14 de outubro de 2021 9:10 por Braulio Leite Junior
Há muitos anos, os anúncios nas secções carnavalescas dos jornais convidavam os foliões a aquisição de alpargatas douradas próprias para o festejos de Momo e que poderiam ser encontradas nas sapatarias Popular e Especial. Havia também as sandálias último tipo, “ saçaricando” o nome tirado de marchinha carnavalesca, e encontradiça nas casas do Zé Felix. Bebidas inocentes desprovidas de álcool, eram recomendadas: o Guaraná Davino ou então o Grapete: custavam dois cruzeiros em qualquer parte.
O folião Danilo César tinha mandado erguer grandioso palanque bem em frente à sua residência, na rua de São Bernardo, 245, aonde iriam comparecer, para alegria de todos, clubes, troças e ranchos
A grande preocupação do maceioense consumidor de cerveja era a chegada do navio Rio Mondego ao porto de Jaraguá. A questão é que o último carregamento recebido na praça tinha sido poucos dias antes do Natal! Imagine-se! E o navio em dezembro tinha descarregado apenas 1.685 caixas de cerveja. Os comerciantes haviam feito encomendas para o carnaval de doze mil caixas, mas sabia-se agora que o Rio Mondego só vinha trazendo em seu bojo 4.260 caixas. Uma caixa de Brahma, posta no porto de Jaraguá, custava 407,50, saindo para o comprador direto por 450,00. Havia uma quebra de treze garrafas em média por caixa. A garrafa saía a 10,00, podendo ser bebida a 12,00. Comentava-se, todavia, que os tubarões – termo nascido nos anos da guerra – estavam se preparando para cobrar 15,00 por garrafa, só o líquido! Um absurdo! E apelar para a COAP nem adiantava… Era a Sunab da época, a Comissão de Abastecimento e Preços. Chegaria o Rio Mondego a tempo, nem que fosse no domingo de Carnaval?
O negócio era não pensar muito nisso e procurar brincar nos lugares onde a folia prometia engrossar. Por exemplo, na União Beneficente Portuguesa, onde estaria a postos o Agostinho, cognominado “o mago dos comestíveis”. E depois, a UBP tinha programado um grande concurso para os foliões, com prêmios em primeiro lugar para a melhor fantasia, em segundo, para o melhor passo, em terceiro, para a maior resistência e em quarto, para o maior folião. A comissão julgadora estava assim composta: Eloy Paurílio, Helson Lamenha e Prof. Camerino. Gente fina e entendida no assunto.
Mas avancemos um pouco o relógio do tempo e vamos parar naquele domingo, 9 de fevereiro de 1958, quando a Avenida da Paz ficou regurgitante de gente para mais uma manhã de carnaval. Os jornais calcularam o público entre 20 a 30 mil pessoas. Em compensação, fracas eram as críticas presentes ao banho de mar a fantasia, recebendo a melhor do campeão Rubem Camelo a importância de 3.000,00. Recordo que na ocasião Rubem Camelo, de cartola e gravata borboleta, segurava uma lâmpada ao lado de uma pequena barraca onde anunciava ser mais vantagem trocar a lâmpada de casa por um candeeiro, evidente crítica ao precário serviço de luz. Nessa manhã, por azar, o clube carnavalesco Vou Botar Fora, fundado em 1932, e que há oito anos estava de fogo morto, chegou atrasado à Avenida para o concurso dos blocos, em que brilharam o Vulcão, o Bomba Atômica, o Arrasta Velha e a Escola de Samba Oriental.
(*) (*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.