo o significado de alguns conceitos e palavras importantes:

SOLIDÁRIO

Que estabelece uma relação de auxílio mútuo. Que expressa solidariedade, apoio; que ajuda alguém num momento difícil: estavam solidários uns com os outros. Que possui a mesma maneira de pensar; que partilha as mesmas opiniões, sentimentos, apoiando: esteve sempre solidário aos manifestantes.

TER EMPATIA

Capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão: demonstrou empatia ao ouvir os problemas do companheiro de luta. Foi empático ao entender a dor e os sentimentos gerados por intimidações e ameaças.

Aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.; identificação.

SER COMPANHEIRO

Aquele que faz companhia, que acompanha alguém em alguma coisa. Aquele que participa da vida ou das ocupações de outrem; colega, camarada: companheiro de trabalho, de jogos, de estudos, DE LUTA.

TER UM OBJETIVO COMUM

O que se tem como propósito; aquilo que se quer obter, alcançar, realizar; intuito, meta: seu objetivo é ser feliz. Seu objetivo é buscar reparação integral pelos danos causados pela Braskem às pessoas dentro e fora do mapa. É buscar punição aos culpados pelo crime sócio ambiental.

SER CORAJOSO

Pessoa que não demonstra covardia diante de alguém ou de uma situação específica com a qual foi confrontada: não vou abandonar o barco agora porque não sou covarde. Não vou abandonar meu companheiro em meio às intimidações e ameaças porque não sou covarde.

TRABALHAR EM COOPERAÇÃO E NÃO FAZER DISPUTA DE EGO

Num coletivo que luta por justiça porque todos são vítimas de um crime, estamos em pé de igualdade, não há ninguém superior ou inferior a outra pessoa. No trabalho de cooperação todos desempenham papeis importantes e são essenciais, por isso não pode haver disputa por ego. E qualquer diferença pessoal não deve interferir no trabalho coletivo.

BREVE HISTÓRICO PARA ENTENDER O CONTEXTO

A criação do MUVB – Movimento Unificado das Vítimas da Braskem se deu a partir de um estímulo da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió junto aos movimentos menores dos bairros afetados. Era 2021, a maioria das associações já havia capitulado, inclusive o Movimento Luto por Bebedouro, o qual foi apoiado pela Associação dos Empreendedores e conseguiu, a partir de um laudo de engenharia, colocar parte dos Flexais no Mapa de Risco (pelo laudo da época, toda área dos Flexais deveria ter sido realocada).

Sem nenhuma entidade que respondesse também por moradores e outras vítimas, ajudamos a encontrar e agrupar lideranças e construir esse movimento, de início com a marca MUVB numa camiseta junto com a da ASSOCIAÇÃO DOS EMPREENDEDORES, de modo que o MUVB ganhou corpo e importância pelo protagonismo dos seus membros, algo importante e desejado por dividir a carga pesada da luta contra uma empresa gigante e criminosa como a Braskem.

A Associação dos Empreendedores e o MUVB caminharam juntos nos protestos contra a Braskem e conivência dos MPs e Prefeitura, assinaram juntos documentos que contestaram os Acordos e participaram de inúmeras atividades entre 2021 e 2022, todas voltadas para denunciar os crimes da mineradora e buscar justiça.

A partir de 2023 o ingresso do Senador Renan Calheiros e do Governo de Alagoas, que estavam em silêncio desde 2018, tanto nas duas administrações de Renan Filho, quanto na de Paulo Dantas, começou a dividir opiniões e tencionar as lideranças do MUVB e da Associação dos Empreendedores sobre o papel desses atores políticos no movimento.

