21 de setembro de 2021 9:08 por Braulio Leite Junior
A construção do porto de Maceió, obra que a todos parecia temerária, decretou a morte dos antigos trapiches que vinham do século passado. A Companhia Geral de Obras e Construções – Geobra- fixou trilhos até a praia do Sobral, destruindo as belas dunas que ali existiam e eram o fascínio dos “alpinistas” da meninice de outrora. Pouco a pouco, implacavelmente, os vagões da Geobra iam desmontando as dunas e conduzindo a areia para o fundo do oceano em Jaraguá – trabalho penoso e ameaçador. Os operários lá mergulhados não podiam vir à tona com demasiada rapidez; houve casos fatais de homens esvaindo-se em sangue devido à súbita diferença de pressão sobre o organismo. Os descrentes apregoavam que aquele cais estava fadado à destruição e quando apareceram em Maceió falsas moedas de dois mil réis, de um amarelo duvidoso, logo foram apelidadas de “geobras”.
A antiga enseada era alegre e movimentada com a sua flotilha de barcos diversos de todos os tipos. Havia as alvarengas, as barcaças, as lanchas, as catraias e os rebocadores, todos com nomes pitorescos. Estes últimos possuíam dupla finalidade: serviam para rebocar as alvarengas e também conduziam passageiros, em número de trinta. Os mais conhecidos eram o Viking, de Nobre & Cia, com força de 120 cavalos (as sagas medievais celebram os feitos dos vikings, guerreiros navegadores e mercadores dos países escandinavos, que promoveram expedições dos fins do séc. VIII ao começo do séc. XI); o Emperor (Imperador), de 100 cavalos, pertencente ao trapiche Williams, que datava de 1902, e possuía dois guindastes manuais e um a vapor, para três toneladas; e ainda o Carlos Broad depois batizado por Leão (da Usina Leão), de apenas75 cavalos de força. Carlos William Broad, brasileiro, a despeito do nome, foi, juntamente com Francisco de Barros Pimentel Goulart (comanditário) e Ezequiel Pereira da Silva, socio da grande firma exportadora de açúcar Goulart & Cia, que mantinha embarques para o sul do país e também para o exterior, principalmente Inglaterra e Argentina. Além disso, a firma se ocupava de comissões e representando em Alagoas os Grandes Moinhos Gamba, de São Paulo, e a Cia. Anglo-Sul-Americana de Seguros. Ficava na rua da Alfândega, com endereço telegráfico Napoleão (Terra das Alagoas -Adalberto Marroquim, Roma, Editori Mglione & Strini, 1922).
O trapiche Williams, já mencionado, pertencia a Branckes Boxwell & Cia.. Havia ainda um trapiche que pertencia à Great Western; o Brasileiro Galvão, o da Alfândega, o Bandeira (1902); o Dois Irmãos, de Basto Machado & Cia. e o Pereira Pinto, de Silva & Pereira Pinto. Uma observação: o Bandeira pertencia a J. Pimentel Goulart, de modo que não sabemos se era o mesmo que aparece com o nome de Goulart & Cia.
Ligado à memória da antiga e buliçosa enseada avulta a esquecida figura daquele grande nadador – quem lhe lembrará o nome?- que as águas rompia com os seus braços até os navios ancorados ao largo, recebendo aplausos de passageiros e tripulantes. Contava-se até – lenda ou verdade? -que, muitas vezes, montou ele no dorso pacifico dos botos, assim passeando à tona d’água, para admiração do todos. Coisas de uma Maceió de ontem.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.
