sábado 23 de novembro de 2024

Os Jambo, uma família de jornalistas

16 de julho de 2020 5:00 por Geraldo de Majella

Os jornalistas Romeu de Avelar e Arnoldo Jambo, no Rio de Janeiro

O jornalismo exerceu certo fascínio junto aos jovens desde o final do século XIX e durante o século XX. O ensino acadêmico não existia como o conhecemos atualmente. Os primeiros cursos foram os de direito, engenharia e medicina. As primeiras faculdades de direito criadas no Brasil surgiram após à independência do país.

O jornalismo era exercido pelos gráficos e escritores; não havia uma escola ou faculdade. O ensino universitário foi criado na segunda metade do século XX. O jornalismo era aprendido na prática, na redação.

A família Jambo pertence a essa tradição do jornalismo. O casal Alfredo da Silva Jambo e Elita Paranhos Jambo teve seis filhos; quatro foram jornalistas profissionais e trabalharam em jornais em Alagoas e em outros estados.

O primogênito, João Arnoldo Paranhos Jambo (1922-1999), iniciou no jornalismo como revisor no jornal Gazeta de Alagoas ‒ caminho natural, naquela época, para quem estava iniciando. Em seguida foi trabalhar no Suplemento Literário do Jornal de Alagoas, e, posteriormente, na redação, onde exerceu cargos de direção. O Jornal de Alagoas pertencia à cadeia de jornais dos Diários Associados. Arnoldo Jambo foi o responsável pela reforma gráfica do suplemento literário.

Em 1945, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) é legalizado, e em 1º de maio de 1946 é fundado o semanário A Voz do Povo, órgão oficial de imprensa do PCB. O diretor é André Papini de Góis, eleito deputado estadual constituinte. A redação é composta por Arnoldo Jambo, Floriano Ivo Júnior, Hélio de Sá Carneiro, Murilo Leão Rego, George Cabral e outros. Em 1947, o PCB tem o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE); os parlamentares tiveram os mandatos cassados e o jornal A Voz do Povo é fechado. Em função das perseguições que passou a sofrer, decide emigrar para Recife, e foi trabalhar no jornal Diário de Pernambuco. Na segunda metade da década de cinquenta é  transferido para o Jornal de Alagoas, e assume o cargo de secretário de redação, desempenhando ao mesmo tempo a função de crítico literário do referido matutino.

A convite do governador, foi nomeado diretor do Departamento Estadual de Cultura (DEC), cargo que exerce nos governos de Muniz Falcão e Luís Cavalcante. A sua passagem pelo DEC foi marcante por ter promovido a publicação das séries: Estudos Alagoanos, Reedições DEC, Vidas e Memórias, Folguedos de Alagoas, Estante Alagoana de Monografia, Cultura Didática, Poesia de Sempre e Arquivos Acadêmicos. Ainda na sua gestão desenvolveu outras atividades culturais, como as Feiras de Livros e as exposições bibliográficas e de jornais.

Roberto Rubens Paranhos Jambo (1926-2010), jornalista, escritor e militar, ao completar a maioridade resolve morar no Rio de Janeiro, então capital da República. Com a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), participa das campanhas eleitorais de 1946 e 1947. Em 1951, ingressa na Escola de Sargentos do Exército, onde permanece até 1955. É eleito presidente da Casa do Sargento, lidera a passeata dos sargentos, das forças armadas e das polícias militares, que pleiteavam um Código de Vencimentos, instrumento legal para dar uniformidade aos vencimentos dessa categoria.

O sindicalista paulista Joaquim dos Santos Andrade e Rubens Jambo (com a pasta), em Maceió

Atua, ainda, na luta pela defesa do petróleo, em especial na campanha pelo monopólio estatal “O Petróleo é Nosso”. É transferido para Mato Grosso, como punição por sua atuação política nas forças armadas. Nesse momento, decide deixar a vida militar. Passa a viver em São Paulo, continuando sua ação político-partidária clandestina como assistente do PCB no setor militar. Em 1957, volta a viver em Alagoas.