Três eventos escancararam as intenções reais do Senador Renan Calheiros e do Governo de Alagoas, dividindo as opiniões internas no MUVB:

  1. AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE A BRASKEM NA COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES: Após solicitar uma matriz de danos para as vítimas, cujo levantamento e apresentação ao Governador de Alagoas e PGE coube, em comum acordo com lideranças comunitárias, ao Alexandre Sampaio, Renan Calheiros sabota a liderança da Associação e outras lideranças do MUVB e convida outros representantes de um livro para representar as vítimas. Foi preciso muita pressão e a ida a Brasília com recursos próprios das vítimas para falar.
  2. RENÚNCIA AO GT CONTRA A BRASKEM: Apesar de nomeados formalmente no Diário Oficial do Estado para integrarem o Grupo de Trabalho, Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores, e Maurício Sarmento, coordenador do MUVB, foram alijados de várias reuniões do GT com a Braskem, das negociações sobre valores e, finalmente, no dia da apresentação das conclusões do GT sobre a Braskem, o Governador anuncia uma série de medidas equivocadas sem qualquer negociação com as lideranças das vítimas.

Apesar das obvias e evidentes intenções do Governador (a exemplo do Senador Renan na audiência) de excluir mais uma vez as vítimas, os motivos justos da renúncia de Alexandre Sampaio foram contrariados por uma nota pública COVARDE do MUVB. A nota que foi um encaminhamento de uma reunião do MUVB, que tinha o objetivo original de esclarecer a população, que estava questionando se o MUVB havia acabado, foi redigida por CASSIO ARAÚJO e foi publicada nas redes sociais antes de todo o coletivo tomar ciência da nota, não dando tempo dos integrantes que não estiveram na reunião opinar ou contribuir com ajustes a nota, conforme foi verificado depois numa reunião de esclarecimento. O MUVB preferiu amenizar as críticas a um governo omisso sobre as vítimas, do que reforçar as cobranças de quem expôs o obvio compromisso do Governo de Alagoas com a Braskem em detrimento das vítimas.

  1. GRAVAÇÕES DO PROGRAMA ELEITORAL DO RENAN NOS FLEXAIS E DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS: numa postura acrítica e partidária, vários líderes do MUVB receberam integrantes do Governo, sentando na mesma mesa, sem cobrar qualquer compromisso sério, público, contundente e continuado assumido pelo Governo de Alagoas com as vítimas.

A clara partidarização pró-governo do MUVB, sobretudo neste ano eleitoral de 2024, torna impossível a nossa permanência na Associação do Movimento Unificado das Vítimas, pois isso enfraquece o enfrentamento devido à confusão de interesses políticos e partidários, que passam a ser mais importantes que o OBJETIVO inicial do movimento de buscar reparação integral das vítimas e a punição dos culpados, entre eles integrantes do governo de Alagoas, como o IMA, e não apenas a gestão do atual prefeito JHC.

Outros fatos que ocorreram entre o desabamento da mina 18 e a CPI da Braskem também foram – e ainda são – decisivos para a nossa renúncia às coordenações que exercemos e permanência no MUVB:

  1. AMEAÇA DE MORTE IGNORADA – Após várias entrevistas, de vários membros do MUVB em veículos nacionais e locais, mostrando como os poderes, os MPs e a Justiça criaram uma blindagem institucional e criminosa a favor da Braskem, surgiu uma ameaça de morte contra ALEXANDRE SAMPAIO que foi noticiada através da arquiteta Izadora Padilha, de Maurício Sarmento e Cássio Araújo durante uma reunião de preparação para um ato público.

Apesar de entidades como a Secretaria da Mulher e Direitos Humanos do Governo de Alagoas, a Justiça Global e o Programa de Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal terem considerado séria a ameaça, ela foi desdenhada internamente pela liderança do MUVB, que não fez qualquer nota ou manifestação pública de SOLIDARIEDADE, demonstrando completa falta de EMPATIA e COMPANHEIRISMO, deixando a liderança ameaçada ainda mais vulnerável. Se isso acontecer com outros membros ou coordenadores, o MUVB agirá da mesma maneira? Isso é aceitável?

