sábado 28 de dezembro de 2024

Colonialismo químico

Em agosto deste ano, a Dra Bombardi veio ao Brasil lançar o seu mais novo livro:  Agrotóxicos e colonialismo químico

28 de dezembro de 2024 1:41 por Fátima de Sá

Reprodução | Internet

 

INTRODUÇÃO

Em 2021, escrevi um pequeno texto (https://082noticias.com/2021/10/08/agrotoxicos-e-impactos-ambientais/) em que falei sobre o trabalho de Larissa Bombardi – geógrafa e docente da Universidade de São Paulo (USO) – e sua publicação Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia, resultado de suas pesquisas, e que resultaram em ameaças à sua vida, levando-a a se exilar na Europa.

Atualmente, a geógrafa trabalha no Institut de Recherche pour le Développement (IRD = Instituto de Investigação para o Desenvolvimento), em um programa para cientistas no exílio. O IRD tem como prioridades:

 “a implementação, associada a uma análise crítica, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados em setembro de 2015 pelas Nações Unidas, com o objetivo de orientar o desenvolvimento e responder aos grandes desafios ligados à economia global, ambiental, mudanças econômicas, sociais e culturais que afetam todo o planeta”[i].

NOVO LIVRO:

Em agosto deste ano, a Dra Bombardi veio ao Brasil lançar o seu mais novo livro:  Agrotóxicos e colonialismo químico. O lançamento ocorreu na Universidade de Campinas (Unicamp – SP): “Além de dados sobre o uso de herbicidas, pesticidas e fungicidas pelo agronegócio brasileiro, a autora discute, na obra, o conceito de colonialismo químico”[ii].

Para entender o conceito, vejamos a explicação da própria autora:

 

(…) colonialismo químico é a ferramenta teórica, eu diria, mais adequada para entender como o Brasil se insere hoje no mundo, na economia mundial (…) a gente consome, principalmente, aquilo que aqueles que produzem agrotóxicos não querem consumir. Eu digo ‘principalmente’ porque dos 10 agrotóxicos mais consumidos no Brasil, cinco são proibidos na União Europeia. Isso ajuda a gente a entender qual lugar estamos ocupando no mundo. É um lugar que nos subalterniza economicamente, mas também subalterniza a saúde humana e a saúde ambiental[iii].

POR QUE COLONIALISMO?

Ela explica por que a palavra “colonialismo” não está sendo extemporânea, pois expressa “um movimento que, tal como no colonialismo clássico, tem permitido, através da violência, a reprodução do capitalismo ‘moderno’ dos países do Norte, particularmente da União Europeia”.

Inúmeros exemplos mostram que a União Europeia protege, parcialmente, sua população com algumas medidas que diferem muito do que é aplicado em países do Mercosul: “Uma delas se expressa no banimento de uma série de princípios ativos na Europa, onde 269 tipos de agrotóxicos estão proibidos. Enquanto isso, no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, os banimentos mal chegam a trinta substâncias”. (Bombardi, 2023, p. 69).

Os dados mostram que o avanço da “moderna agricultura de commodities” tem ocorrido concomitantemente ao aumento de “casos de violência contra indígenas, quilombolas, camponeses e trabalhadores rurais, além da contaminação química dos povos, dos solos e das águas” (Bombardi, 2023, p. 68).

Os agrotóxicos atingem com muito mais força mulheres, indígenas e camponeses que vivem no entorno dos cultivos de commodities — ou que são expulsos de suas terras pela irrefreável expansão de grandes plantações voltadas à exportação —, mas fazem parte do dia a dia de todos os brasileiros, uma vez que estão presentes na água e na alimentação de cada vez mais gente”.

“(…) as nações do Sul global são as mais afetadas e, nelas, crianças, mulheres, povos indígenas, camponeses e trabalhadores rurais são os que mais sofrem”. (Bombardi, 2023, p. 10).

O GLIFOSATO

Outro fato estarrecedor é o uso do glifosato, o agrotóxico mais vendido no Brasil, considerado carcinogênico pela Organização Mundial da Saúde, além de estar associado a vários outros problemas de saúde: problemas neurológicos, linfoma não Hodgkin, infertilidade, autismo, problemas renais, desregulação endócrina em células hepáticas, entre outros. Pois bem, no Brasil é autorizado o resíduo, na água potável, 5.000 vezes maior do que na União Europeia. Por quê? O que pode justificar tal aberração?

REFLEXÃO FINAL

Pense nas consequências para a saúde e o quanto são imensamente mais dispendiosos os tratamentos de problemas provocados pelos agrotóxicos e que nem sempre são eficientes para salvar vidas. Haja vista as denúncias feitas pelas “Mães de Ituzaingó” (Córdoba – Argentina) que denunciaram as consequências, sobre a saúde da população, decorrentes do modelo utilizado no plantio de soja transgênica: “malformações fetais como lábio leporino, falta de mandíbula, ausência de polegar ou polidactilia, além de abortos espontâneos e câncer?” (Bombardi, 2023, p. 7).

Quando você for às compras, pense no quanto de agrotóxico você está levando para sua casa dentro do morango, do tomate, do pimentão, da cebola e de vários outros produtos que servirão de alimento para sua família.

O que se pretende é continuar a fechar os olhos para essa realidade?

_______________________________________________________________

[i] Disponível em: https://www.ird.fr/notre-identite. Acesso em: 21 dez. 2024.

[ii] Disponível em: https://jornal.unicamp.br/video/2024/08/21/a-historia-da-cientista-que-denunciou-os-agrotoxicos-e-teve-que-sair-do-brasil/. Acesso em: 21 dez 2024.

[iii] Disponível em: https://midianinja.org/colonialismo-quimico-pode-explicar-dificuldades-para-lancamento-de-programa-de-reducao-de-agrotoxicos-diz-a-cientista-larissa-bombardi/. Acesso em: 21 dez 2024.

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