Em Maceió, trabalhou no Jornal de Alagoas, no Diário de Alagoas e na Tribuna de Alagoas. Na década de setenta representou a revista Ficção, da Editora Paz e Terra, onde publicou vários contos. Foi editor do jornal literário A Ponte, criado pelo poeta e escritor Marcos de Farias Costa. É um dos fundadores, na década de 1960, da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Alagoas. Foi também diretor da Federação da APAE e, na década de oitenta, foi um dos fundadores do Movimento pela Vida, ONG ambientalista.

Hermano Sósthenes Paranhos Jambo (1928-1996), jornalista profissional, foi, como os outros irmãos, jornalista vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo participado da criação do jornal camponês Terra Livre, com sede em São Paulo, capital. A primeira redação era composta pelos jornalistas Hermano Sósthenes Paranhos Jambo, Osvaldo R. Gomes, Derdieux Crispim, Nestor Veras e Jocelyn Santos. Antes trabalhou nas redações de O Dia e a Noite, no Rio de Janeiro.

O jornal funcionou de 1955 a 1964, quando foi fechado pelos militares que derrubaram o governo do presidente João Goulart. Dos jornalistas e colaboradores, alguns foram presos e outros passaram a viver na clandestinidade. Nestor Veras, líder camponês paulista, em 1975 foi sequestrado, torturado e morto em Belo Horizonte. O seu nome consta da relação dos desaparecidos políticos do Brasil.

Hermano Sosthenes na redação do jornal Terra Livre

Hermano Sósthenes passou a viver na clandestinidade no Rio de Janeiro. O Diário Oficial da União, no dia 14 de novembro de 2002, o declara anistiado político, concedendo-lhe reparação econômica, de caráter indenizatório permanente, em prestação mensal correspondente ao cargo de Redator, com base na Bolsa de Salários do Datafolha.

José Alberto Paranhos Jambo (1930-1991) foi um dos jovens que trabalharam no semanário Folha do Povo, em Recife, órgão oficial do PCB em Pernambuco. Em 16 de janeiro de 1953 o jornal foi invadido pela polícia no início do governo de Agamenon Magalhães. A modesta redação foi destruída. Os novos redatores, no dia seguinte, iniciaram a rotina de trabalho.

O advogado José Moura Rocha (gravata) e Alberto Jambo ( camisa estampada)

O jornal era dirigido por Romeu Negromonte, Clélia Silveira, Wilson Farias e Vlademir Maia Calheiros. Um grupo de jornalistas no início da carreira, como Alberto Jambo, não se deixaram intimidar pela repressão. Anos depois, retornou a Alagoas e foi trabalhar no Jornal de Alagoas, trabalhou também na Tribuna de Alagoas e no Diário.

Hélio Paranhos Jambo (1927-1986), jornalista, ator e funcionário público foi o único dos irmãos Jambo que não iniciou a carreira nos jornais do PCB. Trabalhou no Jornal de Alagoas, nas editorias de polícia, cidades e cultura. O jornalismo era uma das suas atividades profissionais, mas o seu tempo foi compartilhado com o trabalho no INPS, onde se aposentou.

Hélio Jambo

O teatro era a sua paixão, subir ao palco como ator, dirigir, escrever textos teatrais e realizar adaptações fazia  parte de sua vida. O teatro Deodoro foi um dos seus lugares prediletos e onde mais atuou.

Os irmãos Jambo constituíram, sem imaginar, uma “dinastia” que perdurou por meio século, trabalhando em redações de jornais em Alagoas e Pernambuco.

 

 

Fonte:

ABC das Alagoas: http://abcdasalagoas.com.br/

Cavalcanti, Paulo. Nos tempos de Prestes ‒ O caso eu conto como o caso foi. Memórias Políticas. 3º volume. Recife, Editora Guararapes, 1982.

 

 

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3 Comentários

  • Uma alegria essa recuperação histórica de figuras que nos honram. Conheci Rubens. Ainda tenho 2 livros seus – a biografia de Gregorio Bezerra. Belo trabalho Majella.

    • Fico feliz em saber que esses textos vão resgatando figuras importantes do jornalismo e da cultura de Alagoas.

      • Lembro de Arnoldo Jambo era muito amigo de meu pai Cavalcanti comerciante na Rua Boa Vista proprietário da CASA FIEL distibuidora de Revistas e revendedora da Loteria do Estado de Pernambuco ficava bem perto do Jornal de Alagoas

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