  1. MACHISMO E AUTORITARISMO – Nos dias que se seguiram, outros fatos que chamaram atenção foi o autoritarismo e o machismo do Coordenador Geral, impedindo, durante as reuniões, a manifestação de mulheres que ocupavam coordenações, num claro desrespeito às opiniões femininas e uso do arbítrio para silenciar as mulheres do grupo, sobretudo quando o contrariavam.
  2. FALTA DE RESPEITO À HISTÓRIA DE VIDA E LUTA DO OUTRO – Acusar injustamente um companheiro de oportunismo, de querer se promover através do coletivo é um total desrespeito à pessoa e a sua história. Alias é desconhecer a história de vida do outro, a sua trajetória que não começou com o MUVB. No caso de Neirevane Nunes, moradora de Bebedouro por 40 anos, que já era ativa na comunidade, na igreja com as pastorais, nos coletivos de juventude, nos grêmios estudantis das Escolas Rosalvo Ribeiro, Colégio Bom Conselho e IFAL.

Na UFAL Neirevane era membro do Diretório Acadêmico de Biologia e membro do DCE, antes do MUVB participou dos primeiros movimentos de moradores de Bebedouro o SOS Bebedouro e o Luto por Bebedouro e foi fundadora do MUVB no seu primeiro núcleo ao lado de Maylda Farias, Alexandre Sampaio, Jorge Sexto e Marcos Braga, em janeiro de 2021. Daí o MUVB passou por mudanças e novas formações até o momento atual como Associação. Uma pessoa que com passado de luta, que fundou o movimento que viveu o coletivo 24 horas do dia, se prejudicando no trabalho, deixando de lado sua saúde e sua família, para agora ser desrespeitada, sendo acusada de forma caluniosa de oportunista é inaceitável. Esse fato abalou a saúde da mesma e a sua família. Isso vindo de um coletivo onde todos já sofrem violências da Braskem, de instituições, de influências externas. Um coletivo que ao invés de somar forças pra lutar contra as injustiças, pratica injustiça contra seus próprios companheiros, infelizmente está escolhendo um caminho que não fortalece a luta contra nosso único inimigo que é a Braskem.

  1. SILÊNCIO DIANTE DE UMA CAMPANHA SÓRDIDA DE INTIMIDAÇÃO E “ASSASSINATO DE REPUTAÇÃO” – Sete dias antes de ALEXANDRE SAMPAIO depor na CPI da Braskem, foi criado um perfil falso só para denegrir a sua imagem e “assassinar sua reputação” como presidente da Associação dos Empreendedores, como empresário, atingindo sua família, sua empresa, seus fornecedores. O MUVB não só tomou conhecimento, como se manteve internamente em silêncio diante de comentários maldosos, assim como abandonou um de seus membros diante dos ataques infames, sem fazer qualquer manifestação ou nota pública de SOLIDARIEDADE. Mesmo provocado por alguns membros e pela imprensa, o MUVB silenciou. Atitude diferente – e correta – tomou dias antes quando o defensor público Ricardo Melro foi atacado de modo muito parecido. Dois pesos e duas medidas para o mesmo fato, com o agravante que o perfil continua atacando um de seus membros, enquanto retirou o ataque ao defensor público.

Diante do exposto, nós, abaixo assinados, renunciamos às coordenações que exercemos, de modo irrevogável, desejando que o MUVB reflita sobre seus atos, corrija seus rumos e consiga lutar por justiça, sem deixar de ser SOLIDÁRIO, COMPANHEIRO, EMPÁTICO, sem esquecer dos seus OBJETIVOS e tendo a CORAGEM de demonstrar apoio mesmo a pessoas que divergem democraticamente de seus líderes.

Queremos deixar claro para o MUVB, para todos e todas atingidas pela Braskem e para toda a sociedade Brasileira que seguiremos firmes na luta, seja através da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração, seja através do exercício pleno da cidadania e da luta defendendo o direito das vítimas à reparação integral dos danos causados pela Braskem, buscando em todas as instâncias sua punição pelo maior crime sócio ambiental do mundo em Área Urbana.

Alexandre Sampaio – agora Ex-Coordenador de Empreendedores do MUVB

Neirevane Nunes – agora Ex-Coordenadora de Meio Ambiente do MUVB

Dilson Ferreira – agora Ex-Coordenador Técnico do MUVB

Maceió, 22 de abril de 2024.